Rotas Europeias de Comércio de Escravos

Rotas da Escravatura Árabe

Em Breve:Grandes Negreiros Africanos


A captura de escravos em África era feita desde a Idade Média pelos árabes. Do seu transporte para as plantações e minas do continente americano, se encarregaram os europeus, desde o século XVI. Gravura datada de 1874.
Rotas Europeias de Comércio de Escravos

Escravatura Moderna 

Em tempos de imigração massiva dos países mais pobres para os mais desenvolvidos, como os que integram a União Europeia, multiplicam-se os estudos e as publicações sobre as rotas da escravatura entre o século XV e finais do século XIX. Neste imenso negócio em que participam inicialmente os países europeus (Portugal, Flandres, Inglaterra, França, Espanha, Holanda, Alemanha, Dinamarca, etc), e depois os novos estados americanos (EUA, Brasil, etc), não seria possível na escala que adquiriu, sem a participação activamente dos chefes africanos que se encarregam da captura dos escravos e depois os negociavam com os negreiros. 

A grande novidade desta escravatura empreendida pelos europeus, em relação à que se fazia noutras regiões do mundo, como no norte de África e nas arábias, estava na sua elevada racionalização e crescente sofisticação. Nenhuma aspecto foi descurado para obter o máximo lucro destes seres humanos, desde a montagem de redes de captura, construção de locais de embarque e navios próprios, passando pela avaliação, classificação e marcação dos escravos, ao leilão e o abate dos revoltosos, não esquecendo a fixação de impostos devidos ao Estado, etc.

A escravatura moderna tem uma data simbólica: 1415. O ano em que os portugueses conquistaram Ceuta. A expansão marítima através do Atlântico e depois do Pacífico alargou à escala mundial as possibilidades deste negócio. No século XV, os portugueses dominam este negócio, mas a partir do século XVI, deixam de estar sózinhos, tem agora que concorrer com outras potências europeias. No século XVII, toda a África, tanto na costa ocidental, como oriental torna-se num imenso campo para a captura de escravos. Um sem número de companhias e bandos de negreiros praticam, legal ou legalmente este negócio até o século XX.

Entre os século XV e meados do século XIX, calcula-se que cerca de 30 milhões de africanos tenham sido traficados ou mortos pelos europeus nestas operações.

 

 

Portugal . Espanha .Grã-Bretanha . Holanda . França . EUA . Brasil . Austria .

 Portugal

A expansão portuguesa é indissociável da escravatura. O seu móbil não foi a difusão do cristianismo, nem tão pouco se centrou no ouro ou marfim, mas sim nos escravos. Eles eram a mão-de-obra que geravam a riqueza. O próprio Infante D. Henrique, em 1443, chama a si o monopólio da sua exploração.

No século XV, os escravos destinavam-se sobretudo a abastecer os trabalhos em Portugal, ou as explorações da cana do açucar na Madeira (escravos canários), mas também a serem vendidos para Espanha. Lisboa, Alcácer do Sal e Lagos estabelecem-se florescentes mercados de escravos. No Algarve, em 1444, forma-se a primeira companhia moderna para o tráfico, muitas outras lhe seguirão pela Europa. Ao longo da costa ocidental de África criam feitorias, cuja principal actividade estava neste tráfico: Arguim, Mina, Cacheu e S.Tomé. Os pontos de embarque preferidos dos portugueses concentram-se sobretudo na costa ocidental de Africa, em especial pela costa da Guiné, costas de Loango, Ngoyo e do Kalongo (actual enclave de Cabinda), mas também do Soyo e, sobretudo, da colónia de Angola, que era alimentada por importantes centros esclavagistas de São Paulo, de Assumpção de Loanda e de Benguela.

No século XVI, o tráfico dispara para abastecer as “necessidades” do país, a colonização do Brasil, as explorações de S. Tomé, mas também as necessidades de Espanha e das suas possessões na América. Os portugueses funcionam nesta altura, como negreiros ao serviço de Espanha, actividade que exerceram quer numa forma legal (monopolista), quer ilegal (contrabando) até à abolição da escravatura. O período da ocupação filipina (1580-1640) foi particularmente vantajoso para os negreiros portugueses. Entre 1595 e 1640 conseguem o exclusivo da Coroa Espanhola (assiento) do comércio de escravos para as suas possessões na América. Entre 4 a 5 mil escravos foram vendidos por ano (cerca de 150 mil no total). Só mais tarde, entre 1685 e 1701 virão de novo a obter tão lucrativo monopólio. 

