Navegando na Filosofia - Carlos Fontes

 

Trabalhos de Filosofia

Anterior

 

Ciência, Sociedade, Economia e Tecnologias

 

 

I. Ciências e Tecnologias

Filmes para debate: Metropolis (1927), de Fritz Lang; 2001, Odisseia no Espaço (1968), Stanley Kubrick, co-escrito por Kubrick e Arthur C. Clarke

1. Homem- Máquina

1.1.O que define o Homem?

A reflexão sistemática sobre o que é o "homem" remonta à Antiga Grécia. Aristóteles, por exemplo, definia o homem como um "animal racional" ,"animal político" e "animal que fala". Durante a Idade Média, os seres humanos definem-se como parte de uma ordem divina. Na Idade Moderna, como "sujeitos", "individuos". Entre as concepções atuais, muito diversas, temos definições mais físicas como: "animal falhado", "animal incompleto", "animal cultural", etc.,

Estas expressões acentuam algumas características dos seres humanos como finitos, com capacidades limitadas (memória, resistência física, concentração, produção-criatividade, etc), moldados pelas circunstâncias, adaptabilidade, plasticidade cerebral, etc..

1.2. O que caracteriza a máquina ?

As máquinas, como artefactos criados pelos seres humanos, definem-se pela sua completude, estrita especialização, previsibilidade, ausência de sentimentos, dor, cansaço, erros... com ritmos constantes de produção, capacidades potencialmente ilimitadas (memória, força, etc).Cada uma delas, na sua função específica, destina-se a superar capacidades ou incapacidades particulares dos seres humanos.

Para compreendermos a relação Homem - Máquina temnos também que em conta os conceitos "natural" e "artificial". Até à Idade Moderna, o "natural" era considerado superior em relação ao que era "artificial". O "natural" era eterno, uma criação Divina. O "artificial", produto dos seres humanos, era uma imitação do natural, logo inferior. Esta hierarquia de valores irá mudar radicalmente até aos nossos dias.

2. Mecanismos, Autómatos, Mecanicismo

As máquinas foram quase sempre consideradas substitutos ou auxiliares dos seres humanos nos seus trabalhos. Neste sentido procurava-se imitar diretamente um modelo natural, muitas vezes humanos, na realização de operações especificas. As máquinas não eram criadas para competir com os humanos, mas para os auxiliar. No entanto, também muitos tem sido aqueles que ao longo dos tempos alimentam a ideia de imitar a obra dos deuses ou de Deus, criando seres em tudo semelhantes aos seres humanos. A competição neste caso é diretamente com o divino, mas também funciona como um processo do homem se conhecer melhor a si mesmo através da construção de máquinas.

A ideia de criar autómatos, máquinas que agem autonomamente imitando movimentos humanos, remonta, pelo menos à antiga Grécia. O processo não foi linear.

Em sociedades onde o trabalho manual era exercido por escravos, a tecnologia foi sistematicamente desvalorizada, sendo considerada inferior em relação a atividades puramente intelectuais, como aconteceu no antigo Egito, Grécia ou no Império Romano. Platão, por exemplo, recusa que os artesãos sejam criadores, o que fazem é darem forma a ideias cuja alma apreendeu num outro mundo (inteligível). Xenofonte, afirma que o trabalho mecânico degrada o ser humano:

"O que se costuma chamar de artes mecânicas traz consigo o estigma social e a desonra às nossas cidades, pois condenam elas o corpo de quem as exerce e dos que a superintendem, porque impõem uma vida sedentária e encerrada e, em alguns casos, a passar o dia junto do fogo. Esta degeneração física redunda também em prejuízo da alma. Além disso, os operários destes ofícios não dispõem de tempo para cultivar a amizade e a cidadania. Em consequência são considerados maus amigos e maus cidadãos e, em algumas cidades, especialmente as guerreiras, não é lícito a um cidadão dedicar-se a trabalhos mecânicos", Oeconomicus, IV, 203.

