Qual a articulação entre o pensamento e a linguagem?

Pode haver pensamento sem linguagem? E o contrário ?

 

 

 

Conceitos

 

 

 Conceitos. Discurso . Língua . Linguagem . Pensamento .  Signos linguísticos 

 

 

Textos

 

 

1

"O pensamento não é nada de "interior"; não existe fora do mundo, nem fora da palavra. O que nos engana, o que nos faz crer num pensamento que existiria por si anterior à sua expressão, são os pensamentos já constituídos e já expressos que nós podemos invocar silenciosamente e pelos quais nos damos a ilusão de uma vida anterior. Mas na realidade esse pretenso silêncio está ocupado pelo barulho das palavras; essa vida interior é uma linguagem interior. (...) O pensamento e a expressão constituem-se, pois simultaneamente". M. Merleau-Ponty.    

2

"Os seres humanos parece que sempre souberam que eram os únicos com poder de falar, que falavam porque pensavam e que o domínio conjunto destas faculdades, contrapartida provável da sua inferioridade física, era talvez a fonte de poderes excepcionais", C. Demonque.

3

"O mundo em que vivemos, seres humanos que somos, é um mundo linguístico, uma realidade de símbolos e leis sem a qual não só seriamos incapazes de comunicar entre nós mas também de aprender a significação do que nos rodeia", F. Salvater.

4

"Pensa-se no interior de um pensamento anónimo e constringente que é o de uma época e de uma linguagem",  Michel  Foucault.

5

"O discurso é o pensamento ligado por palavras", Vygotsky.

 

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Síntese da Matéria

(Pensamento, Linguagem e Discurso)

 

1. Quando pensamos estamos a realizar um conjunto de operações mentais, como classificar, descrever ou relacionar coisas.

2. Nestas operações mentais utilizamos conceitos.

3. Os conceitos são expressos na linguagem oral ou escrita, por palavras ou conjuntos de palavras, os signos linguísticos. 

4. Na origem destes signos, e em termos mais gerais da própria linguagem, está a língua falada. A língua caracteriza-se por ser: a)  aprendida ( resulta de um processo de enculturação, não é, por isso, inata); b) articulada, enquanto linguagem verbal ( as variações sonoras, traduzidas em fonemas, dão origem à diversidade de palavras; c) simbólica (as palavras substituem os objectos concretos a que se referem. As relações entre os signos e as coisas resultam de convenções). 

 Foi a lingua falada que tornou possível a formação de outros tipos de linguagem (a linguagem dos surdos, a linguagem gestual, etc.). A acto de escrever, como refere Ch. Morris constitui uma das formas secundárias da linguagem oral, cuja função primordial consistiu em fixar as palavras e permitir a sua reprodução.

5. A aquisição desta linguagem oral ou escrita, com a qual expressamos os nossos pensamentos e emoções faz-se em simultâneo com o desenvolvimento do pensamento. Aprendemos a pensar ao mesmo tempo que aprendemos a expressar-nos nas diferentes linguagens. Não podemos separar um processo do outro.

6. A linguagem não pode ser entendia como um instrumento do pensamento, mas como a matéria do próprio pensar. Não há pensamento fora do linguagem, nem linguagem sem pensamento. 

7. Como demonstrou Jean Piaget, quando uma criança começa a falar adquire ao mesmo  tempo um meio de se exprimir e de comunicar cada vez mais eficaz, que lhe possibilita ordenar e  classificar o mundo de uma certa maneira, assim como o seus sentimentos e as suas acções. A nossa língua acaba, desta forma, por modelar a maneira de vemos, compreendemos e descrevemos todas as coisas.  Todas as línguas expressam uma dada cosmovisão.

8. Ao pensarmos sobre as coisas estamos a encadear um conjunto de raciocínios de uma forma mais ou menos coerente. Pensar é de certa forma iniciar um percurso, com um ponto de partida e de chegada, a conclusão. À expressão encadeada do pensamento, sob a forma de palavras designamos por discurso.   

9.  A maneira como descrevemos o mundo tem vindo a adquirir uma complexidade crescente, fruto do desenvolvimento das linguagens que vão sendo criadas para o fazer.

Carlos Fontes

 

Carlos Fontes

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