Teorias de Aprendizagem e Software Educativo Carlos Fontes |
1.Introdução Um dos objectivos que está presente na utilização de software educativo consiste na procura de meios que reforcem a motivação dos alunos no processo de ensino-aprendizagem. Ora, os programas educativos (software educativo) não apoia ou reforça a aprendizagem de qualquer maneira. É por isso que na sua avaliação em termos pedagógicos é fundamental analisar, como referem D. Squires e A. McDougall, as teorias de aprendizagem adoptadas pelos seus conceptores. O software desenvolvido por um conceptor "conducionista é, em princípio, muito diferente do produzido por um conceptor construtivista. Este é um aspecto que as grelhas de avaliação de software educativo não dão o devido relevo, mas que se reveste da maior importância para um professor. 2. Teorias de Aprendizagem 2.1.Numa perspectiva conducionista, a aprendizagem é concebida como um mecanismo de "estímulo - resposta". Apresenta-se ao um certo material a um aluno e espera-se uma dada certa resposta. Após esta operação o professor (ou o programa informático) analisa as respostas dadas e fornece a informação referente aos resultados atingidos. Por último, espera-se que os resultados positivos estimulam o aluno a interiorizar os conteúdos da sessão ou lição, e os resultados negativos o convençam a voltar a pensar. Nesta teoria o aluno é encarado de uma forma passiva, sendo frequentemente reduzido a um mero receptáculo de saberes que lhe são transmitidos independentemente do seus estados cognitivos. Em síntese, esta teoria faz tábua rasa dos conhecimentos que o aluno já possui antes de iniciar a aprendizagem, ignora também os seus interesses e ritmos de aprendizagem 2.2. Numa perspectiva construtivista, a aprendizagem é concebida como um processo de acomodação e assimilação em que os alunos modificam as suas estruturas cognitivas internas nas suas experiência pessoais. Nesta teoria os alunos são encarados como participantes activos, aprendendo de uma forma que depende do seu estado cognitivo concreto. Os conhecimentos prévios, interesses, expectativas, e ritmos de aprendizagem são levados em conta nesta aprendizagem. Ela é entendida essencialmente como o processo de revisão, modificação e reorganização dos esquemas de conhecimento inicial dos alunos e a construção de outros novos, e o ensino como um processo de ajuda prestado a esta actividade construtiva do aluno.O professor é encarado como um mediador entre os contéudos e os aluno, cabendo-lhe organizar ambientes de aprendizagem estimulantes que facilitem esta construção cognitiva. Estas duas teorias de aprendizagem, são hoje tomadas como referências fundamentais na construção do software educativo. 3.Tipos de Software 3.1.Software Conducionista. Este tipo de software apresenta, em geral, sequências instrutivas fixas, cada passo é constituído por uma unidade limitada de saber. Através de exercícios e práticas em sequências de crescente complexidade, os alunos vão acedendo aos níveis superiores do saber. Este tipo de software revela-se particularmente eficaz e eficiente no ensino/aprendizagem de operações pouco complexas, susceptíveis de mecanização, libertando desta forma a mente para tarefas mais complexas. 3.2.Software Construtivista Este tipo de software possibilita a expressão e exploração individualizada, permitindo que os alunos desenvolvam aspectos específicos na aprendizagem. Os "micromundos informáticos" ou a construção de "realidades virtuais" constitui o melhor modelo para a aplicação desta teoria de aprendizagem. Nestas simulações da realidade, o aluno exercita as suas capacidades cognitivos em termos construtivos. Por outro lado, neste software educativo o aluno possui igualmente um controlo significativo sobre o funcionamento do programa e os contextos onde os problemas são de resolvido. Alguns destes programas, começam justamente pela construção de uma cidade, uma fábrica ou um simples produto. À medida que o aluno avança nestas construções, sucedem-se os problemas, e este é impelido a recorrer a novos saberes, assim como é estimulado a desenvolver novas ideias e conceitos cada vez mais complexos. 4. Os Actuais Desafios do Software As tecnologias de informação e comunicação estão a transformar os nossos conceitos mais básicos sobre educação, nomeadamente devido ao efeito de globalização. É possivel conceber que num futuro próximo a maioria dos alunos dos países mais desenvolvidos terão acesso a aprendizagens de elevada qualidade, através da "Internet", a partir de qualquer ponto onde se encontrem, seja em casa, no trabalho, na escola, ou na casa de férias... Esta situação implica que a educação/formação seja cada vez mais concebida de forma a facilitar o desenvolvimento de capacidades cognitivas capazes de tornar as pessoas aptas a seleccionar e aplicar o conhecimento a partir da informação e opiniões que circulam rapidamente e em grande quantidade. O excesso de informação global tende a desenraizar os indivíduos das respectivas sociedades, fazendo-os pairar no que já é conhecido por "cibermundo", distanciando-se progressivamente do local onde habita e dos seus semelhantes mais próximos. O excesso de informação ( ou de estímulos ?) acaba frequentemente por gerar uma ausência de conhecimento estruturado sobre a realidade envolvente. É neste contexto que a prioridade da educação/formação actual deve ser o desenvolvimento do pensamento crítico e a capacidade de resolução de problemas. Apesar destes potenciais efeitos negativos das tecnologias de informação e comunicação, elas possibilitam igualmente conceber o ensino/formação de uma forma mais estimulante. Na verdade, as tecnologias disponibilizam instrumentos que contribuem para colocar o aluno no centro do processo de ensino/aprendizagem, favorecendo a sua autonomia, e adequando-se facilmente aos seus ritmos de aprendizagem. Tudo depende do modo como forem concebidos os programas, mas também como os professores os explorem. Carlos Fontes |