Qual será o melhor meio de ensino? A exposição oral? O
quadro ? O livro de textos ? O computador ? Existem muitas ideias
feitas sobre o assunto. A exposição oral é hoje identificada
como um meio arcaico de ensino. Os recursos audiovisuais são
já encarados como uma solução de recurso, quando são
comparados com os miraculosos prodígios atribuídos ao ensino
pela Internet.
Desde pelo menos o século XVI que a questão dos meios de
ensino, provoca crescentes e apaixonadas discussões. O peso
crescente das tecnologias na sociedade não explica tudo. O que
está em jogo é de outra natureza, trata-se de descobrir o meio
de ensino que permita:
- Incrementar a qualidade do ensino que
é oferecida aos alunos;
- Reduzir os custos do ensino que é
prestado;
- Facilitar o acesso à educação da
maioria dos indivíduos;
- Promover o desenvolvimento de novos
elementos currículares.
Os meios utilizados na educação, ao longos dos tempos, tem
suscitado posições muito contraditórias. Juana M.Sancho Gil,
partindo da relação dos educadores e dos pedagogos face às
tecnologias caracterizou estas posições em termos de tecnofília
e tecnofobia.
Os tecnofílicos sempre que surge uma nova tecnologia (artefacto,
sistema simbólico ou organizativo), descobrem logo uma nova solução
para os problemas do ensino ou mesmo da humanidade. Os tecnofobos,
pelo contrário, descobrem um novo meio de alienação. Qualquer
tecnologia que não seja a que se habituaram a usar desde
pequenos, e que não faça já parte integrante das suas vidas,
representa um perigo para os valores que compartilham na
sociedade.
Ao longo da história da educação podemos encontrar inúmeras
posições tecnofilicas e tecnofobas, face às mesmas tecnologias.
Platão, no Fedro, desfazendo o pretenso carácter
neutral das tecnologias, sustenta que o uso da escrita
conduziu os homens a desvalorizarem o exercício da memória,
passando a confiarem em algo que lhes é exterior, a escrita.
Aquilo que para Platão era um mal, foi encarado por outros como
a libertação das limitações da memória dos indivíduos,
permitindo enormes avanços na acumulação e expansão do
conhecimento.
A invenção da imprensa (1453), foi vista por
muitos educadores como uma ameaça, na medida que ao
embaretecer o preço dos livros, facilitava o acesso ao saber.
Ora, se o aluno podia ler nos livros o que era ensinado pelos
educadores, mais dia menos dia, estes seriam dispensados. Nem
todos pensavam da mesma maneira. Muitos viram na difusão dos
livros a libertação dos educadores das tarefas mais penosas
e rotineiras de transmissão dos saberes. A partir de 1820, um
grande número de teóricos da educação descobriram na própria
produção massiva de livros a baixo custo e de ampla distribuição,
um poderoso meio de incrementar o progresso da humanidade.
O aparecimento do cinema e depois da rádio,
despertou igualmente paixões contraditórias. Para alguns não
passavam de novos meios de diversão e alienação, cuja única
finalidade era o embrutecimento de largas massas da população.
Os tecnofílicos, como sempre, deliraram com estas inovações.
Thomas Edison, em 1922, afirmava que o cinema estava destinado a
revolucionar o sistema educativo, e em poucos anos iria
substituir os livros. Dez anos depois, Darrow, apregoava que a
educação pela rádio iria, universalizar o acesso aos melhores
professores.
A expansão da televisão, iniciada após a IIª.
Guerra Mundial, desencadeou igualmente posições contraditórias
. Polémica aliás que persiste com grande vivacidade.
A difusão dos computadores pessoais e dos CD-ROM,
na década de oitenta, e depois da Internet nos
anos noventa, foi acompanhada pela produção duma profusa
literatura a favor ou contra o seu emprego no ensino.
Os tecnofílicos, tem insistido na ideia que estas tecnologias
permitiram pela primeira vez, numa escala anteriormente impensável,
personalizar o ensino, contemplar diferentes ritmos de
aprendizagem, potenciar o desenvolvimento das capacidades de auto-expressão
do alunos, para além de lhes alargar os horizontes de informação
a uma escala planetária. Tudo isto num ambiente que pode ser
muito divertido.
Os tecnofobos, denunciam por seu lado, o carácter repetitivo
e superficial deste tipo de ensino, onde frequentemente apenas se
valoriza a diversão em detrimento da reflexão. Ao
individualizar a pesquisa e o processamento da informação, está
igualmente a contribuir para isolar os indivíduos. O resultado não
foi a criação de uma sociedade de informação, mas uma
sociedade de multidões solitárias sequiosas de conhecimento.
Não é fácil decidir quem tem razão. Uma coisa não nos
podemos esquecer: o ambiente tecnológico em que se
processa hoje o ensino, não tem paralelo com o passado. As
tecnologias de informação e comunicação deixaram de ser do
domínio da ficção científica, para se tornarem no suporte da
maioria das actividades sociais e económicas. É-nos impossivel
imaginar a complexidade actual das nossas sociedades sem o
recurso sistemático a estas tecnologias. Razão que só por si
justifica uma reflexão sobre o assunto de todos os
intervenientes no sistema de ensino. A escola não pode alhear-se
da sociedade em que está inserida, sob pena de não cumprir a
sua missão.
A nossa questão inicial mantém-se em aberto: - Qual é o
melhor meio de ensino?
As pesquisas mundiais neste domínio, como refere Carlos
Castano, são quase unânimes em reconhecer que não existe um
meio de ensino mais eficaz do qualquer outro. A maioria dos
objectivos educativos pode ser conseguida através da instrução
ministrada por qualquer meio, ou por uma variedade de meios.
Apenas quando se introduz uma nova tecnologia no ensino, é possível
registar uma melhoria no rendimento dos alunos, mas que raramente
ultrapassa os 15%. Passada esta fase inicial, o rendimento
obtido volta a assemelhar-se ao conseguido com outros meios.
Constata-se também que não existe uma relação privilegiada
entre os meios de ensino e os diferentes tipos de tarefas de
aprendizagem. A maioria dos meios pode ser utilizada de uma
maneira eficaz para apresentar a informação dos mais distintos
tipos de aprendizagem.
Estas constatações, embora não corroborem as teses dos
tecnofilicos, também não sustentam a posição de princípio
dos tecnofobos. O que elas revelam é que a relação pedagógica
não pode ser encarada como mera uma relação mecânica entre
professor e o aluno. Ela é uma criação que ambos constroem, e
cujo resultado final depende muitíssimo mais do seu empenho e
cooperação, do que das técnicas ou tecnologias empregues.