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( VII )
A Grande Conspiração
Socrática
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1. Descoberta da Conspiração
O juiz Carlos Alexandre e o
procurador Rosário Teixeira, quando andavam a investigar José Sócrates, em
2013, descobrem pelas escutas telefónicas que o mesmo preparava um
verdadeiro golpe de estado, como mais tarde revelará António José Saraiva
(Doc.2).
Como o juiz e o procurador não
podiam confiar em ninguém na justiça, dado que Sócrates tinha minado todo o
sistema judicial, os únicos a que pode recorrer face a esta ameaça são os
jornalistas do Correio da Manhã, em particular ao Eduardo Dâmaso.
Violando o segredo de justiça a
que legalmente estão obrigados, informam um jornalista do Correio da Manhã (CM)
das escutas que estavam a fazer ao ex-primeiro-ministro (2005-2011). Face à
gravidade do caso, o jornalista do CM informa Afonso Camões, em Maio
de 2014, quando o mesmo se encontrava em Macau e na República Popular da
China com Cavaco Silva. (Doc.1).
O jornalista do Correio da Manhã
desconhecia todavia que Afonso Camões era amigo "há quarenta anos" de José
Sócrates, e a primeira coisa que este tratou de fazer foi informá-lo das escutas
telefónicas. Sócrates, segundo do Correio da Manhã, passou a ter tempo
para destruir a documentação que o podia comprometer e confundir os agentes que
o escutavam.
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2. O Grandioso Plano Socrático
O plano de José Sócrates para dominar
Portugal era verdadeiramente fantástico se tivermos em conta as palavras de José
António Saraiva (director do Sol) (Doc.2), Eduardo Dâmaso (director-adjunto do Correio
da Manhã) e outras reputadas criaturas jornalísticas.
Sócrates apoiado num vasta rede de
cúmplices, como o advogado Proença de Carvalho ou o empresário Carlos Santos
Silva (preso), desde a Justiça, forças armadas, banca às grandes empresas tudo
ficaria sob o seu controlo. O plano secreto agora revelado por estes
jornalistas, com base na informação de um juiz e um procurador, era não apenas
perfeito, mas grandioso.
a ) Controlo da Justiça
b ) Controlo da Banca
c ) Controlo das Obras
Públicas
d ) Controlo da PT
e ) Controlo da Entidade
Reguladora para a Comunicação Social (ERC).
José Sócrates bem tentou
controlar a ERC enquanto foi primeiro ministro, mas não o conseguiu. Depois de
se demitir, prossegui o seu plano de dominar Portugal, e ordenou a um dos seus
cúmplices o advogado Proença de Carvalho, para ordenar a Carlos Magno, presidente da ERC para que este travasse as notícias
que o CM, em 213, publicara sobre a vida de Sócrates em Paris e a sua ligação à Octapharma (CM, 15/1/2015).
f ) Controlo da Comunicação
Social. Sócrates quando
foi primeiro-ministro quase conseguiu controlar toda a imprensa, mas não o
conseguiu. Dois anos depois de sair do governo, pressiona
o seu cúmplice Proença de Carvalho para que convença outros a adquiram uma
participação significativa no capital a Controlinveste, dona do JN, DN e TSF, o
que veio a acontecer. Este advogado ficou como presidente do conselho de
administração desta empresa, dada agora como controlada por José Sócrates (CM, 15/1/2015).
A grandeza do plano socrático só
encontra equivalentes nos que foram concebidos por duas figuras centrais na
histórica de Portugal: D.
João II na questão do Tratado de Tordesilhas e o Marquês de Pombal na
expulsão dos jesuítas.
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3. Contra Golpe do Juiz, Procurador,
Correio da Manhã, Sol e jornal I.
Apesar da grandiosidade do plano de
Sócrates para dominar Portugal, o mesmo não contava com a coragem do juiz Carlos Alexandre e do
procurador Rosário Teixeira, que foram informando o Correio da Manhã, Sol e "I"
das escutas que faziam. Toda a estratégia montada para dominar Portugal e quem
sabe o mundo, caiu por terra.