A própria igreja participa activamente neste negócio, nomeadamente por intermédio das ordens religiosas envolvidas na evangelização. Os  Dominicanos e os Jesuitas foram os que mais se destinguiram no trafico de escravos africanos. A Companhia de Jesus, por exemplo, possuía navios exclusivamente destinados ao comércio de escravos angolanos para o Brasil. 

Em fins do século XVII, criam outra importante feitoria em Daomé (Ajudá), de apoio logístico a este florescente negócio que se mantém muito activo até meados do século XIX. Neste último século, o comércio de escravos português está já firmemente implantado em Moçambique, de onde saem dezenas de milhares de escravos para as colónias espanholas (Cuba), mas também para o Brasil e S. Tomé. 

Depois da escravatura abolida, em 1878, continua a exploração de mão-de-obra africana agora sob o nome de contratados. As colónias portuguesas abastecem agora as explorações mineiras da África de Sul e da Rodésia, mas também nas plantações de São Tomé e Príncipe, para só citar estes locais.  

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Brasil

O tráfico de escravos africanos para o Brasil começou no século XVI e só terminou por volta de 1889. Neste longo período foram importados cerca de 2.500.000 durante a época colonial (1500-1822) e 1.500.000 depois da Independência até ao fim do Império (1822-1889). Mais 

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Espanha

O mediterrâneo foi até ao século XVI, um dos locais mais activos no tráfico de escravos. Muito antes da descoberta América (1492), os  Barcelona, Valencia ou de Sevilha eram verdadeiros mercados de escravos. A expansão marítima dos portugueses abre uma nova fonte para o abastecimento de escravos, a costa ocidental de África  depois também a costa oriental, o que é rapidamente aproveitado por negreiros espanhóis.  

Em consequência do Tratado de Tordesilhas, a Espanha fica todavia limitado na exploração do tráfico de escravos africanos. O seu único recurso foi o de recorrer aos negreiros portugueses, e depois já no século XVI, a negreiros franceses, alemães, holandeses, ingleses e outros para abastecer a Espanha e sobretudo as suas possessões na América.  

Cristovão Colombo, mal descobriu a América procurou desde logo explorar uma outra fonte de mão-de-obra: os indios. Na sua segunda viagem à América trouxe consigo um carregamento para vender em Espanha, mas estes revelam-se pouco aptos aos trabalhos exigidos pelos europeus. Por razões teológicas o seu comércio de indios foi também proibido em 1495, mas acabou autorizado em 1503. No século XVI muitas cidades de Espanha, como Sevilha, possuíam enormes massas de escravos.

Nas suas possessões na América, os espanhóis ficaram tristemente célebres por se evidenciarem no extermínio dos povos que encontraram. Dezenas de milhões de indios foram mortos de exaustão em trabalhos forçados pelos conquistadores espanhóis, assim como pelas doenças que estes lhes transmitiram. Perante a ameaça da sua completa extinção, os espanhóis viram-se para os africanos. Começa então verdadeiramente a fase da sua importação massiva. 

O número deste escravos foi ainda diminuto no século XVI (cerca de 36 mil entre 1555 e 1595). No século XVII, a América Espanhola começa a encher-se de escravos africanos, tendo o ritmo deste tráfico aumentado no século seguinte (cerca 350 mil ao longo do século) . Ficou então célebre o sistema espanhol de contabilizar o número de escravos, em vez de ser feito à cabeça (peça), faziam-no à tonelada.

Apesar de pouco organizados no tráfico, devido à falta de apoios logísticos na costa africana, os negreiros espanhóis mantiveram-se muito activos até meados do século XIX. Entre 1765 e 1779, por exemplo, confiam o monopólio da comercio de escravos para a América a um grupo de negreiros bascos (Uriarte e Companhia Geral de Negros). A partir de 1789, abriram as fronteiras das suas colónias ao comércio de escravos, procurando desta forma fazer descer o preço por peça (escravo).  A actividade dos negreiros espanhóis estendeu-se, como era de esperar, muito para além da abolição da escravatura. Na primeira metade do século XIX, muitos navios negreiros espanhóis, adoptam a bandeira portuguesa para mais facilmente exercerem estes tráfico. Ainda em Fevereiro de 1864, um navio negreiro espanhol era aprisionado na costa de Angola, quando andava a apanhar escravos. Cuba, a sua última das colónias na América, resistiu enquanto pode à abolição da escravatura(1886).

Perdida a sua colónia emblemática (Cuba), os espanhóis viram-se para o Norte de África, e procuram conquistar Marrocos, onde possuem umas fortalezas conquistadas aos portugueses. O problema é que a França está também interessada neste quinhão de África.O povo marroquino é então, mais uma vez, vítima das piores barbaridades ( Humilhação, discriminação e escravização, as três palavras mágicas da colonização europeia).

Carlos Fontes

Continuação

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