Emigrantes Portugueses Vítimas
de Racismo e Escravatura
em países da União Europeia
Multiplicam-se os casos de emigrantes portugueses que em
países, como a Espanha, Inglaterra, Irlanda, França e Holanda são vítimas de
manifestações racistas ou vivem em situações de autêntica
escravatura.
A
Grande Ilusão A esmagadora maioria
destes emigrantes saiu muito recentemente do país iludidos pelas
facilidades de livre circulação de pessoas e bens formalmente estabelecidas na União
Europeia. Imaginam que em todos os estados membros serão recebidos de braços
abertos.
A realidade que encontram é muito diferente. Em toda a parte não
deixam de ser estrangeiros. A lógica da sua recepção é sempre a mesma:
serão bem recebidos se escasseia a mão-de-obra, mas indesejáveis se o
desemprego estiver em crescimento. As
condições de acolhimento torna-se frequentemente num autêntico pesadelo. Sentem todo o peso da
discriminação nos salários, mas também no contacto com as comunidades locais.
Na
Alemanha e Inglaterra os ataques racistas contra os imigrantes já provocaram
várias vítimas entre os portugueses. Trabalhos
Temporários Muitos dos
novos emigrantes portugueses, procuram nos países da União Europeia empregos
temporários que lhes permitam amealhar rapidamente dinheiro. Estão dispostos a trabalhar em qualquer coisa e nas condições mais
degradantes desde que consigam este objectivo. Esta é a primeira
constatação que se retira quando se analisam os casos dramáticos que a
comunicação social tem ultimamente relatado. Entre os que se dedicam a este tipo de
exploração, destacam-se dois grupos fundamentais: a)
Empresas de trabalho temporário
ou simples engajadores de emigrantes. Em geral começam por lhes prometer mundos e fundos
uma vez chegados
aos países de destino. O que estes acabam por encontrar são condições de vida
miseráveis a troco da simples sobrevivência. Não raro nem sequer
conseguem amealharem dinheiro para regressarem e acabam na escravatura. b)
Redes
mafiosas, onde preponderam portugueses e espanhóis de etnia cigana. Estas redes
mafiosas actuam sobretudo junto à fronteira de Portugal e Espanha e dedicam-se a recrutar
ex-toxicodependentes, imigrantes ilegais e pessoas com gravíssimas dificuldades
de inserção social. Umas vezes prometem-lhes trabalhos temporários em Espanha,
mas outras não
hesitam os raptarem ou coagirem pela violência a fazerem o que pretendem. O destino é sempre o mesmo: a
escravatura e a prostituição.
Novas Causas
da Emigração Portuguesa Desde finais dos anos 90 que
Portugal é também um país de imigrantes. Como podemos explicar que todos os
anos dezenas de milhares dos seus cidadãos continuem a emigrar nas condições
em que o fazem? A
resposta a esta pergunta não é fácil nem pacifica. Emigrar
constitui sempre um corte mais ou menos doloroso com uma dada comunidade. Nunca
é uma aventura inócua, sobretudo quando não se conhece a língua do país de
acolhimento. Quem são estes portugueses para cujo drama a comunicação
social começou a despertar? Na sua maioria
são emigrantes que possuem baixíssimos níveis de escolaridade e de
qualificação profissional. Em Portugal desempenhavam actividades profissionais
pouco ou nada qualificadas. No estrangeiro a sua situação é a mesma, apenas
eventualmente recebem remunerações mais elevadas. É
preciso dizer que a situação destes portugueses agravou-se nos últimos anos. Em Portugal
foram forçados a competirem no mercado de
trabalho com os imigrantes oriundos do Brasil, dos países do leste da Europa ou
de África. Disputam com eles os lugares disponíveis em actividades
desqualificadas e mal remuneradas para o contexto europeu. Ora quem
"ganha" nesta competição são naturalmente os imigrantes - os preferidos
pelos patrões - pois mostram-se mais facilmente disponíveis para trabalharem em condições
deploráveis. Paradoxos Nas
análises que são feitas sobre estes emigrantes é habitual apontar dois
do seus aparentes paradoxos. No país, a maioria
destes emigrantes oferece frequentemente alguma resistência a mudar de local de
residência ou a exercer certas actividades. No entanto, com relativa facilidade emigram para locais no
estrangeiro de que nunca ouviram falar para exerceram actividades em
condições que não hesitariam em recusar em Portugal. Para explicar estes
fenómenos são dadas duas explicações. Primeiro:
A mudança de residência no país
é encarada como uma mudança de vida, um corte com
os laços familiares, mas as mudanças provocadas pela emigração são
percepcionada de forma menos radical. A emigração é vista como uma
situação temporária que não afecta a identidade pessoal
e social do emigrantes. Todos eles esperam um dia voltarem e retomarem a suas vidas no ponto em que
as deixaram, mas em melhores condições. Trata-se, como sabemos, de uma
perigosa ilusão. Segundo:
As tarefas
executadas pelos emigrantes em Portugal e no estrangeiros não possuem o mesmo
significado. Como é sabido os
emigrantes recusam a exercer em Portugal actividades profissionais a que se
dedicam no estrangeiro. Esta mudança de atitude não está necessariamente
relacionada com as diferenças salariais. A questão
prende-se sobretudo com o problema o desprestigio social de certos trabalhos. Em
Portugal muitas
destas actividades profissionais são assumidas como des-qualificantes e os que
as exercem sentem-se diminuídos socialmente. Ora, enquanto emigrantes no
estrangeiro, o exercício destas mesmas actividades é visto como natural e
é até assumido como um
sinal positivo da sua capacidade de adaptação e iniciativa individual. Com alguma insistência,
estas duas atitudes são apontadas como o reflexo de uma atitude mais profunda
face ao próprio país. Afirma-se que no estrangeiro muitos destes emigrantes revelam um espantoso dinamismo no
desempenho profissional, o que contrasta com a sua atitude passiva no próprio
país.
Apesar de algum exagero neste retrato, o mesmo possui contudo um evidente fundo
de verdade. O que está na base
destes dois tipos de comportamentos ? Apenas um
problema cultural? A questão exige uma reflexão mais ampla,
sobretudo num país onde a emigração
continua a ser uma tradição bem enraizada na cultura portuguesa. Carlos
Fontes |