Estes jornais, guardas
avançadas de Portugal passaram a atacar de forma sistemática não apenas o
cérebro da grande conspiração, mas também os seus cúmplices. Estava em jogo o
futuro do país e da Civilização Ocidental.

Correio da Manhã,
15/1/2015, onde denúncia alguns dos cúmplices de José Sócrates.
Afonso Camões, o homem que
em Maio de 2014 avisou Sócrates que estava a ser escutado, acabou desmascarado.
Embora Sócrates soubesse que estava sob escuta, recomenda-lhe neste ano que
passe de presidente do conselho de Administração da Lusa (agencia
noticiosa de Portugal), para a direção do Jornal de Noticias (JN), para
onde passou em Setembro de 2014, para concorrer comercialmente com o
Correio da Manhã. Como ? Produzindo um jornal que mergulhe ainda mais na
lixeira.
Se Sócrates sabia que estava a ser
escutado, Afonso Camões, embora o tenha avisado do facto, acabou por se esquecer
e falou com Sócrates. As gravações destas conversas foram naturalmente parar ao
Correio da Manhã, que se preparou para vender mais alguns jornais com a notícia.
Afonso Camões, ao saber do que o CM
preparava, assustado, no dia 8 de Janeiro de 2015,
pediu uma audiência à Procuradoria-Geral da República (PGR) que o ouviu no dia
15 de Janeiro. A PGR , manifestou-se indiferente à facto dos juiz e o procurador
quebrarem o segredo de justiça, e recomendou-lhe que arranja-se um advogado para
o defender da campanha de difamação que o CM certamente lhe faria.(Doc.1). A PGR
acabou por publicar um comunicado, a lavar do facto as suas responsabilidades. A
demência torna-se preocupante.

O Correio da Manhã, porta-voz do
juiz e do procurador do processo Sócrates, revela mais uma faceta da guerra que
se desenrola no bastidores. Estes dois homens continuam a não poderem confiar em
ninguém na justiça. O procurador Rosário Teixeira vai fiscalizar o sorteio do
processo no Tribunal da Relação que irá apreciar o recurso de José Sócrates.
Teme que os juízes deste Tribunal sejam cúmplices de Sócrates e o libertem (CM,
18/1/2015).
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4. Conspirações & Conspirações
O delírio conspirativo do Correio da
Manhã e outros pasquins é de tal forma alucinante, que nos leva a colocar
pergunta: - O que leva as pessoas a acreditarem em teorias da conspiração ?
Vários estudos defendem a tese
que existe no ser humano uma propensão para acreditar em conspirações. Ao
desconhecer todos os perigos que quotidianamente pode enfrentar, imagina
cenários sobre a sua ocorrência.
Em situações sociais particularmente
complexas, onde as pessoas não compreendem todas as coisas que estão em jogo, as teorias das conspirações
permitem fornecer um quadro explicativo unificado e simplista que confere sentido
a tudo o
que não compreendem. Os perigos difusos são corporizados, satanizados e relacionados entre
si, numa narrativa onde nada acontece por acaso. Desta forma o seguidor destas
teorias encontra alguma tranquilidade, pois imagina-se dominador dos
acontecimentos.
Karl Popper (A Sociedade
Aberta e os seus Inimigos, Conjecturas e Refutações, Em Busca de um Mundo
Melhor, etc) mostrou que as teorias das conspiração são
construções sociais.
Os que acreditam e defendem a
teoria das conspirações, concebem as sociedades humanas como organismos
submetidas a leis deterministas, onde nada acontece ao acaso. Tudo o que
acontece é consequência de intenções (propósitos, objectivos) de alguém, um
grupo, raça, instituição, país ou religião.
Nesse sentido, alguém tem que ser
sempre responsabilizado aquilo que de mal acontece, porque se acontece é porque
alguém andou (em segredo) a congeminar (conspirar) para que acontecesse.