As invenções técnicas, frequentemente desligadas de qualquer utilização utilitária, estavam ao serviço do conhecimento téorico do cosmos.

Na mitologia grega, Hefesto, o deus das artes mecânicas, criou autómatos com a forma humana, como Pandora.

Entre os inventores da antiguidade clássica para além de Arquimedes (287 a.C.-212 a.C), destaca-se Heron de Alexandria (séc.I), entre as suas invenções mais referidas estão o "eolípila" (primeira máquina a vapor), orgãos hidraulicos, o "odometro" que media a distancia percorrida por um carro, etc. Uma das obras que terá escrito intitulava-se justamente "Sobre a Construção de Automatos".

A tecnologia até ao século XVI esteve sempre subordinada a concepções políticas e religiosas, que determinavam os seus limites e utilização, em concordância com uma concepção do cosmos estável, hierárquica e finita.

Tecnocracia

As mudanças ocorridas nos séculos XV e XVI, como os descobrimentos e o comércio mundial, valorizaram os saberes técnicos, os ofícios mecânicos. Pela primeira vez na história europeia os inventores passaram a ser considerados verdadeiros criadores, tornam-se figuras prestigiadas pela utilidade das suas soluções técnicas.

A ciência passa a estar ligada à ideia solução de problemas práticos, como a descoberta das leis que regem a natureza para a colocar ao serviço da humanidade. O critério da utilidade da ciência, defendido por Francis Bacon, desliga-a de uma concepção que a havia confinado a um saber puramente teórico, especulativo.

Explorar o significado do "Teatro dos Instrumentos e das Máquinas" de Jacques Besson, Vittorio Zonca, etc.

Sistema Solar, segundo Johannes Kepler (1600)

A partir do século XVII , os grandes avanços da tecnologia estimulam o aparecimento de uma corrente de pensamento denominada mecanicismo (termo forjado por Boyle, 1661). O universo é concebido como uma máquina (Kepler), assim como os animais ou o corpo humano (Descartes). Desta forma esbatece-se a diferença entre os homens e os animais, tudo é reduzido a uma dimensão material. É neste contexto que o médico La Mettrie escreve "O Homem Máquina" (1748).

Relógio de bolso do séc.XVI, Museu Paul Dupuy. Os relógios foram o principal modelo para as concepções mecanicistas dos séculos XVI a XVIII.

A exaltação do poder da ciência, aliada à técnica, cria uma nova mentalidade que vê na sua difusão um futura mais prospero para a humanidade. O domínio da natureza e a progressiva criação de um mundo artificial, tecnológico vai rompendo com o passado, os velhos hábitos. A tecnologia vai interferindo, modificando e modelando os hábitos de vida da população à medida que esta se concentra nas cidades, em torno de manufacturas, de fábricas. O processo é lento e desigual na Europa, mas irreversível.

A popularidade que os autómatos conheceram a partir do século XVI não pode ser desligada das conceções mecanicistas do tempo, segundo as quais o universo não passa de uma enorme máquina criada por Deus e por Ele posta num perpétuo movimento. A regularidade máquinas criadas pelos homens está em harmonia as leis mecânicas que regem o universo que Isaac Newton descobriu.

Célebre autómato construído por David Roentgen e Peter Kinzing (c.1782-4)

No século XVIII, a automatização, acelerada pela Revolução Industrial, estimula criadores como Peter Kintzing (1745-1816), David Roentgen (1743-1897), Pierre Jacquet-Droz (1721-1790) ou Jacques Voucanson (1709-1782) a criarem autómatos capazes de executarem movimentos de extrema complexidade, como desenharem animais ou escreverem textos.

Triunfo da Tecnociência

O extraordinário progresso da automação ao longo dos século XIX, estimulou os criadores a conceberem um futuro para a humanidade regulado por máquinas, capazes de substituirem os seres humanos em todas as funções. A ideia de progresso é indissociável das máquinas e da mecanização da vida quotidiana.

Capa do jornal "La Caricature" (Junho de 1886), sobre a construção do metro de Paris.

