Novos Problemas da Ética

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Eutanásia

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Eutanásia significa literalmente "boa morte", do grego "eu" (bem) e "thanátos" (morte).

Pode ser definida como um acto voluntário de uma pessoa que sofrendo de uma grave enfermidade e não vendo dignidade nem sentido para a sua vida, decide pedir a alguém que a mate. As situações mais referidas reportam-se a pacientes que estão totalmente dependentes nas suas funções mais elementares, sofrem de grandes dores ou têm a perspectiva uma morte muito dolorosa.    

Este tipo de eutanásia designa-se também "eutanásia voluntária", para a distinguir de um outro tipo de eutanásia dita "involuntária". Neste caso a decisão sobre a morte de alguém é tomada pela família, um médico ou mesmo um tribunal. Tratam-se do caso de pessoas que estão internadas em hospitais ou estão imobilizadas em casa, e cuja vida é mantida apenas por processos artificiais e não revelam sinais de possuírem auto-consciência.  

1. História. A questão da Eutanásia não é nova. Platão na "República" já a aborda e parece concordar com a mesma, nomeadamente como uma forma de eliminar pessoas com doenças incuráveis. Tomás Moro, também na "Utopia", propõe que os sacerdotes e os magistrados convençam estes doentes a morrerem. Francis Bacon que terá inventado o termo, defende-a também. Nietzsche em várias obras tem idênticas posições. A aceitação da morte pelo doente é encarado como uma forma de evitar encargos "inúteis" para a sociedade e as famílias. Este argumento económico continua a ser largamente referido para a tomada de medidas a favor da eutanásia.   

2. Eugenia. A Eutanásia não pode ser confundida com a Eugenia. Neste último caso trata-se da morte prematura de um ser humano ainda em gestação ou depois do nascimento, tendo em vista eliminar seres considerados deficientes ou inferiores. Na Alemanha, ente 1937 e 1945, os nazis procederam à esterilização em massa de deficientes a fim de evitarem a sua reprodução, assim como à eliminação de seres humanos considerados inferiores (judeus, ciganos, etc). As práticas de eugenia eram muito frequentes na antiga Grécia e Roma, onde os país das crianças as matavam quando temiam que estas fossem deficientes  ou as consideravam indesejáveis.

3. Novos Valores Morais. A evolução das sociedades humanas tem sido feita no sentido de preservar a vida humana, independentemente das condições do seu ser. Cada pessoa é única e tem a sua própria dignidade e como tal deve ser respeitada. Neste sentido, a partir do século XIX começou a ser proibido diversas práticas antes aceites ou toleradas, como o aborto, eutanásia e a eugenia. 

4. Avanços da Medicina. Os enormes progressos feitos desde há 50 anos nos campos da bioquímica, biofísica, imunologia, biologia molecular e outras ciências permitiram á medicina prolongar a  a vida humana, nomeadamente dos enfermos nos hospitais. Muitas vezes este extensão da vida é feita em condições tais, que um doente em coma vegetativo é mantido vivo apenas com o recurso a máquinas que substituem o normal funcionamento das suas funções vitais. Os avanços das tecnologias utilizadas nos hospitais está a permitir prolongar estas situações de coma. Esta é uma das razões de fundo porque adquiriu tanta importância o debate sobre a eutanásia nas nossas sociedades. 

Um dos problemas de difícil resolução consiste na definição de um critério para a própria morte. Quando é que poderemos dizer que alguém está morto e que são irrecuperáveis as suas funções básicas ? 

Existem duas situações de coma vegetativo:

a) Coma Vegetativo Persistente. O doente perdeu as suas funções cognitivas, mas mantém as suas funções circulatórias e respiratórias. As suas possibilidades de recuperação, após alguns meses são mínimas. 

b) Coma Vegetativo Intermitente. Os doentes podem manter-se nesta situação por períodos de tempo muito prolongados (meses ou anos).

Percebe-se que face a esta situação, os familiares ou os médicos possam de acordo com a lei "desligar as máquinas" "provocando" a morte do doente. Quando é que esta ocorre? Segundo a lei portuguesa quando se dá a paragem irreversível das funções respiratórias, circulatórias e cerebrais, mas também uma "cessação irreversível das funções do tronco cerebral" (artº. 2, do Dec-Lei 141/99, 28/8).  

