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País de Exilados
As perseguições
políticas em Portugal só terminaram em 1974, com o fim da longa ditadura
(1926-1974). Durante 48 anos milhares de portugueses foram vítimas de
ferozes perseguições pelas suas convicções políticas, e um grande dos quais
exilaram-se nos mais diversos países do mundo, como a França, Inglaterra,
Bélgica, Suécia, Suíça, Argélia, EUA, Brasil, Venezuela ou a Rússia.
Entre estes
exilados destacamos algumas figuras como Jaime Cortesão, Humberto Delgado, Mário
Soares, Alvaro Cunhal, Cláudio Torres, Manuel Alegre e milhares de outros.
Ainda no século
XX, após a implantação da República em 1910, ocorreu uma enorme vaga de
refugiados não apenas monárquicos, mas também republicanos perseguidos pelo novo
regime. Exilaram-se em países como a Espanha, França, Inglaterra, Tunísia ou o
Brasil. Para Inglaterra foi, por exemplo, o último rei de Portugal -
D-Manuel II. O presidente Manuel Teixeira Gomes, morre no seu exilio
voluntário no Norte de África. Costa Gomes que chefia o golpe militar de
1926, termina exilado em Angra do Heroísmo.
O século XIX é
desde o inicio marcado por uma impressionante de refugiados portugueses. A
familia real portuguesa, em 1807, com mais de 15 mil pessoas foge para o Brasil,
e regressa em 1821. Quatro reis de Portugal estiveram refugiados no Brasil:
D. Maria I, D. João VI, D. Pedro IV e D. Maria II.
As lutas entre liberais e absolutistas que se seguiram
à Revolução Liberal de 1820 e terminaram numa feroz guerra Civil (1828-1834), provocaram enormes vagas de
exilados para a Inglaterra, França, Espanha e Itália. Entre os milhares de
refugiados que fugiram para Inglaterra contavam-se, por exemplo, Almeida Garrett
e Alexandre Herculano. Finda a guerra, outro rei de Portugal
partiu para o exílio - D. Miguel.
Ao longo de todo
o século XIX as muitas revoluções e golpes de Estado geram constantes
perseguições e fugas para o estrangeiro, nomeadamente para Espanha e França.
O Desterrado
(1872), escultura de Soares dos Reis, inspirado num poema sobre o exilio de
Alexandre Herculano.
Desde 1497 até
1820, a história de Portugal é marcada por uma sistemática perseguição
religiosa e política, depois de 1534 liderada pela Inquisição. Um
número incalculável de portugueses acusados de judaísmo, heresia, feitiçaria e
outras crenças viram-se obrigados a fugirem para os mais diversos cantos do
mundo.
Mais
A história
anterior de Portugal foi igualmente marcada por períodos enormes guerras civis,
conspirações, perseguições que resultaram impressionantes vagas de refugiados.
Dois reis inclusive tiveram a experiência do exílio: D. Sancho II
(1209-1248) foi exilado para Castela, onde se encontra sepultado na cidade de
Toledo. D. Afonso III (1210-1279) foi para França. |
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País de Refugiados
Ao contrário do que a
extrema-direita hoje procura afirmar, o povo português ao longo da sua história
sempre recebeu importantes vagas de refugiados. Nos último anos recebemos de
braços abertos, por exemplo, kosovares (1998) e bósnios (1992).
Depois da
independência de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Timor e São Tomé
e Príncipe foi naturalmente em Portugal para onde vieram muitos milhares de
pessoas fugidas à guerra ou a perseguições políticas. Para não falarmos dos mais
de 500 mil portugueses que aqui chegaram vindos das ex-colónias em 1974/5.
O filme "Casablanca" (1942), relata
a história de um casal que nesta cidade marroquina pretende fugir para Lisboa,
onde estaria a salvo da perseguição dos nazis.
Portugal foi durante a II Guerra
Mundial (1939-1945) um porto de abrigo para largas dezenas de milhares de
refugiados, muitos dos quais acabaram por ficar no país, mas a maioria foi para
o continente americano.
O paquete "Serpa Pinto" foi o navio
português que maior número de refugiados transportou durante a II Guerra
Mundial. Para evitar ser afundado por submarinos alemães tinha escrito o nome de
Portugal (país neutral).
Durante a Guerra Civil de Espanha
(1936-1939) foram incontáveis os espanhóis que aqui procuraram exilio. Dada a
proximidade geográfica, as vagas de exilados espanhóis têm sido uma constante
desde que este país se formou (1492), como antes acontecia com castelhanos
e aragoneses. Portugal era, para muitos deles, a sua pátria de exilio.
Na primeira metade do século XIX,
por exemplo, assistimos a uma verdadeira vaga de refugiados italianos liberais,
um dos quais (maestro
Angelo Frondoni)
foi o autor do célebre
hino Maria da Fonte ou Hino do Minho.
Nos séculos XVI e XVIII foram
marcados pela vinda de milhares de católicos ingleses e irlandeses fugidos a
perseguições religiosas.
Valor da Solidariedade
Há um antigo
provérbio português que diz que "Onde comem dois, podem comer três". Em todas as
épocas, independentemente das condições sociais e económicas existentes houve
sempre pessoas dispostas a ajudarem outras, partilhando aquilo que possuem, quer
sejam bens materiais, saber, tempo, trabalho ou o que seja.
Outros sempre os
houve que alegam todas as dificuldades do mundo para se recusarem a ajudarem o
próximo. No seu pequeno mundo só eles existem.
Cabe a cada um de
nós escolhermos em qual dos mundos pretendemos viver: a partilha ou o egoísmo.
Carlos Fontes |
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