O que se entende por configuração da realidade?
Nós apreendemos a realidade como ela é em si mesma?
Quais os factores sociais que influenciam a nossa percepção ?
Esquemas
Textos
Níveis de Configuração
"Deve ser o galo que andava à solta o ano passado na escola", afirmou Rodrigo olhando fixamente para o alto do morro, mesmo em frente da sala de aula. "É o novo cão de guarda da escola, não vês o rabo", disse Joaquim. Cerrando quase por completo os olhos, "para ver melhor", Amélia sempre muito imaginativa, afirmou tratar-se de um vagabundo a descansar. Ricardo, num tom jocoso, garantiu que era um dos sete anões. Amélia ainda tentou explicar que à distância as coisas eram percepcionadas numa dimensão menor, mas ninguém já a ouvia. A professora de filosofia, após uma observação cuidadosa, tão atenta quanto a distância lho permitia, conclui tratar-se, por sua vez, não apenas de um galo, mas também de uma galinha. A única certeza é que todos viam coisas, embora estivessem longe de concordar entre si quanto ao que viam.
O problema maior, segundo a Anabela, é que fosse o que fosse não se mexia. Face a esta constatação havia um largo consenso, mas o problema era identificar o que se estava a ver. Por momentos todos se sentiram desorientados. Faltavam-lhes palavras para designar o que observavam, e sem estas, a realidade tornara-se enigmática. Era como se sem palavras, nem sequer pudessemos pensar ou descrever o que víamos.
Mariana, uma admiradora incondicional dos livros de Philip K. Dick, afirmou que fosse o que fosse que estivessem a ver, tinham ali material para imaginarem uma boa história de ficção científica. "Porque não uma pintura", contrapôs Ricardo que se considerava o mais talentoso desenhador da turma. "Já agora um filme", disse baixinho a tímida Joana para a sua amiga Helena.
Distante do centro da discussão, Rogério, desabafou: "Artistas...". Na sua ideia faltava naquela Turma uma mentalidade científica para verem a verdadeira realidade, em vez de cairem num permanente delírio que os fazia estarem constantemente a ver "coisas" ou a transfigurarem o que viam. Era sua convicção que só a ciência, com as suas leis matemáticas, sem qualquer ambiguidade, nos permitia aceder ao verdadeiro conhecimento da realidade. Só esta, na simplicidade e rigor dos seus modelos e fórmulas matemáticas, nos dava o melhor retrato da natureza. Virando-se para Raquel perguntou: "Percebes a grande diferença?". Ao que esta respondeu: "Não!".
Carlos Fontes
Síntese da Matéria
1.Configuração da Experiência
Toda a experiência é uma construção, nunca é uma mera apreensão receptiva da realidade.
2.Perspectiva da biologia e da psicologia da forma
Cada espécie animal, incluindo o homem, tem a sua realidade (ver texto).
A nossa percepção da realidade é determinada por factores inatos que são característicos da espécie humana.
A psicologia da forma (gestaltismo) demonstrou que esta realidade não nos urge ordenada, pelo contrário estamos permanentemente a ordenar os estímulos que recebemos.
A psicologia genética demonstrou também que este processo resulta de uma interacção entre o sujeito e o meio que se desenrola no tempo e atravessa várias fases.
3.Perspectiva Pessoal
A construção da realidade humana supõe a actividade de um sujeito. A percepção varia de sujeito para sujeito em função de factores, tais como:
- História pessoal
-Personalidade do sujeito
-Interesses
-Competências linguísticas
-Sistema perceptivo
- Necessidades
4.Perspectiva Social
A construção que fazemos da realidade é também determinada por uma multiplicidade de factores como:
- Língua
- Socialização do sugeito
- Padrões culturais
- Valores e crenças
-Contexto histórico
5.Grandes construções configuradoras da realidade
Certas actividades humanas, como a arte ou a religião, assentam em modos muitos específicos de encarar a realidade. É neste sentido que podemos dizer que existe uma visão da realidade que é própria da religião, da arte ou da ciência.
Carlos Fontes
Carlos Fontes