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Desde o século XVI que se discute as razões que
terão levado um povo tão pequeno a espalhar-se pelo mundo inteiro. As
explicações são muitas e estão longe de serem consensuais.
O primeiro aspecto que tem sido destacado é
justamente a diminuta população do país. Recorde-se que no inicio da
expansão, em 1415, a população portuguesa contaria no máximo com 1 milhão
de indivíduos. No século XVI, rondaria o 1,4 milhões e se saltarmos para o
século XVIII cifra-se à volta dos: 2,1 milhões de indivíduos. A partir daí
pouco crescem: 3 milhões em 1800 e 5 milhões em 1900. Actualmente pouco
ultrapassa os 10 milhões. Este fraco crescimento, contrasta com uma
elevada fecundidade das famílias portuguesas. Qual foi a razão porque a
população não cresceu ? A explicação para muitos autores está nas
necessidades de povoamento das colónias portuguesas, mas também na própria
emigração, que absorviam os saldos fisiológicos.
Entre as razões que explicariam os contínuos
fluxos emigratórios dos portugueses podemos destacar as seguintes:
1. Factor Geográfico. Portugal fica num
extremo da Europa, entre a Espanha e o Mar. Os rasgados horizontes marítimos
nas suas costas parecem ter estimulado nos portugueses o desejo de explorar o
mundo, descobrir outras culturas. A Espanha, no lado oposto, lembra guerras,
pilhagens, saques. A emigração na direcção do centro da Europa, é um
fenómeno relativamente recente (segunda metade do século XX) e ocorre numa
altura que os portugueses já estavam há séculos espalhados pelo mundo.
2. Miséria. Os portugueses emigram para
fugirem à miséria e falta de trabalho que grassa nos campos e que as cidades
não conseguem absorver. Nas regiões, como o Douro, Minho, as ilhas da
Madeira e Açores, onde é mais notório o excesso de mão-de-obra a emigração
surge como o recurso por excelência para resolver a falta de trabalho na
agricultura e pescas. Analisando as descrições dos que emigraram entre meados
do século XIX e os anos 70 do século XX, ninguém dúvidas em subscrever esta
terá sido uma das razões que motivou a saída de alguns milhões de
portugueses..
3. Tradição. A emigração é um
tradição secular em Portugal. Na verdade, uma vez iniciada a
emigração no século XV nunca mais parou. Um dos factores que estimulou a sua
continuidade foi o facto de se terem criado em muitos pontos do mundo
comunidades de Portugueses que apoiaram os novos emigrantes estimulando-os a
partir ou ajudando-os a fixarem-se no local. Por outro lado, em Portugal, numa
qualquer família, há sempre um familiar ou amigo que emigrou e que pode
prestar as informações necessárias para outro o fazer. Quando os problemas se
avolumam no país, ou ocorre algum problema na vida, afirmam alguns analistas, o português não luta para os
resolver, mas emigra. É mais fácil convencer um português a emigrar para a
China, do que convencê-lo a mudar de residência para outra parte do país.
4. Fuga a perseguições religiosas e
políticas. Entre princípios do séculos XVI e inícios do XX ,
tivemos ferozes perseguições religiosas a judeus e cristãos-novos
portugueses. Muitos milhares foram forçados, para sobreviverem a espalharem-se
por todo o mundo. No século XX, as perseguições políticas que
ocorreram entre 1926 e 1974, a que se juntou entre 1961-1974 a fuga de centenas
de milhares de jovens ao serviço militar ajudaram a engrossar este caudal
emigratório.
5. Missão Histórica. Um elaborado
discurso ideológico desde o século XVI atribuí aos portugueses uma espécie
de missão histórica: difundirem a cristandade pelo mundo (Luis de Camões,
escreveu sobre este tema uma epopeia- Os Lusíadas). O Padre António Vieira
retomou o tema com a ideia do Vº. Império. A emigração seria,
neste aspecto, um instrumento deste desígnio nacional. No século XX, poetas
como Fernando Pessoa, re-elaboraram esta explicação à luz dos valores
contemporâneos, embora mantendo o seu esquema inicial.
6. Abertura de Horizontes. A situação
geográfica de Portugal, num extremo da Europa, sempre
provocou problemas de isolamento cultural. "As coisas chegam aqui com muito
atraso", este é o lamento que se repetiu durante séculos e que explica a
partida de muitos milhares de portugueses para o estrangeiro.
Conclusões
Estas "explicações" pecam por serem
demasiado centradas na realidade portuguesa. Na verdade, desde o séculos XVI a
emigração portuguesa pouco difere daquela que ocorreu na maioria dos países
europeus. A especificidade se é que aqui ocorreu muito cedo, e teve uma maior dispersão
geográfica e dimensão quantitativa em termos percentuais.
Na verdade entre o século XVII e meados do
século XX, da maioria dos países europeus passaram a sair regularmente importantes
contigentes de emigrantes para as regiões menos povoadas do mundo ou
territórios que estes dominavam (colónias). A maior destes emigrantes eram trabalhadores excedentários das zonas rurais. Calcula-se que
entre 1800 e 1935 cerca de 50 milhões de europeus tenham emigrado para África,
Américas, Ásia e Oceania.
Foi preciso esperar que na Europa se desse em
alguns países um forte desenvolvimento económico e urbano, para que estes
excedentes populacionais pudessem começar a ser absorvidos na própria
Europa. Este
alteração só ocorreu nos países mais industrializados após a 2ª. Guerra
Mundial (1939-1945). Devastados pela guerra a partir de meados dos anos 50 registam
permanentes necessidades de mão-de-obra estrangeira. Esta penúria foi agravada
quer pelo abaixamento das a taxas de fecundidade, quer pelo facto das camadas
mais jovens da sua população, portadoras de maior instrução, manifestarem
uma crescente rejeição por certos trabalhos mais duros e repetitivos
(trabalhos indiferenciados, pouco prestigiados e mal pagos).
Os países mais industrializados da Europa, mas
também os EUA, Canadá ou o Austrália recorrem até aos anos 70 do século XX à
mão-de-obra dos países europeus menos industrializados (Itália, Espanha,
Portugal, Grécia, etc). Contudo, à medida que estes se desenvolveram deixaram
de ser exportadores de mão-de-obra e passaram a ter também necessidades de
mão-de-obra estrangeira. A maioria dos novos emigrantes eram oriundos de
antigas colónias que se haviam tornado independentes. A emigração à escala mundial inverteu o
seu rumo: em vez de sair da Europa para o resto do mundo, passou a vir do
resto do mundo para a Europa.
Nesta perspectiva global, a emigração
portuguesa pouco difere da europeia, apenas regista algum atraso na conclusão
dos ciclos históricos, continuando a registar alguma influência de factores
históricos e culturais. Emigrar continua a ser uma das
"actividades" mais dinâmicas dos portugueses.
Carlos Fontes
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