1.Organizações
Religiosas 
 
A
religião é uma manifestação colectiva, geradora de fortes sentimentos de
identidade entre os seus membros. Os crentes não apenas se juntam para
manifestarem a sua fé, mas também para criarem os meios de a perpetuar e difundir. 
 
As
  organizações religiosas procuram não apenas manter as suas práticas
  rituais, mas também influenciar o curso dos acontecimentos sociais. Neste
  sentido desdobram-se num vasto conjunto de organizações que actuam em todas
  as áreas da sociedade, ultrapassando desta forma a simples dimensão ritualista. Tomando
  como referência o que ocorre na Igreja Católica, podemos dizer que as organizações
  religiosas, no seu conjunto procuram asseguram três funções básicas:
 
-
Perpetuar a religião. Qualquer religião para subsistir tem assegurar
  continuamente os meios necessários à manutenção e construção de novos templos,
  mas também à subsistência ou à formação de sacerdotes. No passado, como
  aconteceu em Portugal, as organizações religiosas que asseguravam estas e
  outras funções chegaram a ser verdadeiros potentados económicos, absorvendo
  enormes recursos do país.
 
-
Difundir a religião. Captar novos crentes é essencial para a
  sobrevivência de qualquer religião, caso contrário esta tende a
  extinguir-se. Entre as organizações que ficaram célebres no desempenho
  destas acções de difusão da fé destacam-se as ordens dos franciscanos ou a dos jesuítas. Durante a Idade
  Média chegou-se também a recorrer a processos violentos para atingir este objectivo. Foram
  então criadas no ordens militares
  para combater os infiéis (Templários, Santiago de Espada, Calatrava, Avis, Ordem de Cristo,
  etc). Nos nossos dias, assistimos no mundo islâmico à utilização de
  métodos igualmente violentos para dominar ou exterminar os infiéis ( os que
  seguem uma outra religião). 
 
-
Velar pela ortodoxia da religião. Uma das preocupações de todas as
  religiões foi sempre evitar os desvios que possam surgir no seio colocando em causa os seus fundamentos.
  A Inquisição (Tribunal do Santo Ofício) foi uma organização católica
  tristemente célebre pela forma brutal como ao longo de séculos
  condenou à morte milhares pessoas consideradas hereges.  
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2.Religião
e Sociedade 
 
As
  principais religiões estão profundamente ligadas à sociedades onde estão implantadas,
  os seus percursos históricos confundem-se. Ao longo de séculos moldaram a 
cultura dos povos que as seguiam. As grandes civilizações atuais correspondem às 
áreas de influência das grandes religiões que nelas predominaram. É difícil de explicar, por
  exemplo, a história de
  Portugal, se não se tiver em conta a profunda influência que aqui possuiu a
  Igreja Católica. 
 
Apesar
  da crescente des-sacralização, a influência social da religião continua a
  ser enorme. Os acontecimentos religiosos
  são frequentemente assumidos como acontecimentos sociais.
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  Três exemplos:
 
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  Ao longo do ano podemos observar como os momentos de descanso ou de festa
  estão ligados a dias que assinalam acontecimentos de natureza religiosa (Domingo, Natal, Carnaval,
  Páscoa e outros dias feriados).
 
-
  Os momentos marcantes da vida das pessoas, como o nascimento, o baptismo, o
  casamento ou a morte, continuam a ser assinalados por
  cerimónias religiosas. 
 
- A moral, como já referimos,  é outro aspecto revelador da influência social da religião,
  nomeadamente como um poderoso meio de controlo social
  através da difusão das suas normas de conduta (comportamento).
 
3. Religião e Política
 
A religião por tudo o que anteriormente dissemos, 
tem estado sempre ligada à política. Umas vezes controlando o poder político, 
outras vezes funcionando como um instrumento de domínio social ao seu serviço. 
Esta relação, embora possa variar bastante de religião para religião, é muito 
diversificada e depende muito do tempo.
 
 
Em
  algumas sociedades, a religião assume tais proporções que o Estado se
  tornou a expressão directa da própria religião dominante, como acontece no
  Irão. Os chefes religiosos são também chefes políticos (Estado
  teocrático).
 
Alguns exemplos:
 
- No Judaísmo, a política deve estar a 
serviço da religião. O objectivo político  dos judeus foi sempre o de 
refundar na "terra prometida" um "reino" independente do "povo eleito" por 
Jeová. Neste sentido, em toda a parte onde se encontrem são chamados a 
participar ou contribuir para a concretização deste objectivo milenar. 
 
- No Cristianismo, esta ligação é muito 
diversificada, dada a separação proclamada por Jesus de Nazaré entre os dois 
"reinos", o de "Deus" e os dos "Homens". É por esta razão que as algumas 
correntes cristãs, como as Testemunhas de Jeová, os seus membros recusam 
participar em atividades políticas (eleições) ou em assumirem cargos públicos. 
Pelo contrário, outras assumem como sua missão um intervenção política 
organizada, possuindo os seus próprios partidos políticos. 
 
- No Islamismo existe uma clara subordinação 
da política à religião. Maomé, ao contrário de Jesus de Nazaré,  foi 
simultaneamente um chefe político e um líder religioso. O Alcorão tem inúmeras 
prescrições de natureza política e até militar.
 
- O Hinduísmo ao sustentar a existência de 
castas, grupos sociais estratificados, separados por relações endogâmicas, 
comensais e profissionais manteve uma profunda influência na organização 
política da sociedade indiana.  
 
- O Budismo tende a renegar a política, 
levando os seus crentes a confiarem o poder político a uma aristocracia 
alegadamente de homens sábios, o que não deixa de ser posição política.
 
