Estatísticas
da Emigração Portuguesa para o Brasil
(1822-1986)
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Não
existe um trabalho sistemático sobre a emigração portuguesa para o Brasil
após a sua independência. De um lado e outro do Atlântico o assunto nunca
foi pacífico.
Em
Portugal os números desta emigração revelam uma enorme sangria que durante
anos o país sofreu, agravada pelo facto da esmagadora maioria destes
emigrantes nunca ter regressado, acabando por se naturalizarem brasileiros.
A
maior parte dos emigrantes saí de Portugal sobretudo através dos portos de
Lisboa, da cidade do Porto, Viana do Castelo, dos Açores (Angra do Heroismo e
Ponta Delgada) e da Madeira. Eram também utilizados o portos da Galiza (Vigo,
Corunha), situação que está ainda por estudar. Esta dispersão dos pontos de saída dificultou até finais dos
século XIX o apuramento estatístico. No
Brasil os portos de chegada eram vários, e as estatísticas oficiais até aos
anos 80 do século XIX só registam as entradas no porto do Rio de
Janeiro.
A
partir de 1855 temos em Portugal alguns bons indicadores, antes dessa data
existem muitos problemas, apenas temos dados parcelares. Em todo o caso
podemos dizer, podemos estimar uma média de nunca inferior a 3 mil emigrantes
por ano entre 1822 e 1855 (cerca de 100 mil no total).
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Calcula-se que os emigrantes legais apenas correspondam a 2 terços do total
dos emigrantes. Os restantes entravam no Brasil clandestinamente. As despesas com o processo de legalização eram
na altura muito
elevadas, em especial para os menores de 21 anos. A clandestinidade era
facilitada pelo tipo de transporte usado, o qual até aos anos 70 do século XIX,
era constituído por veleiros que podiam sair de Portugal ou da Galiza de um
pequeno porto e aportarem em qualquer
ponto da costa brasileira. Apesar das muitas campanhas para combater esta saída
de pessoas, a mesma mostrou-se sempre imparável até princípios dos anos 60 do século XX.
No
Brasil esta vaga continua de imigrantes, apesar de ser fundamental para o desenvolvimento do
país, não deixava de levantar resistências, nomeadamente dentro da própria
comunidade portuguesa. A vinda de mais imigrantes foi por vezes sentida
como uma ameaça aos que já estavam instalados. Esta vaga migratória chegou
mesmo a ser interpretada como a continuação da anterior ocupação colonial,
o que era um incómodo para um país que procurava afirmar a sua
independência para à sua antiga metrópole.
O
resultado destes preconceitos foi que, embora a documentação seja muito
abundante, continuam a ser raros os estudos sistemáticos sobre a maior comunidade de
imigrantes no Brasil.
Com
base em alguns estudos de reputados especialistas, vamos reconstituir as
estatísticas da emigração legal até 1974. Ano em que o Brasil
recebeu uma nova vaga de refugiados portugueses oriundos de África, Ásia, mas
também de Portugal. A maioria destes "imigrantes", entre os quais
se incluíam muitos empresários, parece que nunca se chegou a legalizar
como tal.
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Carlos Fontes
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