1. O homem define-se pelo modo como escolhe, decide e executa as
diferentes acções. Cada homem individualiza-se neste processo. Através das acções o homem transforma a
realidade, intervém no curso dos acontecimentos, torna-se num agente de
mudança. As suas acções projectam-no no futuro.
2. As acções denominadas humanas são as
específicas do homem, as que são inerentes à sua natureza. O homem pratica
dois tipos de actos: os que são comuns a outros animais e os que só ele
próprio realiza.
No primeiro caso temos, entre outros, os chamados
actos instintivos.
Konrad Lorenz no seus habituais passeios acompanhado
por um bando de gansos, sobre cujo comportamento realizou importantes
investigações.
Os estudos de Konrad Lorenz, apontam para a existência de
quatro grandes instintos comuns ao homem e aos animais (Nutrição,
Reprodução, Fuga e Agressão). Os instintos nos animais determinam quase
totalmente o comportamento destes, permitindo-lhes uma resposta perfeita ao meio,
constituindo uma condição imprescindível à sua sobrevivência.
No segundo caso, a actividade instintiva é
secundarizada em favor da actividade reflexiva, especifica dos seres
humanos. Agir, no caso do homem, implica pensar antes de agir (analisar as
situações, definir objectivos, escolher as respostas mais adequadas e
ponderadas as suas consequências). Por tudo isto não podemos reduzir as acções dos homens a simples
actos mecânicos.
Os homens são livres de agir ou não, de escolher um ou outro
caminho. Os seus actos possuem uma dimensão moral que se fundamenta na
liberdade e na consciência da acção.
Numa dimensão moral, como veremos, os homens
praticam também actos que embora sejam conscientes e intencionais não deixam
de ser considerados inumanos. A razão é que os mesmos não se enquadram no âmbito
daqueles que consideramos dignos de seres humanos.
"Mão de um "pianista", escultura de Augusto Rodin
(1840-1917)
3. Dada a diversidade das acções que o homem
pratica é natural que a
palavra acção tenha muitos significados. Importa distinguir dois
tipos de atos, os involuntários e as voluntários.
Atos involuntários:
os
atos que não implicaram qualquer intenção da parte do sujeito.
Coisas que acontecem connosco, mas onde nos limitamos a ser meros
receptores de efeitos que não provocamos. Há actos que realizamos
por um mero reflexo instintivo, fazemo-los sem pensar. Há outros que
realizamos de forma acidental devido a uma sucessão de causas
que nos são totalmente alheias e que não controlamos.
Atos
voluntários: os atos que implicam uma intenção deliberada do sujeito de
agir de determinado modo e não doutro. Estes atos (acções) são reflectidos, estudados, premeditados ou até projectados a longo prazo
tendo em vista atingir determinados objectivos. Nestes casos afirmamos
que temos a intenção ou o propósito de fazer o que fazemos.
Aplicamos o termo
"acção" apenas para os actos que realizamos de forma consciente, dado que são os únicos
específicos dos seres humanos.
Chimpanzé Congo. Nos anos
60 era mundialmente conhecido pela sua habilidade como pintor, revelando
surpreendentes capacidades de composição e na mistura de cores. A
primeira exposição ocorreu em 1957. O zoólogo Desmond Morris escreveu
vários livros comparando os seres humanos com os chimpanzés, tais como
"O Macaco Nu "(1967), "Zoo Humano (1969), " A Biologia da Arte", etc.
O reconhecimento da "inteligência" dos
animais não tem sido pacifica ao longo da história. Descartes
(1596-1650) considerava que os animais eram desprovidos de todo o
pensamento e sensibilidade. Charles Darwin (1809-1882) sustentou
pelo contrário que os animais eram dotados de inteligência, de
capacidades de aprendizagem e comunicação. A diferença em relação aos
seres humanos estava no grau de evolução, não na sua natureza.
Wallace Craig conseguiu estabelecer uma classificação do
comportamento animal em atos de busca, escolha, encontro e alimentação.
Konrad
Lorenz (1903-1989) provou que o comportamento animal era regido por
instintos.
Estes estudos permitiram criar a etologia,
a ciência que investiga as causas dos atos dos animais, tanto no
aspecto da observação, como na experimentação no ambiente natural ou no
laboratório, tendo em conta as causas internas (fisiológicas), assim
como os efeitos ambientais, ocupa-se da hereditariedade e da evolução
dos atos dos animais, assim como da sua aplicação ao comportamento
animal.
Estes estudos permitiram perceber que todos
os animais, por mais primitivos que sejam, são susceptíveis de
aprenderem respostas a determinados estímulos, embora em graus muito
diferentes de espécie para espécie. Entre os processos de aprendizagem
dos animais mais estudados destacam-se os seguintes: habituação
(adaptação animal que não implica a aquisição de respostas novas, mas
sim na perda de respostas velhas); condicionamento clássico
(exemplo: estudo de Ivan Pavlov com cães); tentativa e erro ou
Condicionamento Operante (estudo Edward Thorndike com gatos);
aprendizagem latente (estudo de Edward Tolman com ratos) e
estampagem ( estudo de Konrad
Lorenz com gansos).
O estudo comparativo do genoma humano e dos chimpanzés
mostrou que eram idênticos em 98,7%. Face a estes valores, alguns
investigadores caíram na tentação de atribuírem a animais
características humanas, que não têm qualquer relação com a realidade.
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Carlos Fontes