Fundamentalismos

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Fundamentalismos Comparados

A guerra que os EUA moveu contra o Iraque, não pode ser desligada da visão fundamentalista dos dois paranóicos que se confrontaram: Bush e Saddan. 

 
   

O fundamentalista em qualquer domínio, não apenas na religião, é aquele que se assume como o escravo ou instrumento de uma vontade que o ultrapassa. A sua razão de viver reduz-se em cumprir aquilo que aos seus olhos é uma evidência, mas também um dever. Por exemplo: a salvar a Humanidade ou a Pátria !.

 

 

A Missão de G. Bush

Há alguns anos ninguém imaginaria que Bush poderia algum dia ser presidente do que quer que fosse. É conhecido o seu longo  passado de drogas e alcoolismo (só se recuperou em 1996). As empresas que dirigiu terminaram na falência, nomeadamente duas de petróleo. A actividade onde conseguiu melhores resultados foi à frente de um clube de basebol (Rangers Texas). 

Aos 40 anos afirma ter sido "tocado" por Deus. "Curado", tornou-se a partir daí num ferveroso devoto de uma Igreja Cristã (metodista). Assume então uma missão divina: -apressar  o regresso de Cristo à Terra destruindo as forças do Mal. Dirige então a cruzada tempos modernos:

Durante a campanha que elegerá o seu pai, presidente dos EUA em 1988, encarrega-se das ligações aos movimentos cristãos mais conservadores, infiltrando-os na Casa Branca.  

Após ser eleito para governador do Estado do Texas, em 1994, não tarda a incentivar o extermínio dos criminosos locais, provocando um aumenta o número de condenados à pena de morte.  

A sua eleição em Janeiro de 2001, é saudada pelas igrejas cristãs mais fundamentalistas dos EUA.  Os atentados do 11 de Setembro de 2001, são o pretexto ideal para divulgar ao mundo a sua missão: - destruir o Eixo do Mal, constituído sobretudo por países islâmicos como o Iraque, Afeganistão, Irão, Síria, Líbia, Sudão, Somália, etc. 

A política externa dos EUA passa a ser feita em nome de Deus. Os actos oficiais,como a reunião com os seus secretários de estado, transformaram-se em rituais encarados numa dupla dimensão religiosa e política, sendo precedidos de orações.A invasão do Afeganistão e agora do Iraque são a materialização deste desígnio divino.    

 

A Missão de Saddam Hussain

Estamos perante um paranóico que chegou ao poder, em 1979, através de um golpe de estado. Afirmava-se então interprete de um desígnio nacional: - construir um grande estado iraquiano. Para isso não tardou em envolver-se em conflitos armados e em exterminar os intentos de independentistas de minorias étnicas ou religiosas (curdos, chiitas). Por incrível que pareça, no contexto do islamismo Saddam era considerado um moderado (sunita).  

Em Setembro de 1980, com o apoio dos EUA declara guerra ao Irão, prolongando-se este sangrento conflito até 1988. O fundamentalismo iraniano era visto pelo Ocidente como uma ameaça para o  mundo. A causa imediata da guerra foi contudo não o fundamentalismo, mas a posse de terras junto à fronteira.

Em 1988, seguindo uma prática habitual na região, esmaga os curdos do norte, empregando armas químicas fornecidas pelos EUA. Os curdos pretendem construir um estado independente, com territórios que actualmente se repartem entre o Irão, Iraque, Síria e Turquia 

Em Agosto de 1990 invade o Kuwait, só de lá saindo em Fevereiro de 1991, após 39 dias de bombardeamentos de uma coligação internacional liderada pelos EUA. A razão da invasão residia no facto do Iraque considerar que o Kuwait não passa de uma monarquia corrupta  criada pela Inglaterra para bloquear o acesso do Iraque ao Golfo Pérsico.

A derrotado de 1991, leva Saddam a mudar de discurso, passando a evocar a protecção de Alá. A sua guerra passou a ser proclamada como "santa". Desta forma Saddam pretendeu ser visto aos olhos no mundo islâmico como o símbolo de todos os muçulmanos humilhados pelos Ocidentais, cujo solo sagrado foi profanado.

 

Imagem que correu o mundo: A captura do ditador a 14 de Dezembro de 2003

 

A Invasão do Iraque em Março de 2003, marcou o fim da ditadura de Saddam. Nesse sentido deve ser festejada. Ao contrário dos que os americanos esperavam, estes não foram recebidos como libertadores, mas como invasores que vieram piorar as já muito degradadas condições de vida dos iraqueanos. 

 

 

 

 

 

 

Guerra de Civilizações ?

A agressão armada que os EUA desencadearam contra o Iraque, provocando a destruição indiscriminada de cidades  milenares, assumiu contornos de uma luta de civilizações.

George Bush, pretende que os países ocidentais vejam nele o chefe de uma cruzada da Civilização Ocidental, de matriz judaico-cristã, contra as forças do mal do mundo. Á semelhança dos cruzados medievais os seus olhos estão cravados no mundo islâmico onde se acoitam os terroristas.

Mas este conflito está longe de poder ser reduzido apenas uma dimensão religiosa, e muito menos à luta entre dois fundamentalistas. Bush sabe bem a importância que o domínio do Iraque pode representar para os EUA, nomeadamente para o controle de 66% das reservas mundiais de petróleo que estão situadas no Golo Pérsico. Dominá-las é garantir o domínio do mundo nas próximas décadas.

Seja qual for o desfecho militar desta guerra, uma coisa é certa:  - Jamais se apagará da memória do povo iraquiano o horror provocado pelos sucessivos bombardeamentos de populações indefesas. A destruição de cidades e o saque do património cultural do Iraque. Esta memória que alimentará durante muito tempo ódios e ressentimentos para com os invasores e todos os que os ajudaram. 

Aos norte-americanos só restará no final da guerra ocuparem o Iraque e seguirem o exemplo dos espanhóis para com a população portuguesa de Olivença: - Apagarem de forma sistemática as suas memórias e identidade cultural. Mas não há etnocídios perfeitos: os mortos, a qualquer momento, poderão vir reclamar o seu lugar entre os vivos.

 

   

 

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