Anarquismo em Portugal
(1796 - 2021)
Carlos Fontes
PDF
Em 2021 comemorou-se os 225 anos da divulgação das primeiras ideias anarquistas em Portugal. É uma data pretendemos assinalar com este livro. A sua estrutura base foi elaborada em 1975 quando era redactor do jornal A Batalha. Na altura um dos nossos problemas era a ausência de uma história do anarquismo em Portugal que nos permitisse perspectivar as lutas em que estávamos envolvidos. Os anos foram passando e o material reunido ao longo alguns anos começou a dispersar-se. No Colóquio comemorativo dos 100 anos do jornal A Batalha antigos camaradas recordaram-me o projecto que em tempos havia abraçado. Em casa, revolvendo velhos papéis descobri entre eles o plano do livro a publicar e centenas de fichas que ainda conservava. Desde então muito se avançou na redescoberta das ideias e práticas anarquistas em Portugal, o que me tem obrigado a novas leituras, não contando já com os testemunhos de muitos antigos camaradas. Os tempos são outros, mas as lutas no essencial são as mesmas, por isso o plano continua o mesmo com as mudanças impostas pelo tempo.
Entre os princípios do anarquismo que nortearam a ação de incontáveis homens e mulheres o principal foi a libertação do Ser Humano de tudo o que o inferioriza, o impede de se assumir como um ser autónomo que pensa e decide pela sua cabeça. O seu ideal de sociedade está subordinado à Liberdade, condicionando a sua forma de organização e os meios de a atingir. São princípios que fundamentam uma ética de insubmissão.
A revolta é espontânea. É fruto de uma tomada de consciência de um individuo que sente a opressão, manipulação ou a injustiça seja sobre si próprio ou um semelhante. Este é outro princípio comum a todos os anarquistas. Neste sentido, opõem-se a qualquer tipo vanguarda de iluminados que lhes imponha o que devem pensar, como o devem fazer e como agir.
Em todas as revoluções sociais contemporâneas estiveram sempre presentes e procuraram expressar as suas posições, e sempre que as condições o proporcionaram tentaram concretizar os seus princípios políticos. Os mais individualistas entre eles nunca renegaram o seu papel social. O campo privilegiado de luta é o quotidiano, os locais de trabalho ou de residência onde o domínio (poder) de uns sobre outros se exerce. Foi sempre assim ao longo da sua história. Quando tudo parece normalizado, conformado ou pacificado ressurgem através de combates individuais ou de pequenos grupos impelidos por uma ética libertária que não reclama reconhecimento social.
O anarquismo na sua radical afirmação da Liberdade é por natureza plural, combate o dogmatismo, as ideias únicas. Ao longo dos tempos o seu ideário foi sempre amplamente discutido, no entanto os caminhos apontados para o concretizar raramente foram consensuais, daí a diversidade de causas abraçadas pelos anarquistas.
Ao dirigismo e centralismo opõe o federalismo porque permite uma gestão mais participada próxima de cada indivíduo. No campo libertário não há uma única doutrina, estratégia ou meios de luta para a Anarquia mas várias.
Neste sentido abdicamos de adjectivar as suas várias tendências (mutualistas, cooperativistas, colectivistas, comunistas, individualistas, sindicalistas, etc). Adjectivos que tornam muitas vezes incompreensíveis o próprio movimento e a sua constante renovação. A repercussão social do anarquismo tem variado bastante ao longo da história de Portugal. Para uma melhor compreensão dos respectivos contextos sociais dividimos a sua história em oito grandes períodos:
1796-1847: Princípios. Godwin
1848-1870: Mutualismo e Federalismo.Proudhon
1871- 1885: Impulso Internacional. Bakunine
1886-1910: Movimento Anarquista. Kropotkin
1910-1926: Educação e Sindicalismo. Malatesta
1926-1974: Resistência às Ditaduras. Rudolf Rocker
1974 -1989: Redescoberta e Acção Directa. Murray Bookchin
1990-2020: Novas Perspectivas - Novas Lutas. Noam Chomsky
No final do texto seguem-se as notas bibliográficas e outros apontamentosinserimos, assim como uma sintética definição de Anarquismo e da Ética Anarquista.
PDF
Anarquismo (literalmente "sem poder")
Movimento político que defende uma organização social baseada em consensos e na cooperação de indivíduos livres e autónos, abolindo entre eles todas as formas de poder. A Anarquia seria assim uma sociedade sem poder, dado que os indivíduos se auto-organizariam de tal forma que garantiriam que cada um teria em todas as circunstâncias a mesma capacidade de decisão. Esta sociedade, objecto de inúmeras configurações, apresenta-se como uma "Utopia" (algo sem tempo ou espaço determinado). É um ideal a atingir. Continuação
Filosofias Anarquistas
Dadas as características do movimento anarquista é impressionante a diversidade de filosofias no campo libertário. Continuação
|