Navegando da Filosofia - Carlos Fontes

Dimensão ética do agir

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Síntese

Éticas  Deontológicas e Consequencialistas

Immanuel Kant e Stuart Mill

 

 

1. Immanuel Kant (1724-1804)

A ética deontológica de Kant apesar de profundamente inovadora, não deixa de reflectir algumas ideias da sua época - o século das Luzes (Iluminismo), das quais destacamos as seguintes:

- Razão. O século XVIII divinizou a racionalidade. Não se tratou apenas de reconhecer que todos os seres humanos tinham a capacidade para distinguirem o bem do mal e determinarem com responsabilidade o seu próprio destino, mas de elevarem a razão a uma nova dimensão. A Razão era o único guia aceitável para levar a Humanidade a descobrir todos os segredos do Universo e conduzi-la ao Progresso. A ciência, como a expressão da própria razão,  devia ocupar o lugar que até aí fora da religião.

Kant colocou a razão no centro da sua reflexão filosófica.

- Liberdade. As ideias de "autonomia" e "emancipação", omnipresentes no discurso político do século XVIII, significavam o fim de todas as formas de superstição e da opressão política e religiosa dos Homens. 

O reconhecimento que todos os homens, independentemente da sua condição social, tinham capacidades inatas para serem juízes das suas próprias acções. O Individualismo contemporâneo com a sua afirmação radical da autonomia do sujeito e da sua subjectividade contra todas as formas de submissão ou sujeição adquiriu plena expressão.

- Bondade Humana. Filósofos como J.Jacques Rousseau constroem uma ficção histórica, segundo a qual o "homem primitivo" , possuía já uma consciência que lhe permitia distinguir o bom do mal, justo do injusto, certo do errado. As decisões erradas derivam não da natureza humana, mas sim da influência da cultura ou da sociedade. 

Kant afirma que a capacidade de distinguir o que é certo do que é errado é tão inata quanto as outras propriedades da razão. Não se trata portanto de ensinar nada, mas de libertar a razão.

Esta ideia torna-se fundamental para a fundamentação de muitas teorias políticas e éticas, assentes numa visão optimista do ser humano. 

- Universalidade. Os filósofos passam a falar na Humanidade, isto é, assumem o conceito universal de ser humano. O seu discurso dirige-se agora claramente a todos os homens, aos quais reconhecem os mesmos direitos e deveres. As leis morais, como as leis das ciências da natureza, devem ser universais.

Kant coloca-se sempre numa perspectiva universal, nomeadamente na sua reflexão ética. Afirma, por exemplo,  que um princípio prático (moral) para tenha validade como lei, tem que ter validade universal  (valer para toda a vontade ou para a vontade em geral). É nesse sentido que sustenta uma moral formal.

Legalidade e Moralidade

Kant começa por fazer uma clara distinção entre uma acção boa e uma acção moralmente boa.

A primeira corresponde à que fazemos em respeito às leis e normas morais de uma dada sociedade. Trata-se de uma acção conforme ao dever.

A segunda resulta de uma decisão nossa, livre e incondicionada, que se impõe à nossa consciência como obrigatória, independente das leis ou normas morais vigentes. Trata-se de uma acção assumida como um dever e realizada por dever. Esta é a única moralmente boa.

Em termos formais (Kantianos) esta obrigatoriedade decorre da liberdade, a autonomia da vontade. 

A obediência é apenas para com as decisões universalizadas, isto é, decisões imparciais, de utilidade geral, etc. 

O dever surge como um imperativo categórico - tu deves -, que se impõe a uma consciência moral inteiramente livre. 

Saber Mais: Fundamentação Metafísica dos Costumes, Kant

 

2. Stuart Mill (1806-1873)

A ética de Suart Mill é uma visão renovada e crítica da ética utilitarista de Jeremy Bentham (1748-1832), reflectindo também o ideário positivista de Auguste Comte (1798-1857) e a sua crença na ciência e no progresso da Humanidade. 

É uma ética que reflecte em múltiplos aspectos a nova mentalidade democrática e burguesa que surgiu em Inglaterra no século XVIII. Há nesta ética uma clara preocupação por ser facilmente compreendida pelo cidadão comum e cujos resultados pudessem ser medidos pelos seus efeitos práticos.

A ética utilitarista denominada "consequencialista" assenta na ideia que cada pessoa deve articular os seus interesses particulares com os interesses mais comuns, de maneira que a sua acção seja boa, isto é, proporcione a máxima utilidade a todas as pessoas envolvidas nos resultados da acção.

Da mesma maneira que cada qual aspira por natureza à felicidade individual, assim também o bem-estar de todos é um bem para a totalidade dos seres humanos. 

Um acção boa é aquela que é útil, mas uma acção moralmente correcta é aquela cujas consequências se traduzem em felicidade (prazer ) para as pessoas. A correcção de uma acção é medida pelas consequências que da mesma se esperam. Um modo de as avaliar é medir o aumento da felicidade (prazer) e a diminuição do sofrimento dos que são afectados pela mesma.

O princípio do utilitarismo denominado Utilidade ou Maior Felicidade, sustenta que as acções são justas (correctas) na proporção com que tendem a promover a felicidade, e injustas enquanto tendem a produzir o contrário da felicidade. A aplicação deste princípio implica um calculo, uma espécie de aritmética do bem-estar, no qual se avaliam as vantagens e desvantagens das diferentes alternativas de uma dada acção, tendo em conta o grau de satisfação ou insatisfação que delas se pode esperar.

Neste calculo devem ser considerados um conjunto de parâmetros para avaliar a satisfação/insatisfação esperada, tais como: a sua intensidade, duração, certeza ou incerteza, a sua tendência, probabilidade da mesma dar origem algo da mesma espécie, etc. Este calculo utilitarista visa seleccionar a acção que seja boa (util) e moralmente correcta, isto é, que permita obter o máximo de felicidade (prazer ) no maior número de pessoas.   

 

        Carlos Fontes

Carlos Fontes

10º. Ano - Programa de Filosofia

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