Guerras

Uma das primeiras imagens dos bombardeamentos americanos sobre Bagdade. O horror transformado em espectáculo. 

 

Século XXI

A Nova Desordem Mundial:

 Sinais da Guerra EUA - Iraque

 
 

A guerra do EUA contra o Iraque, iniciada 19 de Março de 2003, anuncia uma nova desordem mundial ? O que a distingue da anterior?

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Antes

Ao longo do século XX, foram muitas as tentativas generosas para criar uma conjunto de organizações e princípios internacionais, capazes de regular as relações entre os povos e de garantir os mesmos direitos a todos os seres humanos, tendo originado logo à seguir à 2ª. Guerra Mundial (1939-1945), três instrumentos fundamentais:

A ONU- Organização das Nações Unidas

A Carta das Nações Unidas

 A Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A ONU foi assumida como o "forum" internacional para a resolução pacífica dos conflitos entre os vários Estados, cujos princípios fundamentais foram consagrados na Carta. 

A Declaração  constituía uma promessa que era possível construir uma sociedade global para todos os seres humanos baseada em valores como a Dignidade, Igualdade, Liberdade e Fraternidade. 

 

Apesar destes consensos, os crimes contra a Humanidade persistiram: 191 milhões de pessoas perderam a vida em guerras ao longo do século XX, uma boa parte dos quais já depois da 2ª. Guerra Mundial. Constata-se também que a maioria dos países  do mundo continua a viver sob regimes ditatoriais ou onde não se respeitam os direitos humanos.

Face a esta situação, muitos têm retirado a seguinte conclusão: a ONU é uma instituição inútil, a Carta e  Declaração só servem como um instrumento de retórica política, pois o que prepondera e sempre preponderou foi a Lei do Mais Forte.

 

Agora

O que mudou em finais do século XX foi que uma única potência a nível mundial - os EUA -, abandonou a retórica política anterior. Não esconde agora que se sente o país mais forte e mais poderoso de todos. Afirma sem qualquer complexo que não precisa de outros para legitimar as suas acções no mundo e a sua estratégia expansionista. 

Faz agora o que considera mais justo ou mais adequado aos seu interesses. Aos restantes países resta apenas a tarefa de apoiarem as suas acções e de participarem como seus auxiliares no festim de guerras e pilhagens à escala planetária. Os que o não fizerem arriscam-se às consequências que os EUA determinarem. É a teoria do "Ou estão por Nós, ou Contra Nós", enunciada por G. Bush.

 

A invasão do Iraque pelos EUA, é neste contexto, o sinal da nova desordem mundial: nela a retórica dos princípios foi substituída pela afirmação sem complexos dos interesses estratégicos da única grande potência mundial. Os EUA não escondem que:

Não precisam da ONU, nem de consensos mundiais para nada. Fazem a guerra a quem quer que seja sempre que considerem que os seus interesses o justificam.

Neste neste momento, consideram vital para a sua economia o controlo das regiões do mundo onde se concentram as maiores reservas mundiais de petróleo do mundo, nomeadamente do Golfo Pérsico onde se situam mais de 66% das reservas mundiais de petróleo. 

O Iraque, com cerca de 11% das reservas mundiais, oferecia todas as condições para alargar o domínio dos EUA na região, abrindo-lhe as portas para uma expansão para o continente Asiático. Estava enfraquecido por mais de 20 anos de guerras, por conflitos étnicos e sanções da ONU. A sua invasão e ocupação afigurava-se rápida e barata, face ao benefícios que daí podiam resultar para a economia norte-americana.

A tudo isto se juntava outros argumentos de peso, capazes de justificarem no plano internacional esta invasão. O Iraque:  

Desenvolvia e fabricava  armas de destruição maciça; 

Apoiava o terrorismo mundial;  

Era uma das mais sanguinárias ditaduras no mundo; 

A verdade é que estes argumentos não passavam de mera retórica política. Os EUA nunca conseguiu provar que o Iraque tivesse armas de destruição maciça, nem sequer que apoiava organizações terroristas. Quanto à brutalidade da sua ditadura, era em tudo idêntica a outras que são apoiados e financiados pelos próprios EUA. Feitas as contas, o único motivo que justificava a invasão era sempre o mesmo: o petróleo iraquiano.

Um dado novo entretanto ocorreu logo após a invasão. Para uma boa parte da opinião pública mundial:

O sanguinário  Saddam tornou-se num mártir da luta da independência de um país brutalmente atacado;

A libertação de ditadura de um povo, prometida pelos EUA, começa a surgir como uma máscara odiosa para esconder a imposição de um regime neocolonial, cujo objectivo será garantir o saque dos recursos naturais de um país.

G.Bush encarna cada vez mais, a imagem do Imperador paranóico que ameaça a comunidade internacional.

 

Os EUA fazerem o mais difícil na Guerra do Iraque ao transformar:

Um sanguinário ditador num herói mundial. 

Uma "guerra de libertação" do povo iraquiano numa invasão sangrenta que visa impor a um país independente um regime neocolonial, sob o domínio dos EUA (ver imagens).

Uma acção internacional, sob a égide da ONU, numa acção unilateral contra um país islâmico, promovendo conflitos éticos, religiosos e civilizacionais. 

Estes factos são tanto mais preocupantes, quanto é sabido que os EUA estiveram na origem de instituições internacionais como a ONU, e hoje promovem a sua marginalização, assim como ignoram o direito internacional que durante décadas defenderam como fundamento para o relacionamento entre os povos do mundo.

Por tudo isto, os EUA, parecem estar a tornar-se numa séria ameaça para paz mundial.  

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Regresso ao Passado

Estes sinais só aparentemente contém algo de novo na história da Humanidade. Eles são afinal o simples regresso ao discurso europeu do passado, quando as suas grandes potenciais lutavam entre si para a partilha do mundo.

Durante séculos enquanto exterminavam povos inteiros, saqueavam os seus recursos, nunca o esconderam que o faziam em nome dos seus interesses vitais. É certo que o faziam, sob a capa de que estavam a civilizar o mundo, difundido os valores cristãos, mas não é também em nome da "Liberdade" e de "Deus" que os EUA estão a conduzir esta guerra ?

Em Maio de 2004, caiu o último argumento que ainda justificava para muitos estes tipo de intervenções: a defesa do Direitos Humanos. Foram então publicadas imagens sobre os maus tratos que as tropas inglesas e norte-americanas infligiam aos prisioneiros de guerra iraquianos, violando todas as convenções internacionais.

Prisioneiro iraquiano amarrado por uma treta ao pescoço.

Os prisioneiros iraquianos são obrigados a formar uma pilha de corpos nús, para satisfação dos carcereiros norte-americanos

 

Soldado inglês mija para cima de um prisioneiro iraquiano

Ontem como hoje, resta à Humanidade, decidir se é este o caminho que deseja de novo seguir nesta casa comum.

Carlos Fontes

 

Cartazes Contra a Guerra

A Internet é hoje um dos meios mais poderosos de circulação de mensagens e cartazes contra a guerra.

 
 

Fundamentalismos Comparados

A guerra que os EUA moveu contra o Iraque, não pode ser desligada da visão fundamentalista da realidade dos dois paranóicos em confronto: Bush e Saddam. Mais

 
   

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