O acontecimento social por
mais mais aleatório (não-intencional) que seja é sempre visto como o produto de
uma dada mente (o culpado, o bode expiatório). Todas as suas consequências foram
as previstas, nada aconteceu de inesperado (novo). O passo a seguir é
eliminar os culpados do que aconteceu para que a ordem natural das coisas seja
resposta. As teorias das
conspirações não são novas. "Homero, escreve Popper, concebeu o poder dos deuses
de tal forma que tudo aquilo que acontece na planície de Tróia seria apenas um
reflexo das várias conspirações no Olimpo" (Conjecturas e Refutações). Os regimes totalitários
alimentam-se da criação de
"complôs" imaginários para lançarem campanhas como o apoio popular
para eliminarem os seus opositores (bodes
expiatórios).
Richard Hofstadter, num
artigo de 1964, na "Harper's Magazine", usou o termo "paranóide" classificar os
conspiracionistas. Estes vêem conspiração em termos apocalípticos,
passam nos seus discursos entre o nascimento e a morte de mundos inteiros,
ordens políticas inteiras e sistemas completos de valores humanos. Eles
afirma-se frequentemente como os guardiões da civilização. As pessoas
clinicamente "paranóides" sentem que todos estão a remar contra elas. As
pessoas que são socialmente "paranóides" acreditam que poderes ocultos estão
perseguindo a sua classe social, nação ou religião.
Daniel Jolley e Karen Douglas,
num estudo publicado em 2013, no "British Journal of Psychology", descobriam que
a exposição a teorias de conspiração diminui a probabilidade de uma pessoa se
envolver em acções políticas, quando comparadas com as que são expostas à
informação que refuta teorias de conspiração. As teorias da conspiração tendem a
alienar socialmente as pessoas, desligando-as da sociedade.
Todas as teoria de conspiração, como
escreve Umberto Eco (Uma teoria de conspirações e seus perigos, 2014),
desviam a opinião pública para perigos imaginários, distraindo-as de ameaças
reais.
Jornalismo Conspiranóico
A análise da prática de jornalistas
como Eduardo Dâmaso, Felicia Cabrita ou José António Saraiva, levou a que fosse
criado um novo conceito - conspiranóicos -, para caracterizar os
criadores de teorias da conspiração que atingiram o nível da paranóia. Um tema
que iremos desenvolver.
Carlos Fontes |
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Documentos:
1.
O juiz
Carlos Alexandre e o procurador Teixeira informam o Correio da Manhã da Grande
Conspiração Socrática, violando o segredo de justiça
Estado
não cumpre e assobia para o lado, Afonso Camões, in Jornal de Notícias,
19/01/2015
(Director do jornal)
O Estado português deixa que se violem
sistematicamente o segredo de justiça e o direito de reserva da vida privada, e
assobia para o lado. Posso testemunhá-lo. Disse isso mesmo à Senhora
Procuradora-Geral da República, de quem se espera que seja a guardiã dos
direitos de cidadania. E que faça o que lhe compete.
Explico-me.
Primeiro, o romance de cordel.
Desconheço a dimensão da matilha, mas sei que,
ainda que pouco inteligente, obedece ao dono que a mandou ir "chatear o camões".
Só percebeu a terminação, mas veio. Literalmente.
Razões sanitárias inibem-me de dizer o nome da
Coisa publicada que nas últimas horas, e provavelmente nas próximas, mente com
todas as letras, procurando atingir o meu nome, Afonso Camões, e, por esta via,
tentar minar os laços de confiança e de credibilidade na relação com os leitores
que fazem do Jornal de Notícias um grande jornal nacional, sustentável, vencedor
e orgulhoso da sua pronúncia do Norte.
