1. Problema do Livre-Arbítrio
O problema do livre-arbítrio consiste em saber se é possível
afirmar que tudo o que acontece é resultado de uma causa e ao mesmo tempo
sustentar que a ação humana é livre, isto é, não é determinada por uma lei que a
torna necessária e previsível.
O estudo das condicionantes da ação humana mostraram-nos
que é possível explicar todas as nossas ações com base em causas que são alheias
à nossa vontade. O estudo da natureza mostra também que tudo o que acontece só
pode ser explicado com base numa sucessão de causa-efeito, partindo do princípio
que nada acontece ao acaso. Será o ser humano uma excepção ?
2. Conceito de Liberdade
Apesar de todos os condicionamentos, continuamos
a afirmar que o homem é um ser livre, pois em
última instância é sempre ele que decide agir ou não.
-. Sendo livre pode decidir ajustar-se ou não às regras sociais que
encontra. Pode realizar ou não actos que constituem verdadeiras
rupturas com os condicionalismos e as solicitações externas ou internas (Liberdade de).
-Sendo livre toma decisões que têm como
objectivo responder à sua necessidade de realização pessoal, em
conformidade com o seu próprio projecto de vida (Liberdade para).
Mas o que se entende por liberdade?
- Designa a capacidade que todo o homem possui de actuar segundo a sua
própria decisão.
3. Pressupostos da Liberdade
A liberdade
implica:
- Autonomia do sujeito face às suas condicionantes.
Embora o homem esteja sempre condicionado por factores externos e
internos, para que uma acção possa ser considerada livre é necessário
que ele seja a causa do seus actos, isto é, que tenha uma conduta livre.
- Consciência da acção. A acção
humana é a manifestação de uma vontade livre e portanto consciente
do seus actos. Este pressuposto implica que o sujeito não ignore a
intenção, os motivos e as circunstâncias, assim como as consequências da da própria acção. Pressuposto que está
todavia longe de estar sempre satisfeito.
- Escolhas fundamentada em valores. A
acção implica sempre a manifestação de certas preferências,
implicando o homem nessa escolha. Nem sempre contudo, esta dimensão
da liberdade é consciente, embora seja sempre materializada na
própria acção.
4. Formas de Liberdade
- Liberdade interior: autonomia face a si mesmo
(Liberdade psicológica) e de agir segundo valores livremente escolhidos
(Liberdade Moral)
- Liberdade Exterior: autonomia face à sociedade
(Liberdade sociológica) e de exercer os direitos básicos de qualquer cidadão
(Liberdade Política).
5.
Responsabilidade
A liberdade é
inseparável da responsabilidade, pois aquele que reconhece como suas
determinadas decisões, tem que igualmente reconhecer e assumir as
consequências e os efeitos das mesmas. Este será uma assunto que
desenvolvermos em detalhe quando abordarmos, em detalhe, a dimensão ética do agir.
6. Individualização
Embora o homem não seja livre de escolher o que lhe
acontece, é todavia livre de responder desta ou daquela forma ao que lhe
acontece (F. Salvater).
É nestas escolhas que o homem faz que define a
sua individualidade, personalidade. As opções que tomamos ao longo da vida é
que nos diferenciam. É por elas que somos julgados e avaliados nas nossas
condutas. Aquilo que somos manifesta-se portanto naquilo que fazemos.
Carlos Fontes
A Liberdade ou a Morte (1795), pintura de Jean-Baptiste
Regnault.