1. Construção do Discurso
A construção de um discurso
argumentativo, susceptível
de propiciar alguma adesão por parte do auditório, tem várias fases, cada uma
com os seus requisitos. Aristóteles, Cícero,
Quintiliano e muitos outros filósofos desde a antiguidade clássica procuraram construir
um modelo para esta construção. Quase todos insistiram no facto de que o
orador, não se pode limitar a escrever um bom discurso, deve também cuidar de
muitos outros aspectos, como a sua postura na hora de o proferir.
Fases Fundamentais (Esquema clássico):
1ª. Parte: Invenção (heurésis). Em função do auditório
e do assunto a debater procurava-se escolher o tipo de discurso, argumentos e estrutura
argumentativa mais adequado.
2ª. Parte: Disposição (táxis). Organização interna do
discurso, dando-se particular atenção à disposição dos argumentos
de forma a conduzir o auditório a aceitação de uma dada conclusão.
3ª. Parte: Elocução (léxis). Redacção do discurso.
4º. Parte: Acção (hypókrisis). Pronunciação do discurso, onde
a atenção é posta na actuação do orador, tom de voz, gestos,
postura... de modo a criar uma empatia e receptividade no auditório
para as suas teses.
2. A organização do discurso (táxis).
Foi objecto
também de recomendações muito precisas. O modelo clássico apresenta três
momentos fundamentais:
a) Introdução. Apresentação da tese e sua
contextualização. Este momento é decisivo para captar a adesão do
auditório.O orador deve partir coisas que não suscitem polémica, como factos,
verdades, presunções ou até valores, de modo a gerar um primeiro acordo com o
auditório, predispondo-o a aceitar as suas conclusões.
b) Argumentação. Apresentação dos argumentos que
sustentam a tese. Antecipando possíveis críticas são também apresentados
alguns contra-argumentos e feita a sua refutação. A ordem dos argumentos
depende muito do auditório. Três alternativas possíveis:
- Ordem crescente. "O
Inconveniente da ordem crescente é que, começando por por argumentos
fracos, ela indisponha o auditório, tire brilho à imagem do orador,
esmoreça o seu prestígio e a atenção que lhe é dada", Chain
Perelman (Império Retórico)
- Ordem decrescente.
" A ordem decrescente, terminando os discurso com os argumentos mais
fracos, deixa ao auditórios uma má impressão, muitas vezes a única coisa que
eles se lembram", Chain Perelman (Império Retórico)
- Ordem mista (nestoriana). Os
argumentos mais fortes são colocados no princípio e no fim, sendo os restantes
colocados no meio do discurso.
c) Conclusão. Síntese dos resultados atingidos que
justificam a tese inicial.
3. Ordem dos Oradores
A organização de um discurso, pode estar
dependente do facto do orador ser o primeiro ou o segundo a falar.
No caso de ser o primeiro, o seu discurso deve
centrar-se nas suas teses, evitando envolver-se na refutação dos
contra-argumentos do adversário. Se o fizer, não apenas chamará a atenção
para os mesmos, mas também reforçará a sua lembrança.
No caso de ser o segundo, por exemplo, se vir que
o orador que o precedeu impressionou vivamente o auditório, deve começar por
rebater as suas teses, de forma a criar espaço para a aceitação das suas
ideias.