Qual o Melhor Meio?

Carlos Fontes

 

Qual será o melhor meio de ensino? A exposição oral? O quadro ? O livro de textos ? O computador ? Existem muitas ideias feitas sobre o assunto. A exposição oral é hoje identificada como um meio arcaico de ensino. Os recursos audiovisuais são já encarados como uma solução de recurso, quando são comparados com os miraculosos prodígios atribuídos ao ensino pela Internet.

Desde pelo menos o século XVI que a questão dos meios de ensino, provoca crescentes e apaixonadas discussões. O peso crescente das tecnologias na sociedade não explica tudo. O que está em jogo é de outra natureza, trata-se de descobrir o meio de ensino que permita:

- Incrementar a qualidade do ensino que é oferecida aos alunos;

- Reduzir os custos do ensino que é prestado;

- Facilitar o acesso à educação da maioria dos indivíduos;

- Promover o desenvolvimento de novos elementos currículares.

Os meios utilizados na educação, ao longos dos tempos, tem suscitado posições muito contraditórias. Juana M.Sancho Gil, partindo da relação dos educadores e dos pedagogos face às tecnologias caracterizou estas posições em termos de tecnofília e tecnofobia.

Os tecnofílicos sempre que surge uma nova tecnologia (artefacto, sistema simbólico ou organizativo), descobrem logo uma nova solução para os problemas do ensino ou mesmo da humanidade. Os tecnofobos, pelo contrário, descobrem um novo meio de alienação. Qualquer tecnologia que não seja a que se habituaram a usar desde pequenos, e que não faça já parte integrante das suas vidas, representa um perigo para os valores que compartilham na sociedade.

Ao longo da história da educação podemos encontrar inúmeras posições tecnofilicas e tecnofobas, face às mesmas tecnologias.

Platão, no Fedro, desfazendo o pretenso carácter neutral das tecnologias, sustenta que o uso da escrita conduziu os homens a desvalorizarem o exercício da memória, passando a confiarem em algo que lhes é exterior, a escrita. Aquilo que para Platão era um mal, foi encarado por outros como a libertação das limitações da memória dos indivíduos, permitindo enormes avanços na acumulação e expansão do conhecimento.

A invenção da imprensa (1453), foi vista por muitos educadores como uma ameaça, na medida que ao embaretecer o preço dos livros, facilitava o acesso ao saber. Ora, se o aluno podia ler nos livros o que era ensinado pelos educadores, mais dia menos dia, estes seriam dispensados. Nem todos pensavam da mesma maneira. Muitos viram na difusão dos livros a libertação dos educadores das tarefas mais penosas e rotineiras de transmissão dos saberes. A partir de 1820, um grande número de teóricos da educação descobriram na própria produção massiva de livros a baixo custo e de ampla distribuição, um poderoso meio de incrementar o progresso da humanidade.

O aparecimento do cinema e depois da rádio, despertou igualmente paixões contraditórias. Para alguns não passavam de novos meios de diversão e alienação, cuja única finalidade era o embrutecimento de largas massas da população. Os tecnofílicos, como sempre, deliraram com estas inovações. Thomas Edison, em 1922, afirmava que o cinema estava destinado a revolucionar o sistema educativo, e em poucos anos iria substituir os livros. Dez anos depois, Darrow, apregoava que a educação pela rádio iria, universalizar o acesso aos melhores professores.

A expansão da televisão, iniciada após a IIª. Guerra Mundial, desencadeou igualmente posições contraditórias . Polémica aliás que persiste com grande vivacidade.

A difusão dos computadores pessoais e dos CD-ROM, na década de oitenta, e depois da Internet nos anos noventa, foi acompanhada pela produção duma profusa literatura a favor ou contra o seu emprego no ensino.

Os tecnofílicos, tem insistido na ideia que estas tecnologias permitiram pela primeira vez, numa escala anteriormente impensável, personalizar o ensino, contemplar diferentes ritmos de aprendizagem, potenciar o desenvolvimento das capacidades de auto-expressão do alunos, para além de lhes alargar os horizontes de informação a uma escala planetária. Tudo isto num ambiente que pode ser muito divertido.

Os tecnofobos, denunciam por seu lado, o carácter repetitivo e superficial deste tipo de ensino, onde frequentemente apenas se valoriza a diversão em detrimento da reflexão. Ao individualizar a pesquisa e o processamento da informação, está igualmente a contribuir para isolar os indivíduos. O resultado não foi a criação de uma sociedade de informação, mas uma sociedade de multidões solitárias sequiosas de conhecimento.

Não é fácil decidir quem tem razão. Uma coisa não nos podemos esquecer: o ambiente tecnológico em que se processa hoje o ensino, não tem paralelo com o passado. As tecnologias de informação e comunicação deixaram de ser do domínio da ficção científica, para se tornarem no suporte da maioria das actividades sociais e económicas. É-nos impossivel imaginar a complexidade actual das nossas sociedades sem o recurso sistemático a estas tecnologias. Razão que só por si justifica uma reflexão sobre o assunto de todos os intervenientes no sistema de ensino. A escola não pode alhear-se da sociedade em que está inserida, sob pena de não cumprir a sua missão.

A nossa questão inicial mantém-se em aberto: - Qual é o melhor meio de ensino?

As pesquisas mundiais neste domínio, como refere Carlos Castano, são quase unânimes em reconhecer que não existe um meio de ensino mais eficaz do qualquer outro. A maioria dos objectivos educativos pode ser conseguida através da instrução ministrada por qualquer meio, ou por uma variedade de meios. Apenas quando se introduz uma nova tecnologia no ensino, é possível registar uma melhoria no rendimento dos alunos, mas que raramente ultrapassa os 15%. Passada esta fase inicial, o rendimento obtido volta a assemelhar-se ao conseguido com outros meios. Constata-se também que não existe uma relação privilegiada entre os meios de ensino e os diferentes tipos de tarefas de aprendizagem. A maioria dos meios pode ser utilizada de uma maneira eficaz para apresentar a informação dos mais distintos tipos de aprendizagem.

Estas constatações, embora não corroborem as teses dos tecnofilicos, também não sustentam a posição de princípio dos tecnofobos. O que elas revelam é que a relação pedagógica não pode ser encarada como mera uma relação mecânica entre professor e o aluno. Ela é uma criação que ambos constroem, e cujo resultado final depende muitíssimo mais do seu empenho e cooperação, do que das técnicas ou tecnologias empregues.

Carlos Fontes

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