Panorama da Filosofia Contemporânea (II) (séc.XX)
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O Triunfo da Morte, pintura de Félix Nussbaum (1944) Guerras O século de todas as promessas de desenvolvimento para Humanidade, foi também aquele que conheceu as guerras mais mortíferas de sempre. Mais de 191 milhões de pessoas perderam a vida em conflitos ao longo do século. A partir dos anos 60 uma ameaça passou a pairar em toda o mundo: a possibilidade de uma guerra atómica entre as grandes potências, que colocaria fim à própria humanidade. Passou-se a viver num equilíbrio de terror. A ameaça era demasiado real para não ser levada a sério. Quando se exaltava os avanços tecnológicos alcançados em todos os domínios, o mundo assiste à utilização das técnicas mais requintadas de extermínio de populações inteiras. O Holocausto nos campos de concentração nazis, foram apenas o prelúdio de outros que se lhe seguiram. |
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"Lenine na Alvorada Vermelha", pintura de Boris Vladimirski Sociedades Perfeitas A promessa de trazer o paraíso à terra, criando nesta a sociedade perfeita sonhada por Platão, Tomás Moro, Campanela ou Bacon, assim como por muitos filósofos desde finais do século XVIII terminou na barbárie. Regimes que prometiam a felicidade dos povos acabaram por exterminar dezenas de milhões de pessoas. A ideia de progresso que galvanizou todo o século XIX, foi perdendo a sua força ao longo de todo o século XX . O progresso não era para todos os homens, nem sequer se mostrava contínuo. Facto novo: não parecia haver correspondência entre o progresso tecnológico e os avanços morais. O conhecimento científico perdeu igualmente a sua dimensão absoluta. Começaram a serem produzidos conhecimentos ditos científicos, com resultados não coincidentes ou mesmo dissonantes. O mais grave de tudo foi o fim do estatuto sagrado dos cientistas. Um número impressionante dos mesmos passou a estar envolvido na investigação de armas mortíferas e em genocídios. |
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Regresso às Coisas Perante a barbárie ou as ideologias que prometem o paraíso na terra, muitos filósofos procuram o olhar ingénuo sobre as coisas. Era preciso reconstruir tudo de novo, a partir das evidências. Esta é a proposta da fenomenologia. Perante tudo o que se passava, muitos não têm dúvidas. A única certeza que temos é que não podemos confiar em nada que seja exterior à consciência de cada indivíduo. Doravante, com base em Sartre, não é possível falar em abstracções como valores universais ou mesmo do Homem. O que existem são homens singulares e os valores são definidos por cada um em função das suas circunstâncias. Especialização Abandonando a ideia de construir uma visão unificada da realidade, a maioria dos filósofos refugia-se cada vez mais em áreas específicas do saber. Passamos a ter filósofos especialistas em epistemologia, estética, ética, ontologia, etc., ou em áreas ainda mais restritas. Desconstrução Face à sociedade tecnológica, outros tomam como prioridade a desconstrução da racionalidade (ou irracionalidade) dos sistemas. Esta tarefa irá ser prosseguida à direita e á esquerda. Prosseguir a Modernidade Num mundo incerto, onde as injustiças são gritantes há que pense na questão da justiça e procure fundamentar os novos critérios para uma distribuição mais equitativa da riqueza, sem beliscar o sistema dominante (Rawls). Outros, do lado oposto, falam da necessidade de se aprofundar os grandes desígnios sociais da modernidade, aqueles que foram abandonados por aqueles que dela se afirmaram detentores. |
"Michael Jackson and Bubbles", escultura de Jeff Koons (1988) Últimas Tendências Nos anos setenta surge aquilo que muitos designaram uma "moda filosófica". O Pós-modernismo. A sua especialidade é a desconstrução de todos os valores, abstracções, ideologias e sobretudo, em negar tudo aquilo que é apontado como uma herança do modernismo. O mundo torna-se numa bricolage, onde tudo se mistura e não se vislumbra nenhuma saída, a não ser o pântano. A verdadeira dimensão do pós-modernismo, está para muitos na globalização. O mundo tornou-se numa aldeia global profundamente desigual na distribuição das suas riquezas. Uns acumulam fortunas, outros parece só lhes restar a continuação da miséria como futuro. As velhas lutas religiosas, como as que ocorreram no passado entre "cristãos" e "muçulmanos" são agora erigidas à escala planetária como "choques de civilizações". Uma ameaça global paira agora sob a humanidade: a destruição imparável e irresponsável das condições de vida num planeta, cujo número de seres humanos atingiu em 2011 os 7 biliões ! |
Carlos Fontes