A Coisa publicada - que lidera em Portugal o
triste campeonato das condenações e dos crimes por difamação, abuso de liberdade
de imprensa, de violação do direito de reserva da vida privada e outras
malfeitorias escritas que tais - mente e manipula, sabe que o está a fazer, mas
vai ter que responder por isso, mais uma vez. Associa-nos a um fantasioso plano
conspirativo para a tomada do poder na comunicação social, a mando do antigo
primeiro-ministro José Sócrates. Esse mesmo, aperreado há 59 dias sem culpa
formada, detido preventivamente por suspeitas de corrupção, branqueamento de
capitais e fraude fiscal.
A "novidade" que trazem, de mau "jornalismo", é
velha de mais de 40 anos, tantos quantos os da relação de amizade que mantenho,
com gosto e desde a minha juventude, com Sócrates.
E dizem que o avisei que ia ser detido. E que
terá sido em maio, quando eu integrava a comitiva do presidente da República à
China e a Macau. Ora, se o avisei, e se foi em maio, eu era administrador e
presidente da Agência Lusa. Logo, não estava jornalista, muito menos diretor do
nosso Jornal de Notícias. E, pelos vistos, nem sequer havia processo.
É verdade: disse-me um jornalista do grupo
empresarial da Coisa que a prisão de Sócrates estava iminente. Esse mensageiro
cometeu um erro: quando se tem uma informação relevante, o primeiro dever de
cidadão de um jornalista livre, pesados os seus direitos e responsabilidades, é
para com os seus leitores.
Ele deveria ter publicado a informação, que lhe
veio, disse-me depois, por um seu camarada, diretamente da investigação,
liderada pelo juiz Carlos Alexandre e pelo procurador Rosário Teixeira. Erro
maior, criminoso, é ser verdade essa possibilidade: que a fuga de informação
veio dos agentes da justiça, ou seja, de onde menos podemos admitir que se
cometam crimes de violação do segredo de justiça.
Sim, eles falam com jornalistas!
Durante meses, o caso parecia ter ficado por
ali.
Mas basta uma pequena ponta de verdade para
sobre ela fazer cair a sombra de uma grande mentira. Depois da detenção de José
Sócrates, a 21 de novembro, mas comentada há meses nos meios políticos e
jornalísticos, começou a circular nos corredores da intriga que eu teria avisado
o antigo primeiro-ministro da sua iminente detenção. Mas, agora, já como diretor
do JN, o que configuraria uma grave violação do Código Deontológico. A mentira
chegou, plantada, a vários jornais, mas teve sempre perna curta.
O ataque à minha reputação, mas sobretudo à
independência e à credibilidade do nosso Jornal de Notícias, levaram-me a pedir
uma audiência à Senhora Procuradora-Geral da República. Joana Marques Vidal
recebeu-me quinta-feira à tarde, dia 15, na presença do meu diretor-executivo e
do diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, Amadeu Guerra,
que tutela a investigação ao caso Sócrates, liderada pelo procurador Rosário
Teixeira e pelo juiz Carlos Alexandre.
Narrei à procuradora parte dos factos aqui
descritos. Mostrei-lhe séria preocupação pela intentona em curso, lesiva e
violadora dos meus direitos, liberdades e garantias, e, sobretudo, o gravíssimo
atentado à credibilidade deste JN centenário, que atravessou regimes e
revoluções, mas que não é nem nunca poderá ser utilizado como instrumento de uma
qualquer guerra empresarial, na disputa pelo controlo dos média portugueses.
Falei a Joana Marques Vidal das escutas de que
estaria a ser alvo, da violação do segredo de justiça, da tentativa de
condicionamento da minha liberdade enquanto diretor de jornal e jornalista, e da
necessidade de a procuradora-geral, como guardiã dos direitos dos cidadãos,
atuar para impedir esta violência e a continuação destes crimes. Disse-nos nada
poder fazer e, candidamente, aconselhou-nos a consultar um advogado...
Diz a Coisa publicada que foi Sócrates que me
fez diretor do Jornal de Notícias.