Nas sociedades democráticas ocidentais desde o 
século XVII que se tem vindo a defender uma crescente separação entre a religião 
e a política, de modo a garantir a liberdade dos cidadãos.
 
Instrumentalização Política da 
Religião
 
Ao longo dos tempos e em todos os continentes, reis, 
imperadores, conquistadores e ditadores não só colocaram a religião ao seu 
serviço, mas também se fizeram adorar como seres divinos. Assim aconteceu, por 
exemplo, no antigo Egipto, China, Japão ou no 
Tibete, ou no continente americano, entre os incas, maias ou os aztecas.
 
Na Europa a situação não foi distinta. Alexandre, o Grande, 
segundo Plutarco era filho do amor entre a sua mãe (Olimpia) e um Deus. Os imperadores romanos, desde Augusto, 
exigiam ser adorados como deuses. O primeiro que institui este culto foi o 
imperador César 
Augusto (63 a.C.-14 d.C.
 
  
  
    
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       Henrique II (1519-1559) 
      pratica o toque num doente com uma afecção de pele, as escrófulas. in, 
      Livro de Horas de Henrique II.  | 
      
        O 
      ditador Napoleão Bonaparte, nesta obra de Jean Gros (1804), visita pessoas 
      infectadas por peste em Jafa (costa da Palestina). Toca no corpo de um dos 
      infectados para milagrosamente o curar.  | 
    
  
  
 
 
 
Os reis em França e na Inglaterra, a partir do século XIII, assumiram-se como seres 
possuídos de poderes milagrosos capazes de curarem 
pessoas com moléstias de natureza tuberculosa, usando apenas com o toque das suas mãos 
(reis taumaturgos). 
 
Um poder milagroso que o pintor Antoine Jean Gros 
procurou fazer querer que o ditador Napoleão Bonaparte também possuía. 
Muitos outros ditadores até aos nossos dias organizaram cultos da sua 
personalidade de modo a que fosse encarados como seres divinos, salvadores dos 
respectivos povos que dominaram. 
 
  
  
    
      
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       Estaline (Josef Stalin, 
      1878-1953), o "Pai dos Povos". URSS, Cartaz  | 
      
       Mao Tsé-Tung (1893-1976). 
      China, Cartaz, 1968  | 
    
  
  
 
 
No século XX, o culto da personalidade na maioria 
das ditaduras, assentava em imagens propagandísticas que elevava os ditadores, 
como Estaline, Mussolini, Hitler, Salazar, Franco,  Mao ou Kim ill-Sung e 
tantos outros, à categoria de seres sobre humanos, divinos. Desde cedo fora-lhes 
confiada uma missão transcendente, como a salvação dos respectivos povos ou da 
própria humanidade, uma missão que só seres com as suas características as 
podiam realizar. O poder político (sempre efêmero) era desta forma ligado a uma 
dimensão sobrenatural, eterna, supostamente mais segura.
 
Nicolau Maquiavel, em obras como "O Príncipe" 
(1532), sustentou que a religião devia ser encarada como um instrumento do poder 
político, essencial para a sua conquista e manutenção.    
 
 
 
4.Religiosidade
Popular
 
As
grandes religiões são quase sempre percorridas  por duas correntes
religiosas nem conciliáveis: a "oficial" e a "popular".
 
A
"oficial está ligada à elite dos sacerdotes. Caracteriza-se por uma
elevada racionalização das crenças e ritos religiosos, transformando-as num
corpo doutrinal muito intelectualizado, depurado de outras tradições
religiosas. Apresenta-se quase sempre numa linguagem abstracta e universal. O
divino apresenta-se enquadrado numa estrutura teórica muito complexa. O comum
dos crentes raramente compreende ou sente a religião desta forma. A obra de
grandes teóricos dos cristianismo, como Agostinho de Hipona ou Tomás de Aquino
são exemplos desta corrente.
 
A
corrente "popular" está ligada à forma como a maioria das pessoas
encara a religião: a emoção sobrepõe-se à razão. O vivido ao pensado. O
desvio da norma oficial é por vezes total. Caracteriza-se por uma visão
espontânea, emotiva, sincrética e concreta da religião. Esta religiosidade
popular é herdeira de tradições ancestrais, podemos encontrar na mesma
crenças e ritos de antigas religiões há muito desaparecidas. O crente não
sente qualquer incoerência em acreditar, por exemplo, no cristianismo e em
praticar também rituais de origem pagã. Na religiosidade popular em Portugal
podemos encontrar inúmeros exemplos deste sincretismo milenar. 
 
Estas
manifestações populares de religiosidade atribuem uma grande importância a
tudo o que pode ser visto, tocado ou sentido directamente. O crente procura
sentir de forma muito viva o contacto com o divino e obter um testemunho
concreto deste contacto. É por esta razão que nela se apela a tudo o que é de
natureza física, como os gestos e se recorre a práticas mágicas, feitiços,
exorcismos, sacrifícios, peregrinações, etc. que envolvem de forma marcante
quer o crentes quer o sacerdote; usa e abusa-se de objectos de culto como
mezinhas, imagens de santos, virgens, estátuas, medalhas, etc , para se obter isto ou aquilo, ou
simplesmente para se testemunhar que se esteve neste ou naquele local sagrado. 
 
As
relações com o divino são quase sempre, neste caso, relações de troca: O
crente promete fazer uma oferta (promessa, voto) caso o divino lhe dê o lhe
pede. Uma vez recebida a dádiva, o crente vê-se obrigado a efectuar o
pagamento.  
 
  
  
    
      
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       Procissão em Kursk (1883), 
      de Ilya Repin (1880-1883). Rússia  | 
      
       As Promessas (1933), de José 
      Malhoa (1859-1933). MJM Caldas da Rainha  | 
    
  
  
 
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Continuação