Navegando na Filosofia. Carlos Fontes

Que tipo de discurso interessa aos lógicos?

Quais são os princípios lógicos que podemos descobrir num discurso coerente?

 

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Síntese da Matéria

Lógica do Discurso

 

 

1. A palavra discurso possuí várias acepções na linguagem corrente. Em termos filosóficos possui um significado mais preciso, designa o conjunto de afirmações articuladas de uma forma coerente e lógica. 

2. Nem em todo o tipo de discursos se coloca a questão da lógica. Dois exemplos podem ilustrar esta questão:

2.1. Muitas das afirmações que fazemos são expressão de desejos, sentimentos, emoções ou simples devaneios da nossa imaginação: "Gostaria de ir à Austrália... " Estou apaixonado pela Crisântema". "Apesar de todas as derrotas sofridas, o Cebolinha contínua a ser o meu clube". "Fiquei louco de alegria quando vi o João".  Neste tipo de afirmações ninguém está à espera que as mesmas sejam consideradas válidas ou inválidas, isto se consideramos que uma raciocínio é válido quando os seus argumentos (as premissas) nos fornecem uma evidência suficiente para aceitarmos a sua conclusão. Nestas afirmações não existem argumentos, mas simples manifestações de sentimentos ou emoções. Também, não se coloca a questão da sua verdade ou falsidade, quanto muito poderemos levantar dúvidas sobre a sinceridade de quem as produziu. Mas essa é outra questão.

2.2. Frequentemente formulamos também juízos sobre as coisas: "Os lisboetas afirmam que gostam de jardins. Os jardins de Lisboa estão sujos e degradados. Logo temos que concluir que os lisboetas estão a mentir quando falam de jardins." Trata-se de uma afirmação que exprime um raciocínio, no qual com base em argumentos (razões) se retira uma dada conclusão. Estamos perante uma afirmação muito diferente da anterior. Neste caso, entre outras coisas, podemos questionar:  a)  o modo como está construído o raciocínio; b) a conclusão que é extraída a partir dos argumentos apresentados; c) a própria a verdade dos argumentos apresentados.  

3. Nos exemplos apresentados, apenas o segundo interessa aos lógicos. Trata-se um tipo de discurso onde se afirma ou nega algo, com base num conjunto de argumentos.

4. A análise da lógica de uma discurso, pode ser realizada de muitos modos, por exemplo, podemos analisar:. 

a) A consistência dos argumentos que são apresentados para justificar uma dada conclusão. Nem sempre os argumentos apresentados são credíveis face às crenças que todos partilhamos.

b) A forma como racionamos, isto é, a operação mental que nos permite a partir de uma ou mais premissas (argumentos) extrairmos uma dada conclusão. Estudaremos em pormenor este assunto. 

c)A coerência do discurso, em função de um conjunto de princípios que garante formalmente a sua validade. Vejamos em pormenor este ponto.  

5. Aristóteles, na antiga Grécia, foi o primeiro a enunciar os princípios a que deveria obedecer um discurso coerente. Estes princípios acabaram por ser consagrados na seguinte formulação:

5.1. Princípio da Identidade (A é A). Este princípio indica-nos o que as coisas são. Ex. "Um mamífero é um mamífero". Uma vez definido um conceito de certa maneira, essa definição deve permanecer constante ao longo do raciocínio.

5.2. Princípio da Não Contradição ("Nada pode ser A e não A"). Este princípio indica-nos que nada pode ser e não ser ao mesmo tempo sob o mesmo aspecto. Ex. Não podemos afirmar, no mesmo discurso que "Este animal é e não é um mamífero".

5.3. Princípio do Terceiro Excluído ("Tudo é A ou não A"). Este princípio afirma que, uma coisa ou é, ou não é, e não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Ex. "Este animal ou é ou não é mamifero".

A validade do pensamento ou discurso não está dependente do seu conteúdo, da sua matéria, mas sim da forma como está organizado. Para ser formalmente válido tem que ser, antes de mais, coerente. Mas para que isso aconteça é indispensável, como veremos, que os argumentos sejam verdadeiros. Podemos ter conclusões falsas com argumentos verdadeiros, ou o contrário. Outras combinações em raciocínios inválidos são igualmente possíveis. 

Carlos Fontes

Carlos Fontes

 10º Ano - Programa de Filosofia

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