1.
Epistemologia
Depois de analisarmos questões relacionadas
com a gnoseologia (estudo do conhecimento em geral), vamos centrar a nossa
atenção sobre a epistemologia, começando por vermos a a relação ente
senso comum e conhecimento científico.
Definições correntes desta disciplina:
a) Epistemologia
(episteme + logos = discurso sobre a ciência ) disciplina filosófica que se
ocupa da análise e crítica do conhecimento científico;
b) Filosofia das Ciências;
c) Estudo crítico dos princípios,
das hipóteses e resultados das diversas ciências, tendo como objectivo
determinar a sua lógica, o seu valor e objectividade;
d) reflexão sobre o
conhecimento científico, os seus problemas e a forma de os
resolver.
2. Senso Comum e Conhecimento Científico
É a partir do senso comum que todos
os conhecimentos mais elevados se formam, mas não é consensual a forma como este
processo ocorre.
3. Tese da Continuidade
Defende que a diferença entre o senso comum e o conhecimento científico reside
no grau de profundidade como analisam as coisas. A função da ciência está em
depurar, corrigir e melhorar o senso comum.
Karl Popper (1902-1994). O Senso Comum
é o ponto de partida para qualquer tipo de conhecimento, embora seja
inseguro.
"Toda a ciência e toda a
filosofia são senso comum esclarecido". Karl Popper, in Conhecimento
Objectivo.
A evolução do conhecimento faz-se
através de um processo de contínuas correcções e aperfeiçoamentos.
4. Tese da Ruptura
Defende a
uma clara distinção entre os dois tipos de conhecimento, nomeadamente quanto
à sua natureza.
Platão (séc. IV a.C.)
mostrou que o senso comum, apoiado na experiência sensível, não permite
chegar ao verdadeiro conhecimento, ao qual só podemos aceder através da
Razão.
Descartes (Séc. XVII)
colocou em causa os dados dos sentidos, afirmando que só podemos confiar na
Razão para atingirmos o verdadeiro conhecimento.
Gaston Bachelard
(1884-1962). Embora
considere que na base de todos os níveis de conhecimento esteja o senso comum,
encara-o como um "obstáculo epistemológico". A Ciência
desenvolve-se através de um processo de contínuas rupturas com o senso
comum.
"Pareceu-nos sempre cada vez
mais evidente, no decorrer dos nossos estudos, que o espírito científico
contemporâneo não podia ser colocado em continuidade com o simples senso
comum, que este novo espírito científico representa um jogo mais arriscado,
que ele formulava teses que, inicialmente, podem chocar o senso comum. Nós
acreditamos, com efeito, que o progresso científico manifesta sempre uma
ruptura perpétuas rupturas entre o conhecimento comum e conhecimento
científico, desde que se aborde uma ciência evoluída, uma ciência que, pelo
próprio facto das suas rupturas traga a marca da modernidade. (...) Podemos,
pois, colocar a descontinuidade epistemológica em plena luz.(...) A própria
linguagem da ciência está em estado de revolução semântica permanente.
(...) Uma constante transposição da linguagem rompe então a continuidade do
pensamento comum e do pensamento científico". Bachelard, Materialismo
Racional.
- Obstáculos Epistemológicos.
O progresso da ciência está dependente da identificação dos obstáculos a
impedem de progredir.O erro é o verdadeiro motor do conhecimento. A primeira
tarefa do cientista está em identificar erros, tais como:
a) Ideias que foram adoptadas só
porque confirmavam conhecimentos dados como adquiridos;
b) As primeiras impressões das
coisas que antecedem uma análise crítica das mesmas;
c) As metáforas, as imagens e a
vulgarização, simplificação e generalização de conhecimentos científicos,
que deformam ou deturpam a explicação das relações entre os fenómenos.
- Conhecimento progressivo.
O conhecimento científico resulta de uma constante rectificação de um
conhecimento primário, que pode não passar de um erro primário. Cada
rectificação implica deformar os conceitos anteriores, para abranger novas
experiências. O progresso científico faz-se desta forma por uma permanente
substituição de conceitos antigos por novos conceitos deformados, mas mais
abrangentes. O avanço dá-se todavia nesta substituição do novo (construído)
pelo antigo (dado).
"A rectificação é uma
realidade, ou, melhor, é a verdadeira realidade epistemológica, já que é o
pensamento em acto, no seu dinamismo".Bachelard,
Ensaio sobre o conhecimento Aproximado.
É neste quadro que se insere o seu
conceito de ruptura epistemológica.
A ciência é um conhecimento
aproximado, não rigoroso ou absoluto.
5. Ciência e Sociedade
A complexidade atingida pelo
conhecimento científico nas nossas sociedades tem provocado um progressivo
afastamento do mesmo da maioria da população. As questões científicas devida
à linguagem como são formuladas, tornaram-se de difícil compreensão para os
não iniciados.
Esta ignorância tem permitido que
todo o tipo de charlatões possam, em nome da Ciência, produzir as mais
distorcidas explicações sobre a realidade. A única forma de ultrapassar este
fosso entre a Ciência e a população é promover uma sólida cultura
científica, envolvendo na divulgação os próprios cientistas.
Em Construção !
Carlos Fontes