1. Termo. A
metafísica é considerada a mais elevada abstracção da realidade. Aristóteles
foi quem a sistematizou, tendo-a denominando de "filosofia
primeira" ou "ciência do ser enquanto
ser".
2. Ser. O
"Ser" é o conceito central da metafísica. Designa "tudo
quanto é" ou " o que está sendo", algo portanto que está para além de todas as
categorias e só pode ser pensado de uma forma analógica.
É o mais abstracto de todos porque a tudo se estende, mas é
simultaneamente o mais concreto porque tudo inclui.
2.1.Aproximação. Algumas expressões
que usamos quotidianamente expressam de certa forma a ideia de ser,
nomeadamente quando nos referimos a todas as coisas no seu conjunto. Nestes casos falamos de
"realidade", "mundo", "todo".
3. Ente. O
termo "Ente" é empregue igualmente como sinónimo de ser.
Os filósofos medievais introduziram uma diferença entre Ser e Ente.
O "Ente" passou a designar aquilo que é, as coisas. O ente
possui uma "essência", uma "forma",
"matéria" o esmo é dizer uma dada "existência"
concreta. O Ser passou a designar o que faz com que as coisas sejam,
sendo identificado em diversas concepções filosóficas com Deus ou o
Absoluto.
4. Categorias. O
discurso metafísico sobre o Ser construiu um conjunto de categorias
ou conceitos gerais que nos permitem organizar a experiência e o
conhecimento de modo a podermos pensá-lo.
Algumas
categorias da metafísica
|
Substância
|
Acidente |
O
que permanece, "subjaz" ou "subsiste" no
ser ou no ente, para além de todas as mudanças. Diz-se daquilo
que se predica
|
Aquilo cuja falta não
afecta a existência ou qualquer mudança na substância. Os
acidentes podem existir ou não. |
|
Essência
|
Existência |
Aquilo
que faz que uma coisa seja aquilo que é e se distinga de
outras coisas.
|
O que
aparece ou se mostra no tempo. A aparência que uma coisa vai revelando nos seus diversos
estados. A presença efectiva de algo no mundo. Actualização da essência.
|
. |
5. Grandes questões da metafísica
5.1. O Problema da Criação ou Eternidade do
Mundo. Questões: O mundo existe
eternamente ou começou a existir num dado momento?
Respostas:
a) O mundo é resultado de uma criação a
partir do nada (creatio ex nihilo). Posição sustentada no Judaísmo,
Cristianismo e Islamismo.
b) O mundo sempre existiu na sua forma
actual ou noutra. Posição de defendida, por exemplo, pelos filósofos
gregos e pressuposta na ciência contemporânea.
5.2. O Problema da Constituição do Real.
Questões: O ser é uno ou multiplo ? Poderá toda a realidade reduzir-se a um só
elemento ou a multiplicidade do real implica a sua constituição a
partir de elementos heterogéneos? Como se formaram ou vieram a existência os seres
existentes? De que
são feitas as coisas?
Respostas:
a) As teses monistas defendem que toda
realidade é composta em última instância por uma única substância.
Tudo o que existe é apenas e sempre a manifestação da mesma
realidade. Esta posição admite dois tipos de monismo, a materialista
e a espiritualista.
b) As teses pluralistas defendem a existência de mais do que um
elemento constituinte da realidade. A heterogeneidade é constitutiva
das coisas. Os
dualistas, como Platão ou Descartes, estabelecem a distinção
entre a realidade física e espiritual. A realidade espiritual é
frequentemente associada a uma realidade primordial. O sentido e
explicação para tudo o que acontece no mundo físico, por exemplo,
tem que ser procurado nesta outra dimensão do real.
5.3. Problema da natureza última do
real. Questões: Qual a sua natureza do
real?
Respostas:
a) os materialistas não admitem a existência
de qualquer outra realidade para além do mundo físico. Tudo se
resume a transformações da matéria.
b) Os idealistas ou espiritualistas
defendem natureza espiritual da realidade. O espírito está presente
em tudo. As mudanças observadas nas coisas, não são mais do que as
suas múltiplas aparências ou manifestações.
5.4. Problema da imanência e transcendência.
Questões: Qual é o princípio ordenador
da realidade?O ser é imanente ou transcendente aos entes ?
Respostas:
a) Os imanentistas defendem que a causa
da mudança e transformação das coisas está dentro das próprias
coisas. Nada
pode ser ordenado para um fim se não existir nele uma certa propensão
para esse fim. Esta concepção tende a circunscrever a realidade aos
limites da própria experiência humana. Os panteístas e os
materialistas em geral, comungam desta posição.
b) os transcendentalistas colocam no exterior
das coisas o principio ordenador da realidade. Esta concepção tende
a pressupor a existência de princípios que estão fora ou
acima da experiência possível. Não foram apenas os idealistas
sustentarem esta concepção. Os existencialistas, reelaboraram o
conceito de transcendência, e afirmaram a capacidade especificamente
humana de se ultrapassar a si própria indo mais além da
experiência.
6. Enquadramento
histórico.
A
metafísica foi sempre um dos temas centrais da filosofia. Os
filósofos de Mileto a seu modo, também fizeram ao pergunta "O
que é o Ser?", e neste sentido procuraram encontrar um
princípio comum a todas as coisas. Parménides identificou o
Ser com o que permanece. Heraclito identificou o Ser com o devir.
Platão com o mundo das ideias. Aristóteles com a substância. Os
filósofos cristãos, após fazerem uma distinção entre
"Ser" e "ente" identificaram o primeiro com
Deus. Mas a partir do século XVI ,
o Ser começou a ser objecto de inúmeras
críticas. I. Kant negou a sua validade enquanto conhecimento do
real. Os
empiristas e os positivistas lógicos sustentaram que não tinha
qualquer utilidade ou significado.
Martin Heidegger procurou retirar a metafísica
do ostracismo a que tinha sido voltada.
Carlos Fontes