Navegando na Filosofia - Carlos Fontes

O que caracteriza a atitude filosófica?

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Textos

 

 

Anjos, pormenor de Madonna Sixtina, de Rafael Sanzio (1512-1514)

 

Todos os homens são filósofos. Mesmo quando não têm consciência de terem problemas filosóficos, têm, em todo o caso, preconceitos filosóficos. A maior parte destes preconceitos são as teorias que aceitam como evidentes: receberam-nas do seu meio intelectual ou por via da tradição.

Dado que só tomamos consciência de algumas dessas teorias, elas constituem preconceitos no sentido de que são defendidas sem qualquer verificação crítica, ainda que sejam de extrema importância para a acção prática e para a vida do homem.

 

 Uma justificação para a existência da filosofia profissional ou académica é a necessidade de analisar e de testar criticamente estas teorias muito divulgadas e influentes.

Tais teorias constituem o ponto de partida de toda a ciência e de toda a filosofia. São pontos de partida precários. Toda a filosofia deve partir das opiniões incertas e muitas vezes perniciosas do senso comum acrítico. O objectivo é um senso comum esclarecido e critico, a prossecução de uma perspectiva mais próxima da verdade e uma influência menos funesta na vida do homem.  K. POPPER, Em Busca & um Mundo Melhor, trad. port.,Lisboa, Ed. Fragmentos, 1989, - 165

 

 

Síntese da Matéria

 

Heraclito e Domócrito, por Donato Bramante (Milano, Brera, 1486-87)

1. A atitude filosófica não é uma atitude natural. Qualquer indivíduo de forma imediata face à realidade não começa a examiná-la de forma especulativa. Pelo contrário, o que é natural é que se centre na resolução problemas práticos, que se guie pelo senso comum,  tendo em vista resolver certas necessidades imediatas ou interesses concretos (atitude natural). Ninguém pode viver sem se adaptar constantemente às condições do seu mundo. Estas exigências de sobrevivência tendem, naturalmente  a sobrepor-se a todas as outras preocupações.

2. Embora o homem seja inseparável das suas circunstâncias, não pode todavia ser reduzido a uma mero produto das mesmas. Ele está permanentemente a ser confrontado com  novos problemas que o colocam perante novas situações imprevisíveis, e que o obrigam a alargar os seus horizontes de compreensão da realidade. Cada mudança pode representar, assim, uma nova possibilidade para ampliar o conhecimento. Trata-se de uma possibilidade,  não algo que necessariamente tenha que acontecer a todos os homens nas mesmas circunstâncias e em todas as ocasiões.

3. Estas mudanças frequentemente inquietam-nos ou maravilham-nos, despertando a nossa curiosidade sobre o porquê das coisas, levando-nos a questionar o que nos rodeia. Ao fazê-lo estamos a distanciarmo-nos da  realidade, que de repente se tornou estranha ou mesmo enigmática. Esta atitude reflexiva, pode-nos conduzir a uma atitude mais radical, a atitude filosófica.

4. A atitude filosófica se decorre do quotidiano, não é todavia ao mesmo redutível. Não é fácil caracterizá-la, dada a enorme diversidade de aspectos que pode assumir. Vejamos apenas quatro aspectos que caracterizam a atitude filosófica:

O espanto. Aristóteles afirmava que a filosofia tinha a sua origem no espanto, na estranheza e perplexidade que os homens sentem diante dos enigmas do universo e da vida. É o espanto que os leva a formularem perguntas e os conduz à procura das respectivas soluções. Como refere Eugen Fink o espanto torna o evidente em algo incompreensível, o vulgar extraordinário.

A duvida. Ao filósofo exige-se que duvide de tudo aquilo é assumido como uma verdade adquirida. Ao duvidar este distancia-se das coisas, quebrando desta forma a sua relação de familiaridade com as coisas. O que era natural torna-se problemático. O que então emerge é uma dimensão inquietante de insatisfação e problematização. A reflexão começa exactamente a partir do exame daquilo que se pensa ser verdadeiro.  Se nunca duvidarmos de nada  nunca saberes o fundamento daquilo em que acreditamos, mas também jamais pensaremos pela nossa cabeça.

O rigor. O questionamento radical que anima o verdadeiro filósofo, não é mais do que um acto preparatório para fundar um novo saber sobre bases mais sólidas. A crítica filosófica é por isso radical, não admite compromissos com as ambiguidades, as ideias contraditórias, os termos imprecisos.

A insatisfação. A filosofia revela-se uma desilusão para quem quiser encontrar nela respostas para as suas inquietações. O que o aprendiz de filósofo encontra na filosofia são perguntas, problemas e incitamentos para que não confie em nenhuma autoridade exterior à sua razão, para que duvide das aparências e do senso comum. A única "receita" que os filósofos lhe dão é que faça da procura do saber um modo de vida. Não se satisfaça com nenhuma conclusão, queira saber sempre mais e mais.

Carlos Fontes

Esquema

Atitude Filosófica

Filosofia Sistemática

Espanto

Dúvida

Problematização

Teorias coerentes e fundamentadas.

Teorias sobre a Totalidade

Atitude Reflexiva Filosofia Espontânea

Atitude activa perante as coisas

Distanciamento

Teorias superficiais e contraditórias

Atitude Natural

Senso Comum

Atitude passiva perante a realidade

Ideias Feitas

Tradições

O nível de conhecimento mais elementar

(Ponto de partida para todas as formas de saber e conhecimento)

Carlos Fontes

10º. Ano- Programa de Filosofia 

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