1. Argumentar é expor
  de forma encadeada um conjunto de argumentos (razões) que justificam uma
  conclusão. Por outras palavras, um argumento é um conjunto
de premissas (razões, provas, ideias) apresentadas para
sustentar uma tese ou um ponto de vista.  
  2. Conforme os tipo de argumentos (razões) que
  nos servimos para justificar uma dada conclusão, podemos estar perante uma
  demonstração ou uma argumentação. Foi Aristóteles no
  Organon, quem fez
  pela primeira vez esta distinção. 
  No caso da demonstração, os argumentos
  (premissas) são verdadeiros e a partir deles só podemos deduzir uma conclusão verdadeira.  
  
	  
	Exemplo:   
	
	Todos
os mamíferos têm pulmões  
	
	Todas
as baleias são mamíferos  
	
	Logo,
todas as baleias têm pulmões  
 
.  
 | 
 
As premissas que partimos são verdadeiras e também
inquestionáveis. A conclusão só pode ser uma. Negá-la seria entrar em contradição. Aristóteles
designou este tipo raciocínio de analítico. 
No caso da argumentação os argumentos
(premissas) são mais ou menos prováveis. Muitos pessoas são
susceptíveis de serem convencidos que os mesmos verdadeiros, mas nem todas
irão concordar com esta posição. A conclusão está longe de gerar uma unanimidade.  
	  
	Exemplo:  
	
	Todos
os alunos são estudiosos  
	
	João
é aluno  
	
	Logo,
  João é estudioso  
 
  
 | 
  
  A
  premissa que partimos é muito discutível. A conclusão inferida a partir da
  conclusão, embora logicamente válida, não obtendo a concordância de todos. Aristóteles
  designou este tipo raciocínio de dialéctico. Neste caso o orador não se
  pode limitar a expor algo que é admitido como verdadeiro, mas tem que persuadir
  quem o ouve da sua veracidade das suas conclusões. 
  3. Com base nos exemplos anteriores, podemos
  afirmar que a argumentação se distingue da demonstração em muitos aspectos,
  tais como: 
  Na  argumentação a conclusão é mais ou menos plausível; as provas apresentadas são susceptíveis de múltiplas 
interpretações, frequentemente marcadas pela subjectividade de quem
argumenta e do contexto em que o faz.
Na argumentação procura-se acima de tudo, convencer alguém que uma
dada tese é preferível à sua rival. É por isso que só se
argumenta nas situações em que existem várias respostas possíveis.
Toda a argumentação implica deste modo o envolvimento ou
comprometimento de alguém em determinadas teses.
Na  demonstração a conclusão é universal,
decorrendo de forma necessária das premissas, e impõe-se desde logo à consciência como verdadeira; as
provas são sem margem
de erro e não estão contaminadas por factores subjectivos ou de
contexto. A demonstração assume um carácter impessoal. É por isso
que  podemos dizer que a mesma foi correcta  ou
incorrectamente feita, dado só se admitir uma única conclusão.
  3. O discurso argumentativo supõe a disponibilidade de duas ou mais
  pessoas (interlocutores), para confrontarem de forma pacífica, os seus pontos
  de vista e argumentos. Fazem-no de um modo que procura cativar a atenção e
  adesão às suas ideias por parte de quem os ouve (auditório). Três das condições
  para que isso possa acontecer: o discurso dever ser coerente e
  consistente, isto é credível,  mas também o orador tem que ser persuasivo. 
  4.  A argumentação é distinta da persuasão.
  Se podemos dizer que todo o discurso argumentativo é persuasivo, o contrário
  não é verdadeiro, pois nem todo o
  discurso persuasivo é argumentativo. 
   A argumentação para poder ser convincente tem que
  fazer apelo à razão, ao julgamento de quem participa ou assiste ao confronto
  de ideias. 
  A persuasão está ligada à
  sedução. A adesão de alguém a certas ideias é feita através
  de gestos, palavras ou imagens que estimulam nela sentimentos ou desejos
  ocultos, acabando por gerar falsas crenças.  Através da persuasão o orador
  reforça os seus argumentos despertando emoções, de modo a criar uma
  adesão emotiva às suas teses. Na persuasão ao contrário da argumentação
  faz-se apelo a processos menos racionais. Como veremos, os actuais meios de comunicação de
  massas, veiculam discursos publicitários que utilizam sofisticadas técnicas de persuasão
  dirigidas a públicos-alvo bem determinados. 
  Chaim Perelman  questiona este critério
  de distinção. Segundo este autor, o critério de distinção não assenta na dicotomia razão/emoção, mas sim na
  dimensão do auditório: os discursos argumentativos dirigem-se a públicos
  particulares, capazes de avaliarem as teses em confronto. Os discursos
  persuasivos dirigem-se a públicos universais, pouco versados nos tema em
  discussão e por isso mais receptivos à sedução.  
  5. Um discurso argumentativo requer uma
  organização e encadeamento de argumentos, tal de forma lógica que o
  auditório não apenas possa acompanhar o raciocínio do orador, mas também
  que possa ser convencido da justeza da posição que está a ser defendida (Logos).
  Para além deste aspecto, é também fundamental para que o discurso seja
  persuasivo que o próprio orador seja credível (Ethos) e que desperte
  simpatia ou gere empatia com o auditório (Pathos)
  Este aspecto realça a importância do emissor  (orador, o que elabora a argumentação). Ele tem que conhecer as características do seu
   receptor (auditório) e saber calcular as suas reacções face à mensagem pretende veicular.
  O discurso argumentativo
  valoriza o
receptor e as suas opiniões ou reacções.
  6. O grande objectivo de todo o discurso
  argumentativo é provocar a adesão de um auditório (o conjunto de indivíduos que o emissor pretende
influenciar por meio da sua argumentação).  
 O discurso é sempre
feito em função de um auditório composto por indivíduos todos
diferentes entre si. O emissor, antes de elaborar a sua
argumentação tem que construir do mesmo uma dada representação
ideal tentando prever a sua adesão aos argumentos que irão ser
expostos.  
 Nem todos os argumentos provocarão certamente a mesma
adesão. Cada auditório requer, pois, da parte do emissor, uma
estratégia argumentativa própria, de forma a apresentar nos
momentos certos os argumentos mais ajustados.  Um
  auditório particular é muito distinto de um  auditório universal.
  Cada um exige um discurso próprio para que este possa ser persuasivo.  
7. Desde o seu início que na filosofia se dedica um enorme
atenção à argumentação. Tal não acontece por acaso. Na verdade a
argumentação é uma das formas mais profícuas da própria
actividade filosófica, na medida que ela envolve a capacidade de
dialogar, de pensar, de analisar, de escolher e implica o
comprometimento de alguém com os seus próprios argumentos.