As sociedades europeias, em especial as que integram a União
Europeia, são cada vez mais heterogéneas. A vinda em massa de milhões de
imigrantes de África, Ásia e da América Latina alterou-lhes por completo os
seus quadros culturais.
Percorrendo uma cidade como Lisboa, percebe-se claramente
a profunda viragem que ocorreu nas últimas décadas. A diversidade cultural,
religiosa e inclusive linguística passou a ser sentida no quotidiano dos seus
habitantes. À semelhança do que ocorreu em outros regiões do mundo
também aqui se coloca hoje a questão da tolerância e intolerância, dado que
muitos dos novos hábitos e costumes que estão a ser
introduzidos são bastante distintos dos que eram seguidos.
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Tolerância
- Em torno de um conceito |
Conceito de
Tolerância A palavra tolerância, provém da palavra Tolerare
que significa etimologicamente sofrer ou suportar pacientemente. O
conceito tolerância radica numa aceitação assimétrica de poder: a)
Tolera-se aquilo que se apresenta como distinto da maneira de agir, pensar
e sentir de quem tolera; b) Quem tolera está, em princípio numa posição
de superioridade em relação aquele que é tolerado. Neste sentido pode
ou não tolerar. A tolerância pressupõe sempre um
padrão de referência, as margens de tolerância e aquilo que se assume
como intolerável. A tolerância pode surgir como a simples
aceitação das diferenças entre aquele que tolera e o tolerado, ou como
a disponibilidade do primeiro para integrar ou assimilar o segundo.
| Fundamentação
A fundamentação da tolerância tem
variado bastante ao longo dos séculos. Mas em que sentido podemos falar
de tolerância? Será a tolerância uma exigência moral? Teológica?
Quatro perspectivas essenciais sobre a
fundamentação da tolerância.
| 1.
A Tolerância como Prudência.
Pode tolerar-se por mero calculo, tendo em vista, por exemplo, evitar
conflitos quando não se têm a certeza quanto ao desfecho final dos
mesmos. Pode também tolerar-se posições contrárias quando não se tem
a certeza sobre algo. |
2.A Tolerância como
Indiferentismo. Pode
tolerar-se por uma questão de princípio relativista. Se aceitarmos que não
existem verdades absolutas, então todas as posições se tornam legítimas
e aceitáveis. Pode tolerar-se também devido há ausência de convicções
e valores próprios. Neste caso aceita-se as ideias do Outro não por
respeito, mas porque não se possui nada para opor ou defender. Nesta
perspectiva, a tolerância terminar quase sempre no indiferentismo, onde a
verdade e a mentira se equivalem. |
3. A Tolerância como Culto das
Diferenças. Podemos ser
tolerantes por respeito pelas diferenças do Outro. Nas nossas sociedades,
este tipo de tolerância manifesta-se frequentemente em relação a duas
situações muito distintas:
a) Aceitam-se e respeitam-se as diferenças
daqueles que outraora foram discriminados, como os homossexuais;
b)
Aceitam-se e respeitam-se todas as culturas que antes foram discriminadas
ou combatidas. Neste último caso, a sua negação é assumida como um
empobrecimento da diversidade cultural da humanidade. Este princípio tem
servido tanto para fundamentar o multiculticulturalismo como o racismo e a
xenofobia. Na verdade a aceitação da identidade cultural do Outro não
significa que o aceitamos como igual, nem sequer que aceitemos conviver no
mesmo espaço."Iguais, mas separados" é, não nos podemos
esquecer, um dos novos lemas do racismo.
| 4. A Tolerância como uma exigência
dos Direitos Humanos. Desde a
antiguidade clássica que a especulação sobre a natureza humana se
traduziu na afirmação de que todo o ser humano possui um conjunto
de direitos fundamentais ou naturais imutáveis: liberdade, dignidade,
etc. Baseado neste pressuposto, John Locke, por exemplo, irá fundamentar
a tolerância. Em rigor, todavia não faz sentido falarmos de tolerância
entre seres iguais por natureza.Todas as convicções e ideias são legítimas
porque produto de homens livres e com os mesmos
direitos. Esta posição conduzida ao limite, termina no indiferentismo ou
seja na negação de todo e qualquer valor. |
Limites da Tolerância
Até onde devemos aceitar o Outro
nas suas diferenças? Pode uma cultura sobreviver quando no seu próprio
seio tolera aquelas que defendem o seu oposto?
| Razão Intolerante
Em nome da tolerância, isto é, de uma razão que
combate de todos os constrangimentos, desde o século XVIII que se
cometeram inúmeros crimes contra a própria humanidade. |
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Tolerância e
Multiculturalismo
A diversidade
cultural é uma das maiores riquezas das nossas sociedades, permitindo-lhes
abrirem continuamente os seus horizontes para o mundo e evitando que as mesmas
estiolem. Este facto implica que uma sociedade tenha que ter uma ampla
capacidade de tolerância à interacção com outras culturas muito distintas
daquelas que são a sua alegada matriz cultural.
Mas até onde é
admissível que uma sociedade tolere costumes e práticas nas quais não se
reconhece ? . Em
termos mais gerais, como cidadãos do mundo, até onde deverá ir a nossa
tolerância em relação a certas práticas instituídas em muitos países?
Algumas situações que têm
abalado as sociedades europeias:
Excisão Feminina:
A mutilização dos orgãos genitais das raparigas (corte do clitóris e dos
pequenos lábios da vagina), é uma prática tradicional em muitos países de
África, mas também da Ásia (Egipto, Nigéria, Sudão, Somália,
Quénia, India, Indonésia, Paquistão; Mali, Senegal, Mauritânia,
Guiné-Bissau, etc). Em alguns deles apesar de proibida continua a ser seguida
tal é a força da tradição.
Na Europa trata-se de uma
prática considerada criminosa e contrária à dignidade da pessoa humana. Ora,
acontece que a vinda de milhões de imigrantes destes países introduziu aqui
clandestinamente a excisão, em especial entre certas comunidades de origem
africana. Em França e Espanha vários casos têm sido julgados e condenados em
tribunal. O assunto continua a agitar a opinião pública, dada a gravidade do
problema.
Discriminação das mulheres
muçulmanas: Face ao padrões
culturais ocidentais, o uso de véus e lenços na cabeça pelas mulheres
muçulmanas são assumidos como discriminatórios das mesmas. A leitura é muito
diversa da que fazem os muçulmanos. Alguns estados europeus estão a tomar
medidas para acabar com estas práticas, nomeadamente em espaços públicos,
alegando que há muito são proibidas constitucionalmente toda e qualquer forma
de discriminação das mulheres.
Nomadismo :
Pena de Morte:
Tráfico de Pessoas:
Trabalho Infantil:
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