Triunfo das Máquinas

No inicio do século XX, as máquinas tinham para muitos conquistado o mundo e a alma dos homens. Filippo Marinetti, em 1909, publica o primeiro manifesto futurista. Sucedeu-se a apologia às máquinas, velocidade, força, mas também à guerra e à aniquilação do passado: tradições, museus, bibliotecas... havia que dar lugar às máquinas, transformar o mundo num imenso mecanismo, ao qual os seres humanos deviam ser subordinados. O ideal político do futurismo, proclamará Marinetti, era a ditadura, o fascismo.Fedele Azari, em 1927, publica o seu manifesto "Por uma Sociedade de Proteção das Máquinas", equiparando-as as seres vivos.

Comboio em Movimento (1922), Ivo Pannaggi.

Na Ode Triunfal (1915), Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) exprime o desejo do homem futurista: transformar cada ser humano numa máquina. A primeira guerra mundial (1914-18) não acabou com este ideal, aprofundou-o.

Numa alternativa mecanicista ao futurismo, o Purismo, procura captar o essencial das máquinas: regularidade, simplicidade, eficiência. Corbusier afirmará, nesta linha, que a "habitação é uma máquina para habitar". Os seus projectos urbanisticos pretendem arrasar o mundo do passado (edificios, ruas, cidades...) criando novas cidades funcionais, despojadas de tudo o que seja acessório.

Plano para a cidade de Paris (1925), Le Corbusier

A esta visão triunfal das máquinas, imparável, opõem-se uma visão negativa do seu impacto. Em 1920, o escritor checo - Karel Capek, na sua peça intitulada R.U.R (Rossum`s Universal Robots), coloca em cena um sábio que constrói uma máquina androide capaz de substituir o homem em todos os trabalhos. O nome deste autómato - robot - (do checo Robota, trabalho), será universalmente adoptado. O filme "Metropólis" (1927) de Fritz Lang, apresenta já um cenário terrifico quando um autómato passa a dominar as pessoas, colocando em risco a sobrevivência da humanidade.

Imagem do filme "Tempos Modernos" (1936), de Charlie Charplin

Durante a segunda guerra mundial (1939-1945), o automatismo estava já de tal forma desenvolvido, que se assistiu a máquinas capazes não só de trabalharem, mas também de modificarem e alterarem próprias regras do seu funcionamento em função de anomalias ou de ordens inscritas no seu programa. É neste contexto que surge a palavra "Automação", "Cibernética" (Norbert Wiener), mas também de "Inteligência Artificial" ( John McCarty).

2.1. Máquinas Inteligentes

Os desenvolvimento das tecnologias nos anos 30 e 40 do século XX, mostram a possibilidade criar máquinas inteligentes, não apenas capazes de armazenar incriveis quantidades de informação, mas também de autoprogramarem-se e tomarem autonomamente decisões semelhantes à dos seres humanos.

Alan Turing (1912-1954) foi um dos pioneiros da computação, isto é, um ramo da ciência destinado ao estudo e criação de dispositivos artificiais dotados de inteligência. Podem as máquinas pensar? A resposta de Alan Turing é que sim, mas tudo depende do conceito que tivermos de pensamento. Podemos admitir que pensar implica, por exemplo, ter consciência de si, experimentar emoções, usar a linguagem, capacidade de aprendizagem, resolver problemas, etc. É facil de compreender que com excepção dos algumas destas capacidades, já possuimos máquinas que possuem estas capacidades próprias de um ser inteligente.

Alan Turing, em 1950, num artigo (Computing Machionery and Intelligence), concebeu um teste para responder à questão se as máquinas (computadores) podem ou não pensar. Um ser humano e uma máquina seriam colocados em compartimentos diferentes, e devem responder as questões colocadas por um interrogador humano. Este desconhece a quem está a interrogar. A máquinas pode ser considerada inteligente se conseguir enganar em 50% o interrogador humano. Nesta perspetiva a questão da consciência de si, emoções ou sentimentos não se colocam.