Sou honrosamente diretor deste grande jornal,
com o voto unânime do seu Conselho de Redação, depois de ter aceitado o convite
dos meus administradores, com o apoio do Conselho de Administração deste grupo
empresarial. É perante eles que respondo. E é aos nossos leitores que dou a
cara, cada dia.
Aqueles que se cruzaram comigo ao longo de 35
anos de carreira, que me orgulha a mim, aos meus filhos e amigos, sabem a massa
de que sou feito.
Trabalhei com zelo e lealdade sob Freitas Cruz,
Feytor Pinto, Marcelo Rebelo de Sousa, José Miguel Júdice, Francisco Balsemão,
Cunha Rego, Vasco Rocha Vieira. Nos últimos anos, enquanto administrador da
Lusa, trabalhei sob sete ministros, ao longo de três governos de diferentes
famílias.
Não sou de deixar ninguém para trás. E guardo
em casa, entre outras honrarias, a medalha de mérito da minha terra e a Medalha
de Mérito Profissional que me foi atribuída em nome do Estado português.
Mas voltemos à audiência na Procuradoria-Geral
da República. O diretor do DCIAP, Amadeu Guerra, considera que "não há política
neste caso" e, sem que eu o tivesse questionado, sublinhou a confiança dos seus
"homens no terreno" (estou a citá-lo), negando, primeiro, ter ouvido as escutas,
mas, depois, confirmando ter ouvido mas não tudo.
No dia seguinte, a 16, a Coisa publicada
bradava o primeiro folhetim da fantasia conspirativa, pretendendo atingir o
presidente do Conselho de Administração da Global Media, Daniel Proença de
Carvalho, e os seus administradores.
Quem é essa gente, que atira a pedra escondendo
a mão?!
Há mais de 400 anos, Filipe II de Castela,
aquele que residiu em Lisboa, topou-lhes o caráter nos avoengos, em carta
enviada à mãe para Madrid: gente rasteirinha, daqueles que "sofrem mais com a
ventura alheia do que com a dor própria". Dói-lhes de inveja que sejamos sãos, a
crescer e melhores do que eles. E estão outra vez enganados: aqui, na casa,
cumprem-se regras herdadas de gerações de grandes jornalistas, ao longo de 127
anos, e gostamos de roçar a nossa na língua portuguesa. Mas antes mortos do que
na imundície em que esgravatam.
Mais luz sobre este lance põe a descoberto,
também, o mais sujo e antigo dos truques das guerras comerciais que todos
conhecemos: atirar lama sobre os produtos e as empresas da concorrência, para
ganhar vantagem no mercado. É nessas práticas que se revelam os carateres.
Não disputaremos tal terreno.
A liberdade de imprensa não pode ser utilizada
em nome do lucro ou de agendas empresariais. Nada é mais importante do que a
liberdade. E são ignóbeis quaisquer tentativas de submeter a liberdade a agendas
pessoais - sejam elas privadas, ou mesmo públicas.
Não podemos permitir que, a coberto de um caso
mediático, empresas nossas concorrentes utilizem a mentira para tentarem ganhar
vantagem.
A meses de duas eleições que convocam os
portugueses para importantes escolhas, a quem aproveita a tentativa de
condicionamento do JN?
Este jornal tem critérios e depende
exclusivamente deles. São os da ética e do rigor profissional. Não tem ambições
políticas e é indiferente a quem as tiver. Não deve obediências a partidos,
autarquias, clubes, empresas ou qualquer sacristia. Mas não é nem será neutral
na defesa das grandes causas, pela liberdade e dignidade do homem como medida de
todas as coisas.
Contra o centralismo, a miséria, a ignorância,
a inveja e a tirania, não gostamos do jornalismo mole, narcótico ou redondinho.
Ao contrário, apreciamos e procuraremos acolher e cultivar a prosa culta,
comprometida, por vezes revoltada - e sempre, sempre inconformada. Um jornal são
milhões de palavras. E quem as escreve escreve-se a si também, no seu registo
histórico.
