Navegando na Filosofia - Carlos Fontes
Caracterização da acção humana.

Somos inteiramente livres?

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Textos

 

Existir é um modo de vida que é próprio do ser capaz de transformar, de produzir, de decidir, de criar, de recriar, de comunicar. Paulo Freire 

Esquemas

 

 

Atos Voluntários e Involuntários

 

 

Síntese

Acção Humana

 

 

1. O homem define-se pelo modo como escolhe, decide e executa as diferentes acções. Cada homem individualiza-se neste processo. Através das acções o homem transforma a realidade, intervém no curso dos acontecimentos, torna-se num agente de mudança. As suas acções projectam-no no futuro.

2. As acções denominadas humanas são as específicas do homem, as que são inerentes à sua natureza. O homem pratica dois tipos de actos: os que são comuns a outros animais e os que só ele próprio realiza.

No primeiro caso temos, entre outros, os chamados actos instintivos.

Konrad Lorenz no seus habituais passeios acompanhado por um bando de gansos, sobre cujo comportamento realizou importantes investigações.

Os estudos de Konrad Lorenz, apontam para a existência de quatro grandes instintos comuns ao homem e aos animais (Nutrição, Reprodução, Fuga e Agressão). Os instintos nos animais determinam quase totalmente o comportamento destes, permitindo-lhes uma resposta perfeita ao meio, constituindo uma condição imprescindível à sua sobrevivência.

No segundo caso, a actividade instintiva é secundarizada em favor da actividade reflexiva, especifica dos seres humanos. Agir, no caso do homem, implica pensar antes de agir (analisar as situações, definir objectivos, escolher as respostas mais adequadas e ponderadas as suas consequências). Por tudo isto não podemos reduzir as acções dos homens a simples actos mecânicos.

Os homens são livres de agir ou não, de escolher um ou outro caminho. Os seus actos possuem uma dimensão moral que se fundamenta na liberdade e na consciência da acção.

Numa dimensão moral, como veremos, os homens praticam também actos que embora sejam conscientes e intencionais não deixam de ser considerados inumanos. A razão é que os mesmos não se enquadram no âmbito daqueles que consideramos dignos de seres humanos.

"Mão de um "pianista", escultura de Augusto Rodin (1840-1917)

3. Dada a diversidade das acções que o homem pratica é natural que a palavra acção tenha muitos significados. Importa distinguir dois tipos de atos, os involuntários e as voluntários.

      Atos involuntários: os atos que não implicaram qualquer intenção da parte do sujeito. Coisas que acontecem connosco, mas onde nos limitamos a ser meros receptores de efeitos que não provocamos. Há actos que realizamos por um mero reflexo instintivo, fazemo-los sem pensar. Há outros que realizamos de forma acidental devido a uma sucessão de causas que nos são totalmente alheias e que não controlamos.

      Atos voluntários: os atos  que implicam uma intenção deliberada do sujeito de agir de determinado modo e não doutro. Estes atos (acções)  são reflectidos, estudados, premeditados ou até projectados a longo prazo tendo em vista atingir determinados objectivos. Nestes casos afirmamos que temos a intenção ou o propósito de fazer o que fazemos.

Aplicamos o termo "acção" apenas para os actos que realizamos de forma consciente, dado que são os únicos específicos dos seres humanos.

Chimpanzé Congo. Nos anos 60 era mundialmente conhecido pela sua habilidade como pintor, revelando surpreendentes capacidades de composição e na mistura de cores. A primeira exposição ocorreu em 1957. O zoólogo Desmond Morris escreveu vários livros comparando os seres humanos com os chimpanzés, tais como "O Macaco Nu "(1967), "Zoo Humano (1969), " A Biologia da Arte", etc.

O reconhecimento da "inteligência" dos animais não tem sido pacifica ao longo da história. Descartes (1596-1650) considerava que os animais eram desprovidos de todo o pensamento e sensibilidade. Charles Darwin (1809-1882) sustentou pelo contrário que os animais eram dotados de inteligência, de capacidades de aprendizagem e comunicação. A diferença em relação aos seres humanos estava no grau de evolução, não na sua natureza. Wallace Craig conseguiu estabelecer uma classificação do comportamento animal em atos de busca, escolha, encontro e alimentação. Konrad Lorenz (1903-1989) provou que o comportamento animal era regido por instintos.

Estes estudos permitiram criar a etologia, a  ciência que investiga as causas dos atos dos animais, tanto no aspecto da observação, como na experimentação no ambiente natural ou no laboratório, tendo em conta as causas internas (fisiológicas), assim como os efeitos ambientais, ocupa-se da hereditariedade e da evolução dos atos dos animais, assim como da sua aplicação ao comportamento animal.

Estes estudos permitiram perceber que todos os animais, por mais primitivos que sejam, são susceptíveis de aprenderem respostas a determinados estímulos, embora em graus muito diferentes de espécie para espécie. Entre os processos de aprendizagem dos animais mais estudados destacam-se os seguintes: habituação (adaptação animal que não implica a aquisição de respostas novas, mas sim na perda de respostas velhas); condicionamento clássico (exemplo: estudo de Ivan Pavlov com cães); tentativa e erro ou Condicionamento Operante (estudo Edward Thorndike com gatos); aprendizagem latente  (estudo de Edward Tolman com ratos) e  estampagem ( estudo de Konrad Lorenz com gansos).

O estudo comparativo do genoma humano e dos chimpanzés mostrou que eram idênticos em 98,7%.  Face a estes valores, alguns investigadores caíram na tentação de atribuírem a animais características humanas, que não têm qualquer relação com a realidade.   

Carlos Fontes

Carlos Fontes

10º. Ano - Programa de Filosofia

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