Navegando na Filosofia - Carlos Fontes

Sabes distinguir a persuasão

da manipulação ? 

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Síntese da Matéria

Persuasão e Manipulação. Publicidade e Propaganda

 

 

1.Persuasão e Manipulação

Persuadir não é a mesma coisa que manipular. A grande diferença reside na intenção do orador. No caso da persuasão o objectivo é apenas provocar a adesão, apelando a factores racionais e emocionais. No caso  da manipulação, existe uma intenção deliberada de desvalorizar os factores racionais, apelando a uma adesão emocional. O próprio discurso é baseado em falácias, onde é patente a intenção de confundir o auditório.  

As técnicas de persuasão (manipulação ) ensinadas pelos sofistas, apesar da sua eficácia, podem ser consideradas muito rudimentares  face às aplicadas no século XX para manipularem milhões de pessoas.

A persuasão dos sofistas estava muito confinada às capacidades manifestadas pelo orador. A palavra tinha ainda uma lugar central. As técnicas de persuasão actuais, tornaram os oradores parte de uma vasta encenação, onde se recorre a uma enorme variedade de meios para seduzir, persuadir e manipular.

O ditador Adolfo Hitler, foi o primeiro a integrar a retórica em gigantescos espectáculos de propaganda, produzindo um poderoso efeito hipnótico sobre os auditórios. 

 

Os discursos Hitler eram cuidadosamente ensaiados. Modelações no tom de voz, gestos dramáticos, olhares acutilantes, e expressões faciais acentuavam os momentos mais importantes nos seus discursos. Os discursos abordavam de forma muito emocional quase sempre os mesmos temas: o ódio aos judeus, o desemprego e o orgulho ferido da Alemanha.  Os locais eram decorados de forma a acentuar a sua presença. As paradas militares, bandeiras e símbolos conferiam à sua figura e palavras uma dimensão sobrenatural. 

 

2. Manipulação da Opinião Pública.

3. Publicidade

4. Propaganda

5. Ética da Comunicação   

Carlos Fontes

Sugestão :

Propoem-se a análise e o confronto de três filmes que abordam a questão da persusão e manipulação de massas.

Análise do filme "O Triunfo da Vontade" (1934), de Leni Riefenstahl

O filme de Leni Riefenstahl, premiado em França (1937), EUA e Suécia, é justamente considerado um referência na arte da propaganda, não apenas pelas técnicas cinematográficas utilizadas, mas também pela sua repercussão na propaganda de massas até aos nossos dias.

A realizadora, convita nazi, não pretendeu fazer um documentário sobre o Congresso do Partido Nazi (NSDAP-National-sozialistische Arbeiten Partei) em Nuremberga (não há um narrador), mas um filme sobre a ideologia nazi a partir de um congresso. Os recursos utilizados foram enormes para a época, mais de 200 mil nazis estiveram envolvidos nas diversas encenações durante este congresso. Algumas cenas são longas e repetitivas para causarem uma forte impressão de imponência nos espetadores, nomeadamente os desfiles de grandes massas compactas. A banda sonora de Herbert Windt , usando peças de música clássica, em particular de Richard Wagner, procura acentuar o efeito emocional das manifestações colectivas de glorificação de Hitler.

É interessante analisar o discurso de Hitler confrontando-o com os discursos que falam sobre ele. Hitler faz discursos centrados no "Phatos", itso é, fala sempre em nome da "Alemanha", do "Povo Alemão", do "Partido", utiliza a expressão "Nós". Os que falam sobre ele, reforçam a ideia de que existe uma completa identificação, afirmando que ele é a Alemanha, o povo alemão, o partido, etc.. Desta forma articulada, conferem-lhe autoridade em tudo o que mesmo afirma.

Roteiro:

1. Todo o filme está centrado na figura de A. Hitler. O ditador é apresentado como um ser sobrenatural que irá reparar as humilhações que a Alemanha sofreu na Iª. Guerra Mundial (1914-1918), conduzindo o povo alemão à construção de um novo Império, o III Reich. Hitler exige obediência absoluta às suas ordens. Todos os alemães, sejam quais forem as suas funções, devem assumir-se como soldados de uma guerra que será prolongada, cuja vitória será assegurada por uma obediência sem hesitações ao seu lider. O Congressso do Partido Nazi consagra Hitler como o senhor absoluto da Alemanha, reafirmando que nenhuma divisão interna ou desobediência será tolerada.

2. O filme, em 12 sequências, começa com um fundo negro, simbolizando o passado recente (pós-primeira guerra mundial). Um avião que transporta Hitler, surge entre as núvens, projectando a sua sombra sobre a cidade de Nuremberg. Hitler é associado a uma dimensão divina, um ser sobrenatural. Nenhum pormenor é dado sobre a sua intimidade, no avião ou no hotel.

