Paradigmas e Modelos na Formação de Professores Carlos Fontes
|
1.Paradigmas de Formação Kenneth M. Zeichner, num conhecido texto sobre os paradigmas(1) de formação de professores, colocou em evidência o facto de que qualquer programa de formação de professores assentar numa dada postura ideológica, veiculada pelo formadores, mas também instituições de formação. Este autor distingue quatro paradigmas: 1.1. Paradigma Comportamentalista. Esta concepção de formação assenta numa epistemologia positivista e na psicologia comportamentalista. Neste sentido valoriza a dimensão tecnicista do ensino. O formação tende a reduzir-se a um conjunto de técnicas que professor deve adquirir aplicar no processo de ensino-aprendizagem dos alunos. O sucesso do professor é medido pelo domínio destas técnicas. Está subjacente a este paradigma a ideia da educação como uma ciência a aplicada. O professor é visto como um simples executor de leis e princípios do ensino eficaz que foram concebidos e experimentados por especialistas. Numa perspectiva ideológica esta formação ao centrar-se nas técnicas de ensino e naturalizar a sua natureza, acaba por sancionar o contexto educacional e social vigente. 1.2.Paradigma Personalista. Esta concepção está fundada numa epistemologia fenomenológica, na psicologia perceptiva e desenvolvimentista, mas também em princípios humanistas. Os programas de formação são feitos à medida das necessidades e peocupações dos professores, centrando-se na formação do "eu" de cada professor. As respostas para cada caso são naturalmente recolhidas junto dos professores mais competentes e maduros, julgadas naturalmente mais eficazes. Neste paradigma, ao contrário do anterior, os conhecimentos e as competências dos futuros professores não estejam definidos à priori, embora esteja implícita a preocupação por reorganização as percepções e as convicções dos futuros professores tendo em vista a sua conformidade a um dado modelo de maturidade psicológica tomado como modelo. Esta formação acaba sanciona igualmente o contexto social e educativo vigente, ao ignorá-lo no processo formativo. 1.3. Paradigma Tradicional-Artesanal. Neste paradigma o ensino é visto como uma arte e os professores como artífices. A formação dos professores é encarada como um processo de aprendizagem construído por tentativas e erro, que todavia pode ser facilitada com a ajuda e a sabedoria dos seus praticantes mais experientes. Estamos perante o clássico modelo de mestre-aprendiz. Como nos paradigmas anteriores, os futuros professores são visto como meros receptores passivos, não possuindo um papel determinante na determinação dos conteúdos e orientação dos programas de formação. Esta formação acaba também por sancionar o contexto social e educativo vigente. 1.4. O professor reflexivo. Este paradigma baseia-se no pressuposto que não há receitas antecipadas válidas para qualquer situação. Cada professor e contexto educativa é única e irrepetível. A formação de professores, ao contrário de fornecer receitas, deve preparar os professores para desenvolverem capacidades de analisarem os efeitos do que fazem junto dos alunos, escolas e sociedade. O pressuposto desta teoria é que quanto maior for a consciência de um professor sobre as origens e consequências das suas acções e das realidades que as constrangem, maior é a probabilidade de o professor poder controlar e modificar quer as acções quer os constrangimentos. A tarefa fundamental na formação de professores, é neste caso, a de desenvolver as capacidades dos futuros professores para a acção reflexiva, o "espírito crítico" sobre a sua prática e o o contexto social e educativo vigente. Uma última advertência de Zeichner:nenhum destes paradigmas tem surgido de uma forma isolada, pelo contrário, o que tem predominado são os paradigmas híbridos. 2.Modelos de Organização Formação A discussão da formação de professores em Portugal, tem assentado frequentemente no problema dos modelos de organização da formação. Os pressupostos ideológicos da formação são assim relegados para segundo plano. Desta forma, as implicações filosóficas e políticas da formação são eclipsadas, sancionado-se os diversos contextos sociais e educativos em que a formação ocorre. Alguns dos modelos de organização da formação tem sido tomados como referência fundamentais neste domínio. 2.1.Formação Integrada. A formação integra componentes científicas e pedagógicas. Existem muitas modalidades deste modelo. Predominou na formação de professores no ensino secundário entre 1901 e 1930. Voltou a ser implantada nas Faculdades de Ciências em 1971, desenvolvendo-se depois nas novas Universidades depois do 25 de Abril de 1974. 2.1.1.Formação Sequêncial. Variante da formação integrada. A formação científica surge separada da formação pedagógica, embora esta seja dada na sua sequência. Surgiu nas Faculdades de Letras das Universidades a partir de 1987. 2.2. Formação Dual. A formação científica e a formação pedagógica são encaradas duas formações distintas, podendo ocorrer em momentos muito desfasados. Este modelo predominou na formação dos professores do ensino secundário depois de 1930. 2.3. Formação em Exercício. Destinada a professores em exercício, a formação pedagógica é feita nas próprias escolas, possibilitando uma articulação entre a teoria e a prática. Este modelo foi institucionalizado na formação dos professores no ensino preparatório e secundário em 1979. 2.3.1. Formação em Serviço. Variante da formação formação em exercício. A formação neste caso é realizada numa instituição superior. Este modelo substituiu o anterior em 1988. A leitura meramente administrativa que tem sido feita destes modelos, tem omitido as suas implicações filosóficas e políticas. Trata-se de uma questão que abordaremos em breve. Carlos Fontes
(1) Paradigma: matriz de crenças e princípios acerca da natureza e objectivos da escola e da sua formação, que origina formas específicas de formação de professores. Os programas formação que se integram num dado paradigma, são suportados por um conjunto de pressupostos comuns diferenciam os objectivos prosseguidos em função de cada paradigma. |