No bar da escola, Rosa consultava os seus
apontamentos de filosofia. "É pelo pensamento
que as palavras adquirem sentido e se revestem de
significação". Sublinhou a palavra "significação".
Prosseguiu a leitura: "É pela linguagem que o
pensamento se organiza e disciplina em termos lógicos,
ganhando desta forma consistência". Sublinhou
neste caso três palavras: "linguagem",
"pensamento" e "disciplina".
"Mas como podemos analisar a lógica do
pensamento?" A resposta parecia estar numa frase
que transcrevera: "Analisando o discurso, o modo
como está contruido, isto é, os seus conceitos, os
juízos formulados, verificamos em seguida se o
raciocínio é ou não válido." Enquanto
reflectia sobre isto, abeirou-se dela Irene,
visivelmente perturbada. "A mentira é aquilo
que mais detesto!", disse. Não se fez
surpreendia, afirmando :"Para mim é a injustiça.
Pareces zangada?". Era o princípio de uma curta
conversa.
- "Nesta escola são todos uns
mentirosos?"
- "Quem?"
- "Os nossos colegas, os professores...todos!.
Não se pode confiar em ninguém."
Rosa retomou a leitura alheando-se por
completo da colega. Esta sentido-se ofendida pela
atitude perguntou:
-"Já não és minha amiga ?"
- "Sou, mas estás a falar sem pensar,
e eu tenho pouco tempo para estudar".
- "Não te percebo".
- "Ora, pensa. Começas-te por dizer
que detestavas a mentira. Depois afirmas-te que todos
os alunos e professores eram mentirosos"
- "E daí?.
-"Não é verdade que chegaste à
conclusão que não se podia confiar em ninguém
nesta escola?".
- "Onde pretendes chegar?"
- "Não és aqui aluna"
- "Sou..."
-"Logo tenho que concluir que..."
- "...sou mentirosa e ninguém pode
confiar em mim!"
Carlos Fontes