Mafias na Emigração Portuguesa

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  A emigração foi para muitos portugueses uma necessidade absoluta de sobrevivência, mas para outros constituiu um negócio, quer no transporte e colocação dos emigrantes quer na sua exploração nos locais de acolhimento. Um número indeterminado de portugueses têm sido espoliados ou escravizados pelos seus próprios conterrâneos. Trata-se de um aspecto ainda pouco estudado da emigração portuguesa, mas que pontualmente é ainda noticia na comunicação social internacional. 

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Diário de Notícias, 8 de Junho de 2002

Portugueses tinham escravos

Dois portugueses, J. M. B., de 38 anos, e R. J. C. C., de 40 anos, foram detidos pela polícia basca (Ertzaintza), em Villabuena, acusados de manter como escravos três conterrâneos que trabalhavam na agricultura. Estes, não recebiam ordenado, eram golpeados com barras de ferro e estavam impedidos de abandonar a zona.

Os dois portugueses eram intermediários e actuavam com total impunidade, utilizando inclusive capangas para impedir a fuga dos portugueses que trabalhavam ao dia (jornaleiros). Isto, apesar de parte da população e o próprio presidente da câmara terem conhecimento do que se passava. Foi uma queixa anónima que levou à intervenção da polícia, na segunda-feira.

De acordo com a polícia, o cenário encontrado nos barracões onde viviam os jornaleiros era horripilante. "Tinham-lhes tirado os passaportes, estavam encerrados na moradia de um dos intermediários, comiam as sobras deles, não recebiam ordenado e careciam de água quente e banho", disseram.

Os jornaleiros foram contratados em Portugal para realizarem trabalhos agrícolas na zona da Rioja Alavesa (onde se produz o famoso vinho de Rioja) e chegaram à localidade em Abril. "Eram obrigados a trabalhar em condições desumanas, sete dias por semana, doze horas ao dia, sempre vigiados e sob a ameaça de morte" assinala o relatório policial.

As vítimas contaram à Ertzaintza que um dos jornaleiros tentou por duas vezes fugir e foi imediatamente localizado. No acampamento, os dois patrões deram-lhe uma sova para servir de "exemplo" aos companheiros. "Bateram-lhe com barras de ferro e aumentaram a vigilância".

A situação atingiu o limite no fim-de-semana passado, o que levou uma pessoa, que não se identificou, a telefonar para a polícia basca, pedindo a sua intervenção. A Ertzaintza deslocou-se ao local na segunda-feira e encontrou os três trabalhadores portugueses, que declararam estar a ser tratados como escravos.

Os dois detidos são cunhados e moram em Villabuena. Estão integrados na vila, onde vivem com a família e os filhos, que frequentam a escola da povoação.

Um viticultor da zona explicou ao jornal El Correo Espanhol, de Bilbao, que trabalhava com os intermediários, aos quais pagava 54 euros ao dia por cada trabalhador fornecido, dinheiro que teoricamente deveria ser dividido entre eles e o jornaleiro, ao mesmo tempo que se encarregavam da alimentação e estadia dos trabalhadores.

Aquele viticultor reconheceu que situações iguais às dos três portugueses verificavam-se desde há muitos anos, sendo normal a proibição dos trabalhadores de abandonarem a povoação. "São alguns dos jornaleiros que impedem os outros companheiros de se irem embora".

A situação tornou-se embaraçosa para o presidente da Câmara de Villabuena, o nacionalista José Ignacio Besa, que conhecia o caso perfeitamente e nunca lhe pôs cobro. Em declarações ao citado jornal, defendeu-se e acusou as instituições de "ignorar" reiteradamente as suas queixas.

FERNANDO BARCIELA (em Madrid)

 

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Um caso entre muitos outros

Villabuena de Alava, fica situada na região vinhateira de Rioja, no país Basco (Euskadi).A imprensa espanhola referiu que a actuação destas mafias portuguesas não é um caso isolado, mas constitui uma prática corrente na exploração dos emigrantes portugueses. Calcula-se que só em Villabuena pelo menos 500 sejam actualmente vitimas de uma exploração semelhante à narrada nesta notícia.

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