Navegando na Filosofia. Carlos Fontes

Como podemos caracterizar os vários tipos de experiências?

Textos

Diversidade das Experiências

Orlando tinha a respeito de Maria a pior das ideias. A primeira vez que a viu achou-a logo antipática. Não sabia bem porquê. Talvez fosse o modo como sorria, que lhe lembrava uma prima que detestava. Nas raras vezes que lhe falou encontrou sempre motivos para reforçar as suas convicções. Um dia quando deixara cair os livros á entrada das aulas, pareceu vê-la sorrir enquanto conversava com as amigas. Terá olhado de modo indiferente e continuado a conversa. Este episódio foi o bastante para manifestar junto de Edgar os sentimentos que por ela nutria. Como este afirmava, a sua experiência com as louras, tinha-lhe ensinado que eram todas traiçoeiras. A partir daqui não tinha dúvidas em concluir que uma vez que Maria era loura, Orlando estava cheio de razão. Quando Maria entregou a Orlando, na véspera, as fotocópias das aulas de filosofia, este recebeu-as, agradeceu, mas nada de conversas. Sabe-se lá o que estaria a tramar. Eduardo nem queria acreditar nas palavras que escutava. Esforçou-se em vão por demonstrar o contrário. Orlando na sua opinião estava cheio de "macaquinhos" na cabeça. Intimamente estava convencido que tinha tido experiências de vida dramáticas que o levavam agora a antipatizar com todos, a sentir-se um rejeitado, daí a sua tendência para se afastar-se dos colegas. Ali estava uma caso que confirmava o que estudar numa aula que era a partir das nossas vivências e experiências de vida que vemos e interpretamos as coisas. É certo que não a conhecia pessoalmente, mas isso não o impedia de ter também ideias sobre o seu carácter. A sua irmã falou-lhe dela com apreço: ajudara-a a compreender em química as reacções endotérmicas e as reacções exotérmicas. Um facto confirmava esta sua impressão: apesar de já não andar na mesma escola, não deixava de convidar a sua irmã para os anos. Que se lembrasse nenhuma das que a abandonou o fez. Orlando ripostava, que ele a conhecia, convivera com ela, Eduardo não. Este afirmava que não era preciso contactar directamente com as coisas para saber o que elas são. Podemos, por exemplo, sentir através da televisão o que é o horror de uma guerra, sem estarmos lá a viver as suas funestas consequências. Fazendo gala dos seus conhecimentos de filosofia, afirmou que Orlando parecia desconhecer que as experiências também podem ser indirectas, e que ambas as experiências são fontes de saber, mas para que haja saber é preciso pensar. Não basta viver. A conversa continuou, acrescentado cada um novos argumentos às suas posições iniciais. A verdade é que quem ouvisse as descrições que ambos faziam de Maria dificilmente pensaria tratar-se da mesma pessoa.

Carlos Fontes

Carlos Fontes

10º. Ano- Programa de Filosofia

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