Thomas Kuhn
(1922 - 1997) concebe a evolução da ciência, à semelhança de uma história
política, como uma sucessão de revoluções, de rupturas, de alterações
mais ou menos rápidas e de substituições dos diferentes paradigmas.
Os paradigmas são teorias
ou modelos explicativos da natureza.
O sistema astronómico
ptolomaico e copernicano, a relatividade da
física, a teoria das placas em geofísica, a teoria da evolução em
biologia são paradigmas.
a) Ciência Normal
A fase tranquila (a
da ciência normal)
caracteriza-se pelo predomínio do paradigma dominante. Todas as explicações
científicas são feitas no seu âmbito sem sofrerem contestação por
parte da comunidade cientifica.
"(...) os cientistas
esforçam-se, usando todas as suas capacidades e todos os seus
conhecimentos, para o pôr cada vez mais de acordo com a natureza. Muito
do seu esforço, principalmente nas fases iniciais do desenvolvimento do
paradigma, procura torná-lo mais preciso em áreas em que a formulação
original fora, como não podia deixar de ser vaga" , Thomas Kuhn, A
Função do Dogma na Investigação Científica, In, Hist. e Prat. das
Ciências. Lisboa, 1979
A investigação científica
incide sobre os fenómenos que se adequam ao paradigma, e os fenómenos
que não se ajustam são desvalorizados ou passam despercebidos.
O trabalho normal do
cientista tem como objectivo confirmar as teorias já existentes, de modo
a que sejam aceites por todos.
Lentamente começam a
aparecer anomalias, pequenas desarmonias com o paradigma dominante. A
comunidade científica procede então a reajustes e reformulações no
paradigma.
b) Ciência
Extraordinária ou Anormal
Mas quando já não
é possível integrar os novos factos com simples reformulações, a ciência
entra em crise. Esta fase é denominada por ciência
extraordinária ou
anomal.
Sucedem-se as polémicas, os ensaios e os confrontos de hipóteses de solução
para os novos problemas surgidos que à luz do paradigma do momento que
não os consegue explicar,
inicia-se então uma revolução científica, isto é, a busca de um novo paradigma.
c) Revolução
Científica
Esta crise acaba por
conduzir a uma ruptura, um corte no paradigma dominante, dando origem a um
novo paradigma. É nestas fases que a ciência progride
verdadeiramente , porque o abandono de um velho paradigma por parte da comunidade
científica acarreta uma revisão radical dos seus princípios, dos
seus métodos, dos seus critérios de julgamento:
"Aquilo que, antes
da revolução, era para o homem de ciência, um pato, torna-se um
coelho", escreve Thomas Kuhn.
A nossa própria visão do
mundo é alterada com a mudança de paradigma.
Revoluções deste tipo
foram originadas por Galileu, Newton, Darwin, Einstein e Heisenberg.
O novo e o velho paradigmas
são normalmente "incomensuráveis", uma vez que correspondem a
visões do mundo muitas vezes radicalmente diferentes.
Síntese:
Kuhn afasta-se deste modo
da concepção tradicional do desenvolvimento do conhecimento cientifico,
em que o mesmo era visto como um progresso contínuo e ininterrupto no
sentido de uma maior verdade.
A ideia que a ciência
progride por acumulação só se aplica à fase da ciência
normal, na qual se vão acumulando teorias destinadas a confirmar o
paradigma do momento nas suas bases.
Esta nova visão do
progresso científico coloca em evidência o contexto do descobrimento
cientifico, isto é, as condições históricas em que as
descobertas são feitas, o modo como são justificadas e as cosmovisões
que produzem.
Carlos Fontes