1. Condicionantes
As nossas decisões são sempre condicionadas. A existência destas condicionantes pode ser constata quando
observamos a semelhança de certos comportamentos entre os seres humanos e
algumas espécies de animais, ou quando comparamos os indivíduos de diferentes
épocas, culturas, condições sociais, etc. As semelhanças e diferenças de
comportamento que observamos são em grande medida explicáveis pelos factores
que condicionam a acção dos indivíduos do mesmo grupo ou espécie.
Inúmeros factores de natureza biológica, histórica,
social, cultural e outros que influenciam de forma mais ou
menos evidente o nosso comportamento e as nossas decisões.
2. Condicionantes Orgânicas
O corpo situa o homem na natureza como um ser
fisico-biológico, sofrendo em virtude deste facto todo o tipo de influências
físicas.
Toda a acção humana é, em geral, condicionada
pelos mecanismos fisiológicos do nosso sistema nervoso, glandular, etc. O nosso
organismo fornece-nos a energia psicossomática necessária para agirmos, mas
também determina a forma como agimos e reagimos aos estímulos do mundo
exterior. Estes determinismos biológicos embora não controlem totalmente o
comportamento humano, não deixam de impor certas predisposições para a
acção, nomeadamente quando se trata de acções decorrentes de motivações
básicas: sobrevivência, auto-conservação, procura do prazer ou a fuga à
dor.
3. Condicionantes Culturais
Quando comparamos os seres humanos com os outros
seres, aquilo que desde logo se destaca é a sua enorme capacidade de
adaptação às mais diversas situações, seja modificando o comportamento,
seja alterando o próprio meio. Nesta adaptação a enorme capacidade de
aprendizagem humana desempenha em todo o processo uma função essencial.
É característico da natureza humana a sua
capacidade de integração às mais variadas sociedades e grupos sociais,
onde adopta desde nascença as suas normas, valores e comportamentos
específicos. É por esta forma que os seres humanos se diferenciam entre si,
condicionados pelos padrões culturais que encontram quando nascem.
Cultura de Massas (1977), ilustração de
Robert Crumb
4. Condicionantes, Determinismo e Livre-Arbítrio
Baseados
na existência de uma enorme multiplicidade de factores condicionantes da
acção humana, internos e externos, alguns filósofos negaram a existência da liberdade humana
(Livre-Arbítrio).
As nossas acções, numa perspectiva determinista, seriam
sempre determinadas por causas que nos transcendem e
sobre as quais não temos qualquer poder. A liberdade é pois uma ilusão. Não
sou eu que escolho, mas um conjunto de circunstâncias que escolhem por
mim.
Numa perspectiva contrária,
apesar de se reconhecer a múltiplas influências que condicionam as nossas
decisões,
temos igualmente que admitir que o homem possui sempre alguma margem de liberdade
nas suas acções. Não podemos pois falar de actos mecânicos de resposta a
estímulos, mas de acções livres. As suas decisões implicam quase sempre escolhas entre uma multiplicidade de
opções possíveis.
As nossas decisões são indissociáveis da nossa liberdade, assim como da responsabilidade
moral ou jurídica das suas consequências.
A Leitura (1870), Henri Fantin-Latour, Museu Calouste
Gulbenkian, Lisboa
A concepção que tudo no universo está submetido a
leis que regulam a regularidade e constância dos fenómenos remonta à
antiga Grécia. No século XVII e XVIII, o determinismo físico negou a
liberdade humana, dado que os seres humanos possuem uma dimensão
corpórea, logo estão submetidos ás mesmas leis que regulam a natureza.
Bento Espinosa (1631-1677) negou a liberdade humana
(livre-arbítrio), afirmando que as deliberações humanas são determinadas
por causas externas. Isaac Newton (1642-1727) afirmou que as leis
que descobrira eram capazes de não apenas explicar os fenómenos que
ocorrem, mas permitiam prever os que irão ocorrer no futuro. No
século XIX, esta concepção determinista foi aplicada à história da
humanidade e à explicação do comportamento humano. Augusto Comte
(1798-1857), por exemplo, afirmou que o espírito humano obedece a leis
que constituem as próprias leis do desenvolvimento da humanidade.
No século XX muitos cientistas das mais diversas
áreas como a história, antropologia, sociologia, psicologia ou da
biologia, negaram a liberdade humana frequentemente fazendo
generalizações sobre o comportamento humano a partir de casos
particulares. B. Skinner (1904-1990), um dos fundadores do
behaviorismo, sustentou que o comportamento de um ser humano, à
semelhança do animal, dependia do sistema de recompensas e
castigos que recebeu do meio (ambiente, social). Se soubermos usar este
sistema na educação de um ser humano poderemos criar a "identidade
pessoal " que quisermos. |
Carlos Fontes