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 Filosofia, Política e Arte 
Devido ao seu percurso pessoal os debates deste pequeno 
grupo centrou-se em torno da relação entre a filosofia, a politica e a arte.
 
Não foi por acaso que  certos espaços de aulas 
prologavam-se pela noite fora até de madrugada, com alguns professores que relevam grande 
abertura a estas temáticas, como João Paisana que dirigia o seminário sobre Maurice 
Merleau-Ponty ou Joaquim João Coelho da Rosa cuja cadeira de Ontologia 
(1982/3) foi transfigurada num espaço de debate sobre o discurso político de 
Aristóteles.   
  
Primeiro número da Filosofia Actual.  
A capa foi desenhada por João Queiroz e sede da revista era a minha casa.  
Revista Filosofia Actual 
Em Maio de 1983, na sequência de um largo debate sobre o 
significado político e intelectual comentário filosófico foi publicado 1º. 
número da Filosofia Actual, com os "últimos" comentários A. J . Lamy, J.V.R.de 
Queiróz, Marcello F. F. , Carlos Fontes. Os comentários não eram simbolicamente 
assinados. 
No número dois, saiu em Junho de 1983, e todos tinham que 
afirmar-se como filósofos, sendo proibidas simbolicamente as referências 
bibliográficas. Participaram com textos A. J. Lamy, Carlos Fontes, João Coelho 
da Rosa, J. Duarte Saraiva, J.V. R. de Queiróz e Manuel J. Rodrigues.  
O espaço de ruptura para uma parte do grupo devia 
centrar-se no campo de intervenções públicas e não em revistas. Neste sentido, o 
número três, saído em Novembro de 1983, contou apenas com textos de A. J. Lamy, 
Carlos Fontes, João Tiago Mexia e Luís Pedro de Morais. 
Os novos elementos que entretanto começaram a participar 
no projecto da revista  manifestaram-se desde logo interessados num tipo 
de revista filosófica mais "tradicional", o que levou ao meu afastamento e do Luís 
Pedro de Morais. O número quatro surgiu em Abril de 1984, e a sede passou para a 
casa do Lamy. O projecto acabou por morrer.    
Intervenções (Públicas) Filosóficas 
No espaço da Faculdade de Letras da Universidade de 
Lisboa, em Maio de 1983, o grupo inicial da "Filosofia Actual"  realiza uma 
performance, onde consagra "Kant como Objecto Estético". A 23 de Junho
 na Sociedade Portuguesa de Filosofia promovem três conferências sobre 
filosofia e estética: "O Novo Sentido do Filosofar" (João Barbosa), "O Fascínio 
dos Limites" (Carlos Fontes) e a abertura de possibilidades discursivas (A. Lamy). 
Estas ações  tinham quase sempre algum impacto na 
comunicação social, graças a um excelente trabalho de bastidores. O Diário de 
Lisboa de 6/06/1983, por exemplo, destacava esta intervenção na FLL. 
Dada a fragmentação do grupo, o projecto de intervenções 
públicas migrou, em 1984, para a nova revista - Logos.  
  
E. Kant (1), Carlos Fontes e João Queiróz, 
a quem coube neste espaço o discurso de consagração de Kant como objecto estético. Dada a complexidade do tema foram 
espalhadas orelhas pela sala para que o próprio espaço fosse contaminado pela cerimónia. 
  
Kant entrando na Biblioteca Matos Romão 
para assistir a mais uma cerimónia de consagração como objecto artístico. De pé 
pode ver-se Marcello F.F. (brasileiro) 
  
A. Lamy 
na 
Biblioteca Matos Romão faz uma intervenção sobre os gostos de E. Kant. 
Ao fundo pode ver-se o antigo funcionário da biblioteca. 
  
  
Vários espaços da Faculdade de Letras de 
Lisboa foram decorados com cartazes pintados por João Queiróz, que aqui pela 
primeira vez se revelou como um notável artista contemporâneo. 
  
O vasto programa que foi organizado pela a 
consagração de E. Kant como objecto estético incluiu um concerto de música do 
século XVIII, interpretada por musico-funcionário da Secretaria de Estado da 
Cultura. 
  
Revista Logos - Publicação Filosófica 
Na minha casa, no inicio de 1984, estava já em gestação um 
novo grupo, com ideias muitos diferentes sobre o que devia ser uma nova 
publicação filosófica. Apesar diso três coisas foram consensualizadas: a gestão colectiva, a 
abertura a novos públicos não apenas universitários e arte como um eixo  
central da nova publicação.  
O grupo inicial era constituído por Carlos Fontes e Luís 
Pedro de Morais, e em certa altura passou a contar com Adelino Cardoso, pois na 
sua qualidade de 
professor do ensino secundário podia trazer novas ideias ao projecto. 
 
O primeiro número da revista surgiu em Junho de 1984, como 
propriedade da Filosofia Aberta - Centro de Estudos  e Divulgação. A sede 
era na minha casa e a revista tinha três directores - Adelino D. Cardoso, Carlos 
Fontes e Luis Pedro de Morais. Os textos reflectiam a procura de novos públicos, 
nomeadamente entre os professores do ensino secundário. 
  
Primeiro Número da revista Logos 
Poética das Artes 
Dando seguimento às intervenções públicas, um ponto 
central que fazia questão de manter, nos dias 29 e 30 de Novembro de 1984, 
realizamos na Sociedade Nacional de Belas Artes, um encontro entre filósofos e 
criadores de arte denominado "Poética das Artes", numa clara alusão a 
Aristóteles. Pelos intervenientes, número de participantes  e  
temáticas abordadas o encontro foi um êxito assinalável. 
Consultar 
Na forja estavam já novos projectos, mas que não tardaram 
a ser abandonados. 
  
O número dois da revista Logos, no qual 
Adelino Cardoso altera a ficha técnica, assumindo-se como o director da revista. 
Uma História Mal Contada 
O número dois da revista estava pronto em finais de 
Novembro de 1984. 
Adelino Cardoso foi incumbido de levar os originais para impressão dada a sua 
maior disponibilidade na altura. Sem consultar ninguém resolveu alterar a ficha 
técnica da revista assumindo-se como o único director e transformando Carlos Fontes e Luís 
Pedro de Morais em seus colaboradores ! A própria morada sede da publicação 
desaparece neste número de modo a desligá-la do grupo fundador. 
Tratou-se de uma clara traição ao espírito inicial que 
animara a revista Filosofia Actual e a Logos. Face a esta situação,  eu e o 
Luís Pedro tínhamos outros projectos e resolvemos mandar o Adelino às ortigas e à sua ideia 
peregrina de ser um dia professor universitário...    
Anos depois vem o dito atribuir a razão do fim da Logos 
ao amadorismo dos grupo inicial, omitindo o seu miserável oportunismo e 
deslealdade.  O Centro de Filosofia da FLL, onde Adelino se conseguiu 
encaixar, acabou por difundir esta versão dos factos, como se pode ver pela 
amostra. 
- 
Philosophica 
-
Cultura 
Da Logos saíram ainda alguns números, mas numa lógica e ao 
serviço de interesses que já nada tinham a ver com as ideias que inspiraram a 
criação deste projecto.   
Carlos Fontes  |