John Searle (Mente, Cérebro e Ciência) argumenta que os computadores nunca poderão ser uma inteligência idêntica à dos humanos, porque não têm consciência de si, não compreendem simbolicamente as coisas, etc. Esta posição está longe de ser consensual (ver posição de Daniel Dennett).

Um dos mais importante teóricos da relação homem-máquina - Norbert Wiener (1894-1964), publica a sua célebre obra: Cybernetics, or Control and Communication in the Man and Machine, na qual define um método de investigação científica centrado no estudo dos processos de comunicação e controlo da "informação" nas máquinas e seres vivos. As tecnologias de informação são desta forma colocadas no centro da ciência.

A ciência ao serviço da tecnologia está agora em condições de criar um mundo em que as máquinas, mais do que substituirem os seres humanos, passam a mediar as suas relações, a regularem as suas vidas. São estes que agora se tem que adaptar às máquinas, aos seus ritmos e referentes.

Difunde-se a crença que o saber, o verdadeiro saber, está algures numa máquina, um computador, produto de uma investigação que ninguém consegue dizer quem fez, quando e em que condições de controlo.

2.2. Aceleradores

As guerras tem sido sempre enormes aceleradores de novas invenções e tecnologias. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas sobretudo a Segunda Guerra (1939-1945) foram neste aspecto poderosos motores da mecanização do mundo. A Guerra Fria (1947-1991) prosseguiu na mesma trajectória. O domínio do mundo passava pelo domínio tecnológico que permitisse criar uma central de guerra para onde todas as informações convergem e onde se procura saber tudo sobre tudo a todo o instante. A ciência, a informação, o conhecimento foi militarizado à escala global.O salto foi gigantesco no desenvolvimento dos sistema de informação e comunicação, na automação, na rede de satélites, drones, internet, etc. As novas tecnologias possibilitaram pela primeira vez na história criar um sistema de controlo global da informação. Passou-se a falar de "cibermundo", "ciberguerra", "ciberterrorismo" para referenciar estes novos poderes globais. Cada novo modelo dos extensores deste cérebro global - um telemóvel, computador pessoal, etc - tornou-se num acontecimento de repercussão mundial.

Quem chega primeiro à lua? Soviéticos ou Norte-Americanos ? No dia 20 de Julho de 1969 os primeiros homens pisavam o solo lunar ( Apollo 11).

2.3. Cérebro Global

A globalização dos meios de comunicação, aliado a extraordinários avanços das tecnologias digitais (informática, realidade virtual, hologramas, internet...), permitiram criar a partir dos anos 80 do século XX aquilo que tem sido denominado "inteligência colectiva" ou "cérebro global". Cada ser humano, ligado aos novos meios de comunicação e informação, funciona como uma espécie de "célula", uma pequena peça de uma máquina global que concebe, produz e difunde continuamente informação de forma anónima e global.

A máquina é a rede que liga biliões de seres humanos.O centro de decisão deste "cérebro" está algures. Controlar parte da informação deste cérebro global pode significar ter a capacidade de influenciar (manipular) as decisões de milhões de pessoas. Os regimes democráticos foram desta forma fragilizados.

Os avanços tecnológicos nesta gigantesca máquina tem reflexos imediatos na vida de cada um dos individuos que a ela está ligada e a alimenta.

Este processo irá concretizar três antigas visões optimistas de um futuro moldado pelas tecnologias: a Humanidade irá transformar-se num super-organismo, devido ao aumento da conexão entre eles. O conhecimento será unificado e partilhado globalmente. Por última, emergirá uma nova "consciência" sobrehumana. Entre os seus muitos teóricos atuais destacam-se Peter Russell, Gregory Stock, Mayer-Kress e Barczys, Anthony Levandwski, etc.

2.4. Singularidade Tecnológica

2.5. Biotecnologias

Mitos: Golem, Frankenstein ...