5. Problemas Morais

a) Comunicação ao doente. Muitos doentes são mantidos na mais completa ignorância sobre o seu real estado de saúde pelos médicos. Deve ou não o médico comunicar a verdade aos doentes, qualquer que seja o diagnóstico? 

b). Os que defendem a eutanásia, afirmam que esta é a única forma de preservar a dignidade do ser humano quando só lhe resta o sofrimento e a dependência extrema. Manter a vida em condições artificiais é prolongar o sofrimento e a agonia dos doentes, condenando-os a uma sub-vida. 

c). Os que a condenam a eutanásia afirmam que esta é sempre o suicídio de alguém, ainda que para morrer tenha que pedir ajuda a outrém. Quem presta ajuda esta a cometer um homicídio ou assassinato. O que está em causa, segundo esta perspectiva, é o valor da vida humana, e esta em circunstância alguma deve ser posta em causa. A "eutanásia involuntária" por todas as razões anteriores é um claro assassinato, pois nem a desculpa tem que corresponde a um pedido da vítima.

d). Um dos temas recorrentes dos que recusam a eutanásia (ou o aborto), diz respeito à banalização do próprio acto (argumento da rampa ou encosta escorregadia). Primeiro começa-se por eliminar os doentes em estado vegetativo. Depois de banalizada esta prática alarga-se a eutanásia a outros casos em função das conveniências do momento. Exemplo mais citado: Na Holanda, o primeiro país a legalizar a eutanásia, esta começou por ser apenas voluntária, tendo depois passado à eutanásia involuntária, acabando por ser ser confiada aos médicos para a qual não carecem de autorização das famílias. No princípio fixou-se que os médicos só podiam matar as crianças sem autorização dos pais com  mais de 13 anos, e actualmente autoriza-se que o façam logo à nascença desde que tenham uma mal formação. Os números que são apresentados são pouco fiáveis, dado variarem muito de autor para autor, em todo o caso envolvem milhares de pessoas por ano.

6. Unidades de Cuidados Paliativos nos Hospitais

O que contestam a eutanásia, afirmam que a questão central não é ajudar um doente a morrer, mas saber as razões porque o mesmo deseja morrer (medo da dor física ou psicológica, falta de sentido da vida, etc) e ajudá-lo a superar estas situações. Situações mais comuns em que estes casos se colocam: doenças terminais ou progressivamente degenerativas.

Continua !

Carlos Fontes

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Casos Célebres

Nancy Cruzan (20/7/1957- 26/12/1990) teve um acidente de automóvel no dia 11 de Janeiro de 1983, ficando pouco depois em coma vegetativo permamente. Durante 8 (oito) anos o seu caso passou pelos tribunais norte-americanos, onde se tentou averiguar sobre as suas eventuais convicções sobre a eutanásia, acabando os juízes por decidir pela sua morte (as máquinas que a mantinham viva foram desligadas). 

Terri Schiavo (3/12/1963-31/3/2005).Era uma adolescente gorda, com mais de 90 quilos. No Liceu começou uma rigorosa dieta, que se prolongou após o casamento (1984). Terri emagreceu de tal forma que no dia 25 de Fevereiro de 1990 acabou por desfalecer na sua casa. A desordem alimentar era de tal ordem que havia provocado uma desregulação dos níveis de potássio no organismo, entrando num estado vegetativo permanente, tendo que ser alimentada através de um tubo. Durante 15 anos o seu marido lutou contra o seus pais nos tribunais norte-americanos para que lhe fosse retirado o tubo de alimentação, pondo fim à sua vida vegetativa, o que veio a ser autorizado. 

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Ramón Sampedro ( -15/1/1998). Ao 26 anos ficou tetraplégico e assim permaneceu durante 29 anos. A sua luta judicial demorou cinco anos. Em 1993 solicita autorização para morrer, mas os juizes espanhóis não o permitem. É então que planeia com o auxílio dos amigos a sua morte. Em 1997 muda-se para uma pequena aldeia na Galiza (Porto do Son), onde é depois encontrado morto a 15 de Janeiro do ano seguinte. Os seus últimos momentos da sua vida estão gravados num vídeo, onde se regista uma acção consciente de morte. A sua amiga acabou por ser incriminada pela polícia pelo homicídio, mas acabou depois por ser ilibada. Em 2003 . Alejandro Amenábar realizou um filme inspirado em Ramón com o título Mar Adentro

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Carlos Fontes

Carlos Fontes

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