3. As imagens de Nuremberga, assim como as letras góticas no filme, remetem o espectador para o passado da Alemanha, para serem conduzidos à ideia que Hitler é o continuador e herdeiro desta história. Hitler é a Alemanha e esta existe em Hitler. Um tema que irá percorrer todo o filme.Foi nesta cidade que os nazis realizaram os seus congressos em 1927, 1929 e de 1933 a 1939, quando começou a IIª. Guerra Mundial.

4. Hitler, sempre em primeiro plano (contra o céu ou o sol), entra em Nuremberg num ambiente de festa, com as fachadas dos edificios repletas de bandeiras, com destaque para as do partido nazi, procurando mostrar a forte adesão do povo ao partido. São filmados todas as gerações fazendo a saudação nazi.

6. As cerimónias à noite em torno do hotel onde se encontra Hitler, procura simbolizar a constante vigilia e total entrega dos militantes do partido ao seu lider.Uma entrega entusiástica.

7. Na manhã do segundo dia, assiste-se em simultâneo ao despertar na cidade (Nuremberga) e no acampamento dos militantes do partido (arredores). Na cidade, as janelas com as suas flores, o ar tradicional bucólico do rio e casas, procura dar a ideia de paz, ordem, harmonia. O que contrasta com o acontece no acampamento, onde prepondera o espirito militar, a força, as cenas de luta, mostrando o lado guerreiro que se procura incutir na novas gerações. O desfile que ocorre na cidade, procura mostrar mais uma vez, o entusiasmo da população, simbolizado por grupos das mais diversas regiões (trajes regionais), predominando entre as profissões os camponeses. A mensagem é simples: o campo está com Hitler e os jovens preparam-se para a guerra, sob a sua liderança.

8. Comicio na sala do Congresso. Para além da suástica, desta-se agora a águia, simbolo dos dois impérios "germânicos" anteriores (I Reich: 908-1806; II Reich: 1871-1918) e também do terceiro que Hitler prometeu criar. Faz-se uma homenagem aos "mártires" do passado (I Guerra Mundial) , evocam-se as humilhações do passado, e garante-se que com Hitler a vitória é certa. Jura-se fidelidade total ao lider. Deixa-se alguns recados: a população alemã deve ser de uma só raça, os discursos devem de apelar às emoções, mais do que à razão. A única verdade é a do partido.

9. Hitler revista e fala aos trabalhadores do campo, os quais mostram-se dispostos a morrer como soldados e juram-lhe total obediência. Evocam-se várias batalhas da I Guerra Mundial, a humilhação de forma a legitimar o desejo de vingança.

10. Noite do segundo dia. Fogo, baionetas, exaltação da fidelidade e do espírito guerreiro.

11. Hitler fala aos jovens e crianças. Pede obediência sega, coragem e sacrificios para a vitória da Alemanha.Destaque para os cabelos louros (simbolo da "raça ariana"). Revista a militares (cavalaria, forças motorizadas). A sequência mostra o que se perspetiva fazer.

12. Reunião Nocturna. Hitler volta a exigir obediência, e evoca Deus para afirmar o caracter divino da sua missão.

13. Revistas das SS e SA (forças de assalto). Exigência de obediência cega. Na entrega de bandeiras por Hitler, reforça a ideia que cada nazi tem o mesmo objectivo que tinham os golpistas nazis de 1923: a conquista do poder total na Alemanha. O regime ainda não estava completamente consolidado.

14. Desfile em Nuremberg das forças militares e militarizadas alemãs pelas ruas, numa manifestação de força e obediência ao lider.

15. Encerramento do Congresso, num amplo salão. Hitler repete aquilo que ele e outros já haviam dito, exige obediência ilimitada às suas ordens. As últimas palavras proferidas no Congressso são para repetir que Hitler é a Alemanha e a Alemanha é Hitler.

Depois da IIª. Guerra Mundial (1939-1945) Leni Riefenstahl, afirmou que se limitara a fazer um filme sobre um Congresso partidário, não lhe podendo ser atribuida qualquer responsabilidade pelas terriveis consequências que representou para a Humanidade o regime nazi na Alemanha. Por mais importantes que tenham sido as inovações técnicas e a qualidade plástica das imagens, a verdade é que não podemos desligar o filme dos objectivos que se pretendiam atingir: a difusão do nazismo. Neste sentido, também não podemos dissociar Leni Riefenstahl da responsabilidade na promoção do próprio nazismo.

 

Análise do filme "O Grande Ditador" (1940), de Charlie Charplin

Análise do filme "A Onda" (2008), de Dennis Gansel  

Carlos Fontes

 10º Ano - Programa de Filosofia

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