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José Ortega y Gasset

(1883-1955)

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Ortega é considerado o mais influente filósofo espanhol do século XX. Nasceu no seio de uma abastada família de Castela. Estudou filosofia em Madrid e prosseguiu os seus estudos na Alemanha, onde contactou com a fenomenologia (Husserl, N. Hartmann), historicismo (Dilthey) e o vitalismo. Heidegger foi contudo uma referência fundamental no seu pensamento e na sua postura política perante os regimes totalitários. Como este filósofo alemão, admirador nos anos 30 do nazismo, Ortega irá igualmente manifestar as suas abertas simpatias pelo ditador Salazar (Portugal) e depois tentar cair nas boas graças de Francisco Franco (Espanha).

Este posicionamento político está já inscrito na sua filosofia. Ortega, tal como Heidegger, vê no desenvolvimento das tecnologias e no acesso generalizado da população ao consumo, não uma fonte de progresso, mas como uma ameaça ao "Homem" e aos valores "perenes". Em nome deste combate (aristocrático) à "massificação" e à "desumanização da arte" acaba por adoptar uma atitude cúmplice com as ditaduras que se apregoavam justamente defensoras dos valores tradicionais. Como Heidegger face ao Nazismo, pouco lhe interessou a barbárie que cometiam. 

Ortega viveu em Lisboa entre Março de 1942 e 1955, sempre rodeado de fervorosos defensores da ditadura salazarista. No seu luxuoso apartamento na Avenida da República,  enquanto escreve sobre as grandes ameaças do mundo moderno, ignora por completo o mundo real que está à sua volta. As ditaduras na sua tão apregoada "Europa" não o incomodam, o que o aflige é a massificação do mundo moderno. Logo após o fim da IIª. Guerra Mundial (1945), numa entrevista ao director do jornal italiano IL Giornale , manifesta apenas uma única preocupação em relação a Portugal: o possível assassinato do ditador Salazar. Se este fosse morto, Ortega temia que o país mergulhasse no caos. A única solução para o povo português era mesmo conformar-se à barbárie.    

Ao longo dos 13 anos que viveu em Portugal, período interrompido por algumas estadias em Espanha, mostrou sempre um desprezo ostensivo para com os portugueses e a situação do país: Viver numa ditadura não o incomodava. O grande perigo era que o ditador fosse morto. Este seu desprezo era extensivo aos milhares de republicanos espanhóis exilados que se encontravam também em Portugal. O drama da sua existência não o incomodou. O importante era mesmo a protecção de Salazar. Nas suas visitas a Espanha, depois de 1946, procurou igualmente o reconhecimento de outro ditador: Francisco Franco.

A razão da sua indiferença em relação a Portugal tem uma explicação muito simples: Ortega faz parte de uma geração de políticos e intelectuais espanhóis que impregnados de ideias totalitárias não concebia a existência de Portugal. O povo português não existia no seu imaginário, a não ser como parte da Espanha 

Esta ideia muito difundida entre monárquicos, republicanos e depois falangistas espanhóis, teve uma terrível consequência política: ajudou a consolidar a ditadura salazarista, dado que esta se afirmava um bastião contra as ingerências externas.

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