O JN é um exercício de memória contra o
esquecimento. Na batalha contra as desigualdades e na afirmação da solidariedade
inclusiva, em primeiro lugar na relação de vizinhança, aí esteve e aí estará
sempre o Jornal de Notícias.
Como eu compreendo o Papa Francisco quando, há
poucos dias, disse que se alguém lhe ofendesse a mãe "deveria estar preparado
para levar um soco". Por mim, hesito em ir às fuças cobardes de quem me quer
ofender, porque resisto à ideia de meter as mãos na enxovia.
Até lá, o Senhor lhes perdoe, que eu não posso.
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2.
A Grande Conspiração
Socrática
Do que nos livrámos!,
José António Saraiva, in jornal
Sol, 01/12/2014
(Director do jornal)
Em
2008, o BPN foi nacionalizado contra a vontade dos seus accionistas. Na altura,
poucas vozes contrárias se fizeram ouvir, até porque a nacionalização tinha o
aval do governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio.
Após este acto, o Governo designou como administrador do BPN Francisco Bandeira,
um homem da confiança pessoal de Sócrates.
Entretanto, no ano seguinte, na sequência de convulsões internas, o BCP seria
'governamentalizado', entrando para a administração Carlos Santos Ferreira e
Armando Vara, notórios amigos de Sócrates.
O BES, por seu lado, era governado por Ricardo Salgado, cuja cumplicidade com
Sócrates se tornou a partir de certa altura evidente, ao ponto de - quebrando a
sua proverbial contenção nas referências ao poder político - elogiar por
diversas vezes o primeiro-ministro em público.
Quanto à CGD, era tutelada pelo Governo.
Em conclusão, exceptuando o BPI (de Fernando Ulrich), a partir de 2009 toda a
banca ficou 'nas mãos' de Sócrates ou dos seus amigos: CGD, BCP, BPN e BES -
para não falar do BdP, onde pontificava Constâncio.
Na comunicação social a situação também não era famosa.
No início do consulado de José Sócrates, o grupo Controlinvest (DN, JN e TSF),
de Joaquim Oliveira, foi logo identificado pelo primeiro-ministro como um
potencial aliado (até pela sua dependência da banca).
O grupo Cofina (Correio da Manhã e Sábado), de Paulo Fernandes, também se
mostrava cauteloso nas referências ao Governo.
O grupo Impresa (SIC, Expresso e Visão) mantinha-se na expectativa.
O grupo RTP (RTP e RDP) pertencia ao Estado e mostrava-se dócil.
O grupo Renascença não se metia em sarilhos.
Restava o quê?
A TVI e o Público - este dirigido por José Manuel Fernandes, considerado por
Sócrates persona non grata.
O SOL só apareceria mais tarde.
Quando rebenta o caso Freeport, em 2009, as coisas vão aquecer.
A TVI estabelece um acordo com o SOL para a investigação daquele tema e torna-se
para Sócrates um inimigo declarado.
Manuela Moura Guedes, a pivô do jornal televisivo de sexta-feira (que antecipa
as notícias do Freeport), é o primeiro alvo a abater - e Sócrates empenha-se em
afastá-la por todos os meios; mas tal não se mostra fácil, dado ser mulher do
director da estação, José Eduardo Moniz.
Em desespero, Sócrates tenta usar a PT para comprar a TVI, mas o negócio
borrega.
Também há tentativas para fechar o SOL, através do BCP (que era accionista de
referência do jornal), comandadas por Armando Vara.
No que respeita à Impresa, apesar de não fazer grande mossa ao socratismo, sofre
vários ataques, designadamente por parte de Nuno Vasconcellos e Rafael Mora,
líderes da Ongoing e próximos de Sócrates, que tentam encostar Balsemão à
parede.
Finalmente, sem se perceber porquê, Belmiro de Azevedo aceita a saída de
Fernandes da direcção do Público, e Moura Guedes e Moniz deixam a TVI (indo este
estranhamente para a Ongoing…).
