Como é que a ciência transfigura a realidade?
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"Que lindo dia!", foi com estas palavras que Mónica saiu da Estação do Metro de Alvalade dirigindo-se para a Escola. Era a sua tarde "livre", mas voltava de novo à escola, para entregar ao seu amigo João um trabalho que este esquecera na sua casa. Adorava fazer este percurso a pé. Encantavam-na as pequenas lojas do bairro, a agitação das pessoas. Os pequenos imprevistos da rua. Uma bola de praia que se encontrava presa na pala dum estabelecimento, soltou-se, e por uma destas coincidências difíceis de explicar, caiu-lhe mesmo em cima da cabeça. Mónica que acabara de ler um história romanceada de talvez por isso e o mais que se verá, nem ouviu o pedido de desculpas do atarantado dono da loja. Lembrou-se então da pergunta que abriu as portas a uma das maiores revoluções científicas de todos os tempos: "Porque caiu a maçã ?". Tal como lhe acontecera com a bola, ninguém havia atirado a maçã ao solo. A explicação obvia era dizer que estaria provavelmente mal segura, e por isso desprendeu-se. Mas isso não significava, em absoluto que devesse cair, por si só. A não ser que algo a impelisse para a Terra. Esta era a questão decisiva de Newton. "Mas o quê?". Foi com esta interrogação que terá chegado à "Lei da Gravitação Universal". Mónica colocando-se na posição de Newton, fazia mental o percurso desta descoberta. Na verdade se a maçã - todos os corpos - caem à Terra sem que possuam qualquer velocidade inicial, então a Terra deve ter uma força de atracção que os obrigue a cair. O que achava espantoso era a forma como ele a partir de uma questão particular, e rapidamente chegava a outras mais gerais, como aquela em que se interrogou se esta força não seria idêntica àquela que mantinha a Lua em órbita ao redor da Terra. Ao faze-lo, estava a abrir o caminho para deduzir que o Sol exercia também uma força de atracção para manter a Terra e os demais planetas ao seu redor. Mónica que adorava Física, rejubilava agora ao imaginar o momento em que Newton pensou se, no fundo, não haveria uma força de atracção mútua entre os corpos que dependiam das suas respectivas massas. Esta era a chave para a formulação da própria Lei. Enquanto pensava sobre estas fascinantes questões, subia a rampa na escola que dava acesso ao primeiro piso. Aí se encontrava, há já algum tempo, João. A impaciência deste era tal que mal conseguia falar. Mónica mal o viu disse-lhe: -"Não te disse que não me demorava nada". João com um ar zangado: "Uma eternidade, queres tu dizer". Ao que esta ripostou: "Como assim?. Eu apenas me demorei 20 minutos, mais exactamente 1200 segundos". "Só?" disse ele algo espantado. "Basta confirmares. Em ciência é essencial a prova ou a refutação", afirmou prontamente Mónica. Nestas coisas sobre o "Tempo", temos que concluir que o sentido que lhe damos varia conforme as circunstâncias".
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Carlos Fontes