Desde que os computadores começaram a ser utilizados na
educação que têm sido propostas diversas classificações sobre o software
educativo. Os vários tipos classificações, segundo D. Squires e A. McDougall,
podem ser agrupados em três grupos fundamentais, de acordo com os respectivos
critérios adoptados para caracterizar o software. Assim temos classificações
orientadas para a utilização, a função e o modelo educativo implícito
no software. 1. Classificação de acordo com a
Utilização A forma mais elementar deste tipo de classificação,
consistiu na divisão do software educativo em dois grandes grupos:
- Software genérico. Utilizável em qualquer
disciplina, ou em outras actividades não educativas. São
exemplificativos deste tipo de produtos, os processadores de texto, as folhas
de calculo, etc. - Software específico. Como o nome indica, trata-se de um
tipo de software concebido com a finalidade de ser usado no ensino, e
nomeadamente na aprendizagem de tema concretos. São exemplo deste tipo de
produtos, os programas de simulação usados no ensino de temas de ciência,
de prática de idiomas, de exercícios de matemática, etc.
A partir desta classificação, tem surgido muitas outras
mais sofisticadas, procurando descriminar com maior detalhe a utilização do
software.
Apesar da utilidade deste tipo de classificações,
nomeadamente na caracterização geral do software, as mesmas revelam enormes
limitações: -As categorias usadas são demasiado vagas.
- A complexificação das utilizações do software não
pára de aumentar, exigindo por consequência sempre novas categorias.
- Os produtos mais recentes, que abrangem uma enorme,
multiplicidade de utilizações, tornam-se extremante dificeis de classificar
segundo estes critérios.
2. Classificação de acordo com a
função. A concepção de um dado produto de software destina-se, em
princípio, a uma dada função e é esta que importa apurar, quando o
pretendemos classificar. Neste sentido, inicialmente foi apresentado uma
classificação muito simples, dividindo o software em três grandes grupos de
acordo com a sua função:
-Função: "Tutor". Este software é
concebido para funcionar como "professor substituto". O computador
apresenta certa material de uma dada disciplina, o aluno responde, o
computador classifica a resposta e segundo os resultados da avaliação,
determina dos passos seguintes. Trata-se de um tipo de produtos baseados em
exercícios de pergunta/estímulo-resposta.
- Função: "Ferramenta de Trabalho". Este
software é concebido para desempenhar um conjunto de tarefas específicas,
como a elaboração de gráficos, pesquisa de bases de dados, etc.
- Função: "Tutelados". Este tipo de software é
concebido de modo que o aluno ponha à prova a capacidade dos computadores
para resolver certos problemas ou concretizar certas ideias.
A partir deste classificação inicial, várias outras tem
sido apresentadas, nomeadamente a de J. Self, a seguir reproduzida:
Função
| Exemplos
de software relacionados com a função |
Promover a Motivação |
Jogos de aventuras, jogos de
computador
|
Despertar estímulos
novos |
Programas que
"imitam" o mundo real: versões informáticas de jogos de
resolução de problemas; jogos de aventuras que representam
actividades do mundo real, por exemplo, escavações arqueológicas;
simulações de fenómenos científicos, condução de automóveis,
etc
|
Activar a resposta dos alunos |
Programas de colocam problemas novos
aos alunos, por exemplo, estimar o angulo adequado de uma bola num
jogo de snooker.
| Proporcionar
Informação |
Exercícios,
programas de aprendizagem dirigida, programas de manipulação de
informação e linguagens de consulta.
|
Estimular a prática
| Exercícios
|
Estabelecer a
sucessão de aprendizagens |
Programas tutoriais
|
Proporcionar recursos
|
Programas que carecem de modos
previamente definidos de utilização.
|
3. Classificação segundo os Fundamentos
EducativosEsta classificação surgiu na sequência de um estudo em
larga escala realizado na
Grã-Bretanha- "National Development Programme in
Computer Assisted Learning (1973-1975). Baseia-se no pressuposto que
existem quatro grandes paradigmas para o ensino, e que não deixam de estar
implícitos no software educativo.
- Paradigma Instrutivo. Este software
assenta no pressuposto que o ensino é uma simples transmissão de conteúdos,
utilizando para tal um conjunto de metodologias e técnicas mais ou menos
eficazes. O centro
da atenção é o programa. O aluno é visto como um mero receptor de
mensagens. A intrução apresenta-se como uma sequência de operações
previamente definidas das mais simples para as mais complexas.
- Paradigma Revelador. Este software
assenta no pressuposto que a
aprendizagem é sobretudo uma descoberta, devendo por isso ser facultado aos
alunos meios para desenvolverem a sua intuição em relação ao campo de estudo. O centro da atenção
são os alunos. O software procura criar ambientes de exploração e de
descobrimento, sendo muito frequentes as simulações de ambientes
reais. Os alunos avançam na aprendizagem introduzindo dados para descobrirem as reacções ou
os efeitos que os mesmos provocam.
- Paradigma das Conjecturas. Este
software assenta no pressuposto que o saber é essencialmente uma
construção, O centro da atenção são os alunos na sua interacção com o
meio. O software procura criar uma espécie de micro-mundos informáticos que
possibilitem que os alunos manipularem ideias, conceitos ou modelos na
compreensão da realidade. Os alunos avançam na aprendizagem construindo
saberes. - Paradigma Emancipador.
Não se trata de um novo tipo de software, mas sim de uma maneira de encarar
qualquer a utilização dos computadores em geral, e os programas
informáticos em particular. Estes são vistos como meras ferramentas, cuja
grande utilidade consiste na libertação dos alunos de tarefas penosas e
repetitivas. Esta atitude anda em geral associada a uma concepção
utilitarista da educação, na qual esta é reduzida a uma mera resposta mais
ou menos eficaz a necessidades específicas do quotidiano.
4.Conclusão
Apesar da enorme utilidade
que pode ter este estes e outros tipos de classificações do software,
nomeadamente para melhor a sua concepção sob o ponto de vista educativo,
actualmente a sua relevância tem sido desvalorizada em favor do estudo da sua
utilização em contextos de aprendizagem. A razão é simples: a) um software
construído segundo um "Paradigma Revelador" pode ser explorado num
contexto de aprendizagem duma forma completamente diferente; b) um
"mau" software sob o ponto de vista técnico, pode igualmente
revelar-se um excelente recurso didáctico nas mãos de um imaginativo
professor. No ensino não há resposta infalíveis. Voltaremos ao tema.
Carlos Fontes
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