O problema da liberdade humano, pelas implicações
que tem, nomeadamente na questão da responsabilidade, tem sido objecto de
um longo debate, e tem originado várias posições teóricas.
Homem-Máquina (2005), Construção em 3D de Meats Meier
1. Determinismo Radical
Segundo a perspectiva determinista (radical) a
liberdade é uma ilusão, resultante da ignorância que temos das causas que, em
cada momento estão a determinar o nosso comportamento e aquilo que nos acontece.
A explicação para este determinismo está no facto
de fazermos parte da natureza, e nada nela acontece ao acaso. Se admitirmos que
na natureza tudo está determinado por uma série infinita de causas e efeitos,
previsíveis, então temos que admitir que o mesmo acontece com os seres humanos.
As acções humanas são determinadas por causas externas ao agente,
similares às que regem a sucessão dos fenómenos naturais. A causa de uma ação
está fora do controlo do agente.
As decisões que o agente assume como suas, fazem
parte de uma cadeia de causas-efeitos que o ultrapassam e lhe são anteriores.
Esta concepção no passado era identificada com Fatalismo, crença segundo a qual a ação humana é incapaz de
influenciar o curso dos acontecimentos, nada mais nos restando do que aceitarmos
um "destino" a que ninguém pode fugir.
Esta concepção determinista adquiriu uma enorme importância com a ciência moderna (séc. XVII),
quando todo o Universo passou a ser encarado com um sistema submetido a leis
invariáveis. Várias áreas da ciência actual, como a biologia, tendem a acentuar
esta visão determinista que nega a liberdade humana.
Fatalismo (1893), Jan Toorop
2. Libertismo (libertarianismo)
Segundo a perspectiva libertista, o ser humano,
embora seja condicionado, é uma excepção na natureza, porque
tem capacidade de determinar-se a si próprio. O passado ou as condicionantes
externas não pesam de forma
esmagadora nas nossas decisões.
Na natureza podem existir múltiplas causas, mas
nenhuma delas é suficiente determinante para nos impor um único caminho, logo em
última instância, o caminho que seguimos é determinado por nós, pelas nossas
escolhas (livre-arbítrio).
Esta concepção, no passado assentava na dualidade
corpo-alma. Considerava-se que o corpo estava submetido às mesmas causas
necessárias que regem os fenómenos da natureza, mas a alma era inteiramente
livre, estando acima ou fora da causalidade do mundo natural.
Atualmente apoia-se em dois argumentos
fundamentais: a consciência que temos da nossa própria liberdade e
responsabilidade, e numa concepção indeterminista do universo, segundo a qual o
acaso existe na natureza, sendo impossível prever todos os fenómenos por causas
determinantes.
3. Compatibilismo (Determinismo Moderado)
Face às duas posições anteriores, surgiu uma
terceira posição conciliadora. De acordo com esta perspectiva, determinismo e
liberdade são conciliáveis. As leis naturais, físicas e psíquicas
existem e traduzem-se em efeitos para o sujeito. No entanto, nós temos a
capacidade (liberdade) de controlar os efeitos resultantes de factores externos.
Em resumo: inúmeros factores influenciam a nossa acção, mas estes não são
determinantes (constringentes), mas apenas condicionantes. A escolha é sempre nossa.
A partir daqui podemos distinguir dois tipos de
acções:
As acções livres são determinadas por factores internos (vontade,
desejos, crenças)
As acções não livres são determinadas por factores externos ao
sujeito (imposições, obrigatoriedades legais, etc).
Carlos Fontes