Agora que haviam aprendido, segundo as
palavras de Francisca que "a experiência é o
meio pelo qual se adquire ou aprende alguma coisa no
contacto imediato com a realidade circundante",
já os alunos no 10º K estavam mergulhados numa nova
dificuldade: identificar os diferentes tipos de
saberes resultantes da experiência. Rodrigo recusou-se
a trabalhar. Miguel tinha dificuldades em descobrir o
que quer que fosse. A televisão era o seu mundo. Se
lhe perguntassem por programas, ou até anúncios,
tudo bem. Calada num canto da sala, Andreia estava
demasiado absorvida com as suas histórias para ter
sequer percebido a pergunta do professor. A repreensão
que este lhe fizera fora mais um pretexto para ela
iniciar uma nova história. Nesse momento contudo
estava entretida com um "alfinete de dama".
Os colegas jocosamente diziam que era com ele que a
sua mãe lhe prendia as fraldas. O certo é que ela não
se desfazia dele. Sabe-se lá porquê. Ao seu lado,
Helena continuava a olhar fixamente para o livro de
estudo. Parecia estar a ler algo, mas não estava.
Essa era a maneira que à muito arranjara para que os
professores não lhe perguntassem nada. O expediente
parecia funcionar. Miguel deu, nessa altura, um grito
que suspendeu a respiração na sala. Todos olharam
para ele. Não era nada. Pediu desculpa. Na verdade,
não o disse, mas, sabemos nós: após inúmeras
tentativas conseguira fazer a silhueta do professor
recortada em papel. Este zangou-se, e como de costume,
falou de princípios, regras, hábitos e até em padrões
culturais que todos já deviam ter interiorizados,
dado que fazem parte de qualquer processo de
socialização, e que são essenciais ao
comportamento em sociedade. Quando voltou a perguntar
para que identificassem tipos de saberes resultantes
da experiência, a turma em bloco, solicitou mais
tempo. Todos precisavam de reflectir melhor, mas em
quê ?
Carlos Fontes