O SOL fica isolado - e só se salvará por ser adquirido por accionistas não
envolvidos na política interna.
Visto o controlo substancial de Sócrates sobre a banca e a comunicação social,
olhemos para o poder político.
Sócrates dominava naturalmente o Governo, de que era o chefe, e o Parlamento,
onde o PS tinha maioria absoluta - só lhe escapando a Presidência da República.
Por isso, voltou contra Cavaco Silva todas as baterias.
O PS e o Governo tentaram tudo para implicar Cavaco no caso BPN, por deter
acções do banco (embora as tenha vendido antes de ir para Belém).
Esta campanha contra o Presidente da República ressuscitaria com estrondo nas
eleições presidenciais de 2011, com a cumplicidade - diga-se - de muita
comunicação social.
Outro momento alto da guerra contra Cavaco foi o aproveitamento de uma gafe de
um seu assessor, Fernando Lima - que tinha falado a um jornalista sobre a
possível existência de escutas a Belém -, para tramar o Presidente.
Usando uma técnica nele recorrente, Sócrates armou-se em vítima, virou os
acontecimentos a seu favor e tentou destruir Cavaco Silva, acusando-o de montar
uma cabala.
Outra vez com a ajuda de muitos jornalistas, os socratistas exploraram o caso à
exaustão e o assunto foi objecto de intermináveis debates televisivos - onde se
chegou a dizer que o PR tinha de renunciar ao cargo!
A campanha não matou Cavaco mas fez mossa, fragilizando o único bastião que não
era dominado por Sócrates na esfera do poder político.
Talvez hoje alguns jornalistas percebam melhor o logro em que caíram.
Passando finalmente à Justiça, Sócrates tinha no procurador-geral da República,
Pinto Monteiro, e no presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha do
Nascimento, não propriamente dois cúmplices, como alguns disseram, mas duas
pessoas que pareceram sempre empenhadas em protegê-lo, fossem quais fossem as
razões.
Nesta área, Sócrates contava ainda com um bom aliado: Proença de Carvalho,
pessoa influente nos meios judiciais (incluindo junto de Pinto Monteiro).
E teve sempre o apoio do bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto.
Portanto, também aqui, o primeiro-ministro estava bem acolchoado.
Governo, Parlamento, Justiça, comunicação social, banca: Sócrates controlava os
três poderes do Estado - executivo, legislativo e judicial - e estendia os seus
tentáculos ao quarto poder (os media) e ao poder financeiro (os bancos).
Talvez muita gente não se tenha apercebido na época deste cenário aterrador.
Mas olhando para trás - e sabendo-se o que hoje se sabe - temos noção do perigo
que o país correu: um homem sobre o qual pesam suspeitas tão graves chegou a
deter um poder imenso, que se alargava a todas as áreas de influência.
Só de pensar nisto ficamos assustados - e é muito estranho que alguns dos que
privavam com ele não se tenham apercebido de nada.
Foi lamentável ver pessoas de bem - como Ferro Rodrigues ou Correia de Campos -
fazerem tão tristes figuras, defendendo-o encarniçadamente até ao fim.
É certo que, como bem disse José António Lima, a democracia venceu-o,
afastando-o do cargo.
Mas também foi a democracia que permitiu que um homem como este chegasse a
reunir um poder tão grande em Portugal.
Isso mostra a vulnerabilidade do sistema democrático.
P. S. - No caso dos vistos gold, logo a seguir às detenções, deu-se por
adquirido que os arguidos eram culpados, considerou-se “inevitável” a demissão
de Miguel Macedo, e António Costa disse que o Governo ficava “ligado à máquina”.
Uma semana depois, as mesmas pessoas contestam a prisão de Sócrates, invocam a
“presunção de inocência” e acham “absurdo” falar na hipótese de demissão de
António Costa. Palavras para quê?" |
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Notas :
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