A emigração de portugueses para França entre
1961e 1974, é um dos episódios mais
impressionantes da história contemporânea de Portugal, constituindo uma
verdadeira debandada do país. A
emigração para França não era em si mesma uma novidade. Desde
que Portugal se constituiu como um Estado independente, no século XII, milhares de portugueses emigraram para este país por diversos
motivos. Muitos aí se estabeleceram para desenvolverem actividades
económicas, outros para fugirem a perseguições políticas e
religiosas, muitos também para estudar. Em
finais do século XIX, as estatísticas francesas, como refere Joel Serrão,
registam um aumento crescente no número de imigrantes portugueses. De cerca de
200 em 1876 passam para 1.300 dez anos depois. O maior aumento deu-se contudo,
após a 1ª. Guerra Mundial, quando se fez sentir a falta de mão-de-obra para a
reconstrução deste país. Em 1921 regista-se já 10.800 imigrantes portugueses
a residir em França, subindo este número para 28.900 em 1926, para atingirem
os 49.000 em 1931 (dados oficiais). Nos anos trinta e quarenta o seu
número diminui, mas logo no início dos anos 50 recomeça o fluxo emigratório.
Entre 1951 e 1960, emigraram para França 17.851 portugueses. A emigração que ocorre
a partir de meados dos 50 tem uma natureza muito distinta da anterior. Estaé marcada por uma profunda descrença nas capacidades de
desenvolvimento do país, sob o jugo de uma ditadura desde 1926. O
aumento da informação do que se passa no resto na Europa, não
deixam dúvidas: a única forma de fugirem fugirem
às condições degradantes em que viviam e trabalhavam em Portugal era rumarem
a Europa além Pirenéus. Em 1950, apenas se registam 314
emigrantes. Quatro anos depois são já 747 para em 1965 atingirem os 1.336. Em 1958 serão 6.264. A partir daqui os
números disparam. Em 1970, atinge-se o valor record: 135.667 indivíduos num
só ano. Entre 1958 e 1974, cerca de um milhão de portugueses
instalam-se em França, dispostos a trabalharem em tudo o que lhes
apareça. As formas brutais da sua exploração começam em Portugal, com as
redes que os transportam até à fronteira, e não raro os abandonam pelo
caminho. Muitos portugueses morrem neste percurso. Em França são vítimas de
todo o tipo de discriminações no trabalho, no alojamento e nas mais pequenas
coisas do dia-a-dia, uma humilhação que a custo suportam. Muitos poucos esperam enriquecer, mas
todos esperam conseguirem uma vida mais digna que lhes é
recusada na própria terra. Trata-se de uma verdadeira vaga,
em grande parte clandestina, contra a qual todas as leis se revelam ineficazes.
Em poucos anos despovoam-se regiões
inteiras abrindo-se profundas rupturas na suas estruturas
económicas, sociais e culturais. Nada voltará a ser como
dantes! A
imagem que a comunicação social francesa veicula destes emigrantes é
frequentemente a pessoas de baixíssimo nível cultural e sobretudo
despolitizadas, quase sempre ligados a profissões desqualificados. As mulheres
são "todas" porteiras e os homens "todos" operários da
construção civil. Imagem que está longe de traduzir a diversidade das suas
ocupações e qualificações profissionais. A
emigração para França continua até ao presente, embora agora seja pouco
expressiva. Os portugueses, embora em
grande número na região de Paris, acabam por se dispersar por toda a
França. Na Córsega, por exemplo, ainda em 2004, existia uma importante
comunidade de portugueses (cerca de 13 mil ). |