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          Aborto (do
          latim "ab" (não) "ortus" (nascimento).O aborto
          consiste numa interrupção da gravidez, através da expulsão do
          feto do útero materno.
        
          Antes de iniciarmos a análise deste
          polémico assunto é preciso fazermos algumas distinções
          preliminares:
        
          a) Fetos. Os fetos podem ser
          classificados em fetos normais e anormais. Os primeiros reúnem todas as condições para virem a gerar seres humanos conscientes e
          autónomos. Os segundos correspondem a fetos "mal formados",
          isto é, a fetos que apresentam graves deficiências na sua
          constituição podendo originar seres humanos sem condições de
          sobrevivência aceitáveis em termos de dignidade, autonomia,
          consciência, etc.
        
          b) Abortos. Existem vários tipos de
          abortos: espontâneos e provocados. Os abortos espontâneos são
          aqueles que devido a causas muito variadas de natureza biológica
          implicam uma involuntária interrupção da gravidez, o que em
          geral acontece nos primeiros 3 meses de gestação. Os abortos 
          provocados, como a própria palavra refere, a gravidez é interrompida
          de forma intencional utilizando-se para tal diversos meios como instrumentos metálicos, sucção ou
          aspiração do útero, ingestão de substâncias químicas, etc.
        
          a) Aborto e infanticídio. O aborto
          não pode ser confundido com o infanticídio, pois neste caso trata-se
          da morte de um ser já formado após o seu nascimento. 
        
          1. História
        
          Na antiguidade clássica o aborto era
          largamente praticado como uma forma de controlo da natalidade ou como
          um meio das mulheres evitarem terem filhos
          indesejados. A maioria das religiões condenou sempre o aborto, mas os
          Estados só no século XIX o proibiram, passando a partir daí a
          penalizar as
          mulheres que o faziam. O aborto era apenas autorizado, a título
          excepcional quando
          estava em riscos a vida da mãe. 
        
          A questão do aborto não pode ser
          desligada da sociedade e da cultura onde o problema se coloca, pois é
          neste quadro que a mesma será abordada.
        
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          2. Legalização
          sobre o
          Aborto 
        
          O aborto foi pela
          primeira vez legalizado em 1920, na antiga União Soviética (URSS) e depois
          no Japão. Após a IIª. Guerra Mundial
          (1939-1945), foi legalizado primeiro no países controlados pela URSS
          e depois de 1967 na maior parte da democracias ocidentais.
        
          Entre as razões apontadas para a
          legalização do aborto destacam-se as seguintes:
        
          a) Infanticídio. Quando a
          gravidez não é desejada, após o seu nascimento, as crianças são
          por vezes mortas ou abandonadas. 
        
          b)  Mortalidade materna ligada à
          prática do aborto ilegal. A proibição legal do aborto
          nunca impediu que o mesmo fosse realizado, só que frequentemente é
          feito nas piores condições com elevados riscos para a vida e a
          saúde das
          mulheres. 
        
          c)  Problemas psíquicos das mães.
        
          d)  Más formações dos fetos. Os
          avanços da medicina permitiram que durante a gravidez fosse possível
          diagnosticar alterações congénitas
          ou genéticas no feto, o que possibilitou a tomada de decisões sobre
          a interrupção da gravidez até ao nascimento (diagnostico
          pré-natal). Estes diagnósticos estão hoje largamente difundidos.
        
          e)  Violações ou incestos. 
        
          f)  Sobre-população. 
        
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          3. Aspectos
          Polémicos da Legislação sobre o Aborto  
        
          A legislação sobre o
          aborto é alvo de frequentes polémicas a favor ou contra a sua
          autorização, assim como sobre os requisitos e as condições em que o
          mesmo pode ser ser autorizado. Os consensos sobre este assunto são
          mínimos. 
        
          a) Aborto e métodos
          contraceptivos. O que se opõe ao aborto afirma que a sua
          legalização conduz à banalização da sua prática, acabando o
          mesmo por ser encarado como mais uma método contraceptivo. 
        
          b) Aborto: Problema
          legal ou moral ? Muitos que defendem o aborto afirmam que o mesmo
          deve ser deixado ao critério de cada um, pois trata-se de uma decisão
          moral que o Estado deve abster-se de regulamentar. Argumentam que é
          por esta razão que embora o Estado possa proibir o aborto este
          continua a ser praticado, dado que moralmente não é condenado por
          quem o faz.  
          b) Quando podemos
          saber se existe uma "pessoa em potência" ? Como tem sido
          assinalado, grande parte das discussões sobre o aborto reduzem-se a
          tentar definir o momento a partir do qual deixamos de ter simples
          material genético e passamos a ter um novo ser ou "pessoa em
          potência". O problema é complexo dado que a vida se apresenta
como um continuo sem fases definidas.
          Para os que combatem o
          aborto o novo ser começa no momento da fecundação do óvulo, sendo
          a eliminação do embrião é vista como um crime. O embrião é neste caso
          identificado como sendo uma criança em miniatura ou potência, e como
          tal é tratado nas discussões sobre o aborto. 
          Os que aceitam o aborto
          foram estabelecendo linhas divisórias entre o feto e a
          "criança". Aceitaram em principio que existe um momento a
          partir do qual deixamos de poder falar em simples matéria orgânica e
          passamos a falar de uma "pessoa em potência". Momentos que
          têm sido apontados como a fronteira entre o "embrião" e a
          "pessoa em potência": os primeiros movimentos (4 meses), a viabilidade
          do feto em caso de parto prematuro (6 meses), o nascimento, etc. Este é
          um dos critérios fundamentais que está base da legislação sobre o
aborto.    
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4. Problemas morais
É fácil perceber que as questões
morais dependem do ponto de partida que se tome sobre o aborto.
Os que o condenam acham que se trata de
um crime
Os que o aceitam dividem-se na suas
posições. Estas variam de acordo com o momento em que seja feito o
aborto e as circunstâncias em que levaram uma mulher a
fazê-lo. 
Há ainda a posição dos que defendem
que um feto não pode ser considerado uma "pessoa ou uma criança
em potência". Não tem o mesmo valor que atribuímos a uma criança ou um adulto. É outra coisa, não passa de
material genético. Esta posição adquiriu recentemente alguma
relevância quando passaram a existir nos laboratórios centenas de
milhares de embriões congelados. Destruí-los não terá o mesmo
valor moral que eliminar um embrião no útero de uma mulher ? Qual a
diferença significativa entre um embrião que está dentro e outro do ventre ? Qual
          o critério moral que nos permite distingui-los? 
Em construção !
Carlos Fontes