- h+ (Transhumanismo, pós-humanismo)

- Ciborgues

-  Manifesto ciborgue de Donna Haraway (1985)

3. Cenários de uma relação

A introdução de um nova tecnologia nunca é neutral, implica sempre:

a) uma mudança nos nossos interesses, isto é, nas coisas em que pensamos;

b) uma mudança na forma como nos expressamos, isto é, nas coisas com que pensamos;

c) uma mudança na forma como nos relacionamos, isto, é na ambiente em desenvolvemos os nossos pensamentos.

Na sua difusão, uns acabam por ganhar e outros por perder.

3.1. Reflexos e Dependências das Tecnologias

Tópicos a explorar:

As máquinas estão presentes no nosso quotidano, executam automaticamente funções que antes eram manuais, num tempo e numa cadência que nenhum ser humano é capaz de fazer. As máquinas passaram a definir o próprio tempo de produção, impondo aos trabalhadores a própria cadência de produção, até que os mesmos sejam dispensados por não poderem competir com as próprias máquinas.

A utilização massiva de máquinas para executar todo o tipo de tarefas num tempo cada vez mais curto, levou a que certas funções estejam a ser esquecidas como, por exemplo, o cálculo mental de operações aritméticas elementares. Sem o recurso a máquinas estas operações já não seriam realizavéis para muitas pessoas.

A utilização das máquinas para desempenhar novas funções, gera uma crescente necessidades de novas máquinas para controlar as próprias máquinas ou poderem responder às suas exigências. O processo global acaba por definir o tempo e as vivências dos seres humanos numa dimensão inimaginável até há pouco.

As novas máquinas inteligentes possuem extraordinárias capacidades de controle sobre as decisões de milhões de pessoas, mas os erros ou avarias também tem consequências cada vezes mais devastadoras. As regras de funcionamento destes sistemas mecânicos globais são totalmente ignoradas pelos cidadãos. Resta-lhes apenas confiar no seu funcionamento, dado que pouco ou quase nada podem fazer para o alterar devido à sua complexidade.

3.1.1. Nova Ordem Social

Muitos têm sido os autores que afirmam que entramos numa nova Era, marcada pela hegemonia das máquinas. O sociólogo Anthony Giddens (As Consequências da Modernidade, 1990), por exemplo, sustenta que as tecnologias de informação e comunicação alteraram os contextos sociais. Os individuos estão profundamente desorientados, deixaram de compreender os mecanismos que regulam e controlam as sociedades atuais.

Nas sociedades anteriores, pouco mecanizadas, os habitos e interações sociais eram estáveis e compreensivos, gerando uma sensação de segurança, conforto. As tecnologias atuais, com o seu acelerado ritmo de renovação, geram sentimentos de constantes riscos, insegurança e ansiedade. Os individuos utilizam e trabalham constantemente com máquinas que não entendem nada dos seus princípios de funcionamento, mas que têm que confiar cegamente nelas.

Para se puderem adaptar e interagir com este mundo mecanizado, segundo Giddens é possivel identificar quatro tipos de reação/comportamento adaptativo:

a) Aceitação Pragmática. O individuo está centrado nas tarefas de sobrevivivência. Envolvido em negócios ou trabalhos efémeros para tirar partido momentâneo das situações ou oportunidades. Alheamento social.

b) Otimismo sustentado. O individuo procura constantemente uma "racionalidade" (providência) no sistema. Uma fé que mantém para além de todos os perigos e riscos, levando-o a perspectivas religiosas, esotéricas, misticas que funcionam como compensação para a ansiedade gerada pelo sistema. Uma reação adaptativa alimentada também por livros de "auto-ajuda", receituários prontos a usar para os mais diversos problemas.

c) Pessimismo Cínico. O individuo acredita que todo o sistema se encaminha para um futuro catastrófico, sobre o qual não há que alimentar ilusões. A crítica funciona como uma forma de vencer a ansiedade.

d) Envolvimento radical. O individuo procura combater o sistema e a ansiedade que o mesmo provoca através de ações sociais, que se podem traduzir em ações violentas.

