Navegando na Filosofia. Carlos Fontes

 

Atomistas

 

 

Péricles discute com Anaxágoras, pintura de Augustin Louis Belle

Desde o século VII a.C.,um pouco por todo o mundo grego surgem filósofos que procuram compreender a totalidade da experiência humana. Em termos históricos aos eleatas sucedem-se os Atomistas. A sua tese essencial reside na afirmação da multiplicidade originária dos elementos e das causas em acção recíproca.  Aceitam, pois como Parménides que a pluralidade não pode provir de uma unidade originária. Empédocles de Agrigento (c.495 -435) e Anaxágoras de Clazómene (500-428 a.C.) já tinham sustentado este princípio filosófico, mas foram os Atomistas que o assumiram de uma forma radical e extraíram dele importantes conclusões.

Os principais pensadores desta nova corrente filosófica foram Leucipo (?-450 a.C.), Demócrito (460-370 a.C.), Epicuro (341- 271), tendo como seu último representante o romano Lucrécio (96-55 a.c.).

O seu nome deriva de átomo, que significa indivisível. Os atomistas defendiam que na natureza tudo ocorria devido à acção de elementos mínimos invisíveis, os átomos. O poder de que é capaz de exercer o ar parecia-lhes provar esta proposição (B. Farrington). Empédocles, ao mergulhar na água, em posição invertida um vaso de pequenas dimensões, demonstrou que o ar, embora sendo invisível ocupava espaço e exercia pressão sobre a água.

          No entanto, embora Empédocles tivesse uma posição de princípio similar aos atomistas, sustentava que a matéria era constituída  por uma combinação de quatro elementos fundamentais: terra, égua, ar e fogo. Esta teoria foi adoptada, mais tarde por Aristóteles, tendo predominado até ao século XVII , quando foi substituída pelo atomismo moderno.

Vejamos algumas das suas ideias fundamentais destes primeiros atomistas.

Vácuo (não-ser) e átomos (seres infinitos e indivisíveis)

Leucipo  afirmava que a sua teoria sobre o átomos era conforme não apenas com a experiência sensível, mas também não suprimia o nascimento nem a destruição,  nem o movimento ou a multiplicidade dos seres. Sustentava que não poderia existir movimento sem vácuo, sendo o vácuo não-ser. O ser, pelo contrário, é um cheio absoluto, porém não é único, mas há infinitos deles em multiplicidade, sendo todos invisíveis devido à pequenez das suas massas. Estes seres movem-se no vácuo (o não-ser), quando se unem produzem o nascimento e quando se desagregam provocam a destruição. (Comentário de Aristóteles).

Leucipo e Demócrito afirmavam que os átomos eram indivisíveis, diferindo entre si unicamente na forma.(Comentário de Aristóteles).

O cosmos não é, como em Anaxágoras, governado por qualquer inteligência ordenadora, mas por uma necessidade cega, o acaso.

Geração e Composição das Coisas

 Os átomos possuíam um movimento espontâneo, e todas as coisas resultam da sua combinação.

- Os átomos movem-se no vácuo, encontrando-se, chocam-se entre si; uns saltam, outros entrelaçam-se entre si, de acordo com a simetria de suas formas, tamanhos, posições e disposições. Quando se reúnem dá-se o nascimento das coisas compostas (comentário de Simplício).

- Quanto aos corpos compostos, o mais leve é o que contém mais vácuo, e o mais pesado o que possui menos. Algo parecido ocorre nos corpos duros e nos moles. (comentário de Teofrasto,

 Formação e Infinita Multiplicidade dos Mundos

           Leucipo disse que o Universo é infinito. Parte dele é cheio e parte vazio. Nele surgem inúmeros mundos e nele acabam por se dissolver nos seus elementos. Os mundos nascem da seguinte maneira: muitos corpos de todas as espécies de formas movem-se “por abcissão do infinito” para dentro de um grande vazio; aí se juntam e produzem um redemoinho único, no qual, colidindo uns com os outros e revolvendo-se de todas as maneiras, começam a separar-se, o semelhante do semelhante. Mas quando a sua quantidade os impede de continuar a rodar em equilíbrio, os que são finos saem em direcção ao vazio circundante como que peneirados, enquanto que os restantes permanecem juntos e, emaranhando-se, unem os seus movimentos e fazem uma primeira estrutura esférica. (comentário de Diógenes Laércio).

Demócrito, pintura de Hendrick ter Brugghen

Percepção e Conhecimento

Leucipo, Demócrito e Epicuro afirmam que a percepção e o pensamento ocorrem em consequência da entrada na nossa vista de imagens do mundo exterior. Nenhum percepção ou pensamento ocorre a alguém sem o choque de uma imagem proveniente do mundo exterior. (comentário de Écio).

Eles atribuem a percepção a certas imagens do mesmo formato que o objecto, as quais estão continuamente a sair dos mesmos e a chocar com os olhos. (comentário de Alexandre)

Em consonância com esta teoria da percepção estabeleceram dois tipos de qualidades nos corpos compostos: as qualidades subjectivas e as objectivas:

"Por convenção existem o doce e o amargo, o quente e o frio, ou mesmo a cor; na verdade, apenas temos átomos e vazio. Não aprendemos nada exactamente como as coisas são, tudo depende em última instância da condição do nosso corpo e das coisas que chocam com ele ou lhe oferecem resistência”.(fragmento de Demócrito)  .

“O espírito actua através dos movimentos mecânicos e de colisões de átomos, e as suas impressões estão naturalmente sujeitas às distorções das sensações” (fragmento de Demócrito).

Carlos Fontes

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Referências Históricas

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