Navegando na Filosofia. Carlos Fontes

O que é o conhecimento?

Como se processa o acto de conhecer ?

Será o conhecimento baseado em crenças ?

 

Voltar

 

Esquemas

 

.

 

 

 

Síntese da Matéria

Conhecimento

 

 

1. Conhecer, em sentido lato, é adquirir e organizar informações sobre o meio envolvente de modo a permitir a constante adaptação do organismo ao meio, possibilitando assim a sua sobrevivência. Cada espécie de acordo com a sua herança biológica, tem neste sentido o seu tipo de conhecimento. Nos animais prepondera a informação inata (biológica). Nos seres humanos predomina a informação adquirida em sociedade.

2. Conhecer, em sentido restrito, apenas aplicável aos seres humanos, pode ser entendido como a construção de representações mentais que o sujeito organiza ao longo da vida na sua relação com os objectos.  É esta a perspectiva que seguiremos nestas páginas.

3. Nesta perspectiva restrita, alguns conceitos foram sendo consagrados para descrever a estrutura envolvida na  actividade cognitiva. 

Numa perspectiva fenomenológica são centrais os seguintes conceitos:

- Sujeito (aquele que conhece).  Falar do sujeito é falar de algo que é único, com interesses, perspectivas próprias. 

 

- Objecto (o que é conhecido). Aquilo que se apresenta aos sujeitos, e como tal é apreendido sempre de modo diverso. O objecto está fora do sujeito, transcende-o. 

 

- Representações. Da relação entre o sujeito e o objecto,  produz-se na consciência do sujeito uma representação do objecto, que o permite evocar na sua ausência. A representação é sempre contaminada por factores de natureza subjectiva.

Numa perspectiva sensitiva temos que ter em conta os seguintes:

 

- Sensação (apreensão imediata do objecto pelo sujeito).As sensações são processos fisiológicos de ligação do organismo ao meio, através dos orgãos sensoriais. Estes processos consistem na transmissão de um influxo nervoso (corrente eléctrica que percorre os nossos nervos) desde os orgãos sensoriais até aos centros de descodificação. A sensação realiza-se  pela acção de um estímulo específico sobre o receptor que é apropriado para o receber. Os ouvidos recebem os estímulos sonoros, os olhos os luminosos, etc.

 

- Percepção (configuração ou construção individual dos dados sensoriais, em função dos mecanismos receptores, experiências anteriores, interesses, etc). A palavra percepção deriva do latim "perceptio"que significa acção de recolher, e por extensão "conhecimento" como apreensão. Também provém de "percipere" que significa apoderar-se de algo, perceber. Neste último sentido a percepção distingue-se da sensação, pois é a própria consciência da sensação (ou conhecimento). O que caracteriza a percepção é a apreensão da realidade, não como impressões sensoriais isoladas, mas um conjunto organizado, ou uma  totalidade portadora de sentido.

 

- Razão (elaboração de representações mentais abstractas (conceitos, discursos), relações lógicas e teorias interpretativas sobre a realidade. 

 

 

4.  Tipos de Conhecimento

O conhecimento pode ser adquirido ou construído de diversos modos:

a ) Conhecimento experiência. O que adquirimos através do contacto com objectos ou situações, mas também na vivência dos nossos estados metais. 

Exemplo: O João conhece a cidade de Boston.

b) Conhecimento competência. Adquirido em geral através da imitação de acções, e que resultam na aquisição de habilidades e saberes-fazer. Conhecimento prático.

Exemplo: Ele sabe plantar batatas.

c) Conhecimento proposicional ou de verdades. Está ligado à produção de juízos, enunciados verbais. É a forma mais frequente de transmissão de conhecimentos entre as pessoas. O conhecimento é verdadeiro ou falso. 

Exemplo: Sabe que D. Afonso Henriques foi o primeiro rei de Portugal.

 

5. Conhecimento e Crença

A teoria tradicional sustenta que para que haja conhecimento é necessário que estejam reunidas três condições: 

a) Crença (ou Convicção). Ninguém conhece nada, se não acreditar naquilo que lhe dado conhecer. Desta afirmação não se pode inferir que saber e acreditar sejam mesma coisa. 

b) Verdade. Não basta acreditar para que haja conhecimento, é necessário que aquilo em que acreditamos corresponda a algo real. O conhecimento é inseparável da verdade. As nossas crenças têm que corresponder a algo que possa ser visto, verificado, provado.  Daqui não podemos inferir que todas as crenças que se revelem verdadeiras, e por consequência as possamos considerar conhecimento. 

Exemplo: Posso estar convencido que um dado número irá sair na lotaria, mas se tal por hipótese ocorrer, isto não significa que possamos falar em conhecimento. 

c) Justificação. Uma "crença" que se revela "verdadeira" não é nenhum conhecimento. Para que possamos considerar algo como conhecimento é necessário também que este se seja justificado por um conjunto de bons argumentos racionais, capazes de nos convencer que não se trata de um mero acaso ou coincidência.

Não podemos por último concluir uma "crença justificada" seja um conhecimento, é necessário que também seja verdadeira. Neste sentido, podemos definir o conhecimento como uma "crença verdadeira justificada".

A principal objecção a esta Teoria radica no facto destes conceitos aplicados ao conhecimento não serem tomados de forma absoluta, o que pode dar origem a falsidades. A crença pode ser mais ou menos forte; a verdade questionável; a justificação mais ou menos conclusiva. 

 

 6. As teorias explicativas sobre o conhecimento  foram sempre um tema central na história da filosofia, e mais recentemente, também na ciência. As perspectivas da ciência não são, como é obvio, coincidentes com as da filosofia.

  

Carlos Fontes 

Carlos Fontes

 11º Ano - Programa de Filosofia

Navegando na Filosofia