Perspetiva Libertadora

A perspectiva libertadora encara as tecnologia como um progresso infinito, porque permite aos seres humanos libertá-los de tarefas penosas, cansativas, repetitivas, em suma, ganhar tempo.

A tecnologia permite também ter acesso à realização de atividades antes inacessiveis aos seres humanos, como voar, neste sentido oferece-nos infindáveis oportunidades.

A tecnologia permite-nos também solucionar problemas, evitar mortes, prever castastrofes naturais, sem elas seria impossivel vivermos a vida que vivemos.

Paul Lafargue, escreveu em 1883, o seu célebre livro - Direito à Preguiça -, advogando que só fazia sentido pensar um mundo mais mecanizado (produtivo), desde que isso reverte-se em mais tempo livre para os trabalhadores.

Perspetiva Catastrofista

As máquinas criadas pelos homens para os auxiliarem à medida que vão incorporando funções humanas, cada vez mais complexas, muitos são os que acreditam que as mesmas passaram a representar uma ameaçada para a humanidade. A complexidade da constituição, fruto de trabalho colaborativo ou competitivo de seres humanos, supera as capacidades de entendimento do comum dos mortais. Ao tornarem-se cada vez mais inteligentes, adquirem uma enorme autonomia e informação, que as torna susceptiveis de tomarem decisões que afectam milhões de seres humanos. É por esta razão que a perspectiva catastrofista prevê que uma das guerras do futuro seja dos homens contra as máquinas para se libertarem do seu domínio.

Esta guerra dos homens contra as máquinas desde o anos vinte do século XX que está presente no cinema e nas artes em geral.

Homens lutam contra robots: Metropólis, de Fritz Lang (1927); Odisseia no Espaço, Stanley Kubrick, co-escrito por Kubrick e Arthur C. Clark(1968); Matrix, dos irmãos Wachiowski (1999); Robot, de Alex Proyas (2004).

Andróides (meio homens, meio máquinas) participam na guerra contra as máquinas e outros homens: Robocop; Terminator

Herbert George Wells (1866-1946) serve-se das máquinas para pensar guerras do presente e do futura. No romace de ficção científica "A Máquina do Tempo" (1895), numa viagem realizada por um cientista ao futuro, este encontra uma sociedade tecnologicamente muito evoluida que aparentemente se libertou do trabalho. Não tarda a descobrir que a realidade é outra: a maioria da população habita no subsolo e trabalha sob o controlo de máquinas, para alimentar uma minoria ociosa. O problema nesta perspectiva não está no domínio dos homens pelas máquinas, mas na exploração da maioria da população por uma minoria que possui e controla as máquinas, e cujo poder não pára de aumentar com os avanços tecnológicos. No romance "A Guerra dos Mundos "(1897), descreve a invasão de Londres por marcianos dotados de máquinas com um poder sem paralelo na Terra. Moral da história: Na Terra ninguém, por mais poderoso que seja, está a salvo de uma invasão de extraterrestres tecnologicamente mais evoluidos.

O poder de armazenamento, rapidez de tratamento e comunicação de informação possibilitou criar à escala global sistema cada vez mais concentrados, sofisticados e poderosos de controlo e vigilância dos cidadãos, colocando em causa a sua privacidade, informação e até a democracia.

Ilust.:ElMundo,1.05.2018

4. Tecnologia: Um Problema Moral ?

A nossa reflexão sobre as tecnologias permitiu-nos perceber, em várias dimensões, que as mesmas nunca são neutras. A sua conceção, produção e utilização tem sempre consequências nas nossas vidas. Nas nossas sociedades, onde elas são omnipresentes, o seu impacto leva-nos a questionar sobre o mundo que estamos a construir, a nossa própria identidade, o sentido da existência, etc. Neste sentido, a questão da tecnologia é não uma questão técnica, mas essencialmente um problema ético e moral.

Tópicos a explorar: Responsabilidades dos cientistas, cidadãos, estados

Carlos Fontes

 

 

Carlos Fontes

 Programa de Filosofia - 11º. Ano

Navegando na Filosofia