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Tesouros em Pergaminho

A coleção de manuscritos iluminados ocidentais de Calouste Sarkis Gulbenkian
     

Ciclo de Seminários de 18 de Janeiro de 2018 a 11 de Abril de 2019

17h00 - Fundação Calouste Gulbenkian

Este ciclo de seminários, que decidimos intitular «Tesouros em Pergaminho – A coleção de manuscritos iluminados ocidentais de Calouste Sarkis Gulbenkian», é resultado de uma parceria entre o Museu Calouste Gulbenkian e o Instituto de Estudos Medievais, e pretende dar a conhecer a excelência dos códices e fragmentos reunidos pelo colecionador. Embora estejam desde sempre acessíveis aos investigadores e já tenham sido estudados por especialistas, e muitos deles divulgados em circuitos internacionais e exibidos no contexto da exposição A Imagem do Tempo. Livros Manuscritos Ocidentais(2000), os exemplares desta coleção merecem uma maior divulgação junto da comunidade científica nacional e do público em geral. Com este propósito, um grupo de investigadores especializados nesta área elegeu um conjunto significativo de manuscritos, cujos textos e imagens marcaram a Idade Média europeia. Em termos temáticos, as sessões compreendem um grupo abrangente de obras, com textos de referência no domínio da exegese bíblica, da espiritualidade, da filosofia, do direito, da liturgia e literatura profana, acrescentando-se, ainda, uma sessão sobre a problemática da conservação e do restauro a que muitos deles foram sujeitos.

Trata-se de um ciclo de seminários aberto e dirigido ao público em geral, mas reveste-se de particular interesse para docentes, investigadores e estudantes na área de História da Arte Medieval.

Coordenação: Luís Correia de Sousa, Maria Adelaide Miranda

Este projeto resulta de uma colaboração entre o Museu Calouste Gulbenkian e o Instituto de Estudos Medievais, unidade de investigação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Apresentação geral da Coleção

"A Coleção de Manuscritos Ocidentais de Calouste S. Gulbenkian . Entre a espiritualidade cristã e o Ideário humanista"
Quinta-feira, 18 janeiro, 17:00
Coleção do Fundador – Sala do Setor Educativo
Duração: 60 min

A coleção de livros iluminados europeus reunida por Calouste S. Gulbenkian é constituída por vinte e quatro livros manuscritos, um incunábulo e onze fólios soltos, produzidos entre o século XII e o século XVI nos principais centros europeus, com particular destaque para a França. Trata-se de um conjunto diversificado, que integra textos bíblicos, litúrgicos e devocionais, em que se destacam os livros de horas, mas também livros literários e jurídicos provenientes de grandes coleções, adquiridos entre 1919 e 1937, sobretudo em Londres e em Paris, confirmando o gosto do colecionador por «manuscritos do maior valor artístico».

Orador: João Carvalho Dias

João Carvalho Dias (na foto), perante uma numerosa assistência, entre a qual se contavam os principais investigadores dos manuscritos iluminados em Portugal, começou por revelar alguns factos pouco conhecidos de Calouste S. Gulbenkian colecionador de manuscritos iluminados ocidentais. Entre os critérios que orientavam as suas escolhas, destacou o da excepcional qualidade das obras, a sua "ilustração", a importância dos seus anteriores proprietários, mas também os centros artísticos onde haviam sido produzidos, optando sempre pelos de maior relevância, como a Inglaterra, Holanda, Flandres, França e Itália.

A pequena, mas excepcional colecção, se foi "constituida com base nas oportunidades que o mercado proporcionava e que os largos recursos económicos do seu proprietário permitiam", também se ficou a dever ao conselho avisado dos seus consultores, nomeadamente em Londres e em Paris.

Gulbenkian considerava os seus manuscritos iluminados como verdadeiras joias, preciosidades e como tais os exponha na sua casa em Paris.

"Gulbenkian teve uma estreia auspiciosa, quando vieram à praça, em Londres, entre 1919 e 1921, importantes lotes provenientes de uma das mais prestigiadas coleções inglesas - a de Henry Yates Thompson (Petrarca, Boécio, Apocalipse, Des Clères et noble fammes, livro de Horas de René da Lorena, Livro de Haarlem, Breviário do Duque Hércules de Ferrara, Livro de Horas da família Ayala). Este conjunto seria só por si digno de uma biblioteca de prestígio. A partir de então, registam-se compras anuais até praticamente 1929, ritmo que é retomado em 1935. Embora não se registem aquisições de manuscritos ocidentais a partir de 1937, o interesse do colecionador manteve-se vivo, permanecendo atento às oportunidades, recebendo propostas de aquisição e continuando a examinar cuidadosamente os catálogos, tanto de coleções como de vendas, onde deixou importantes anotações, que permitem confirmar o seu fascínio pela arte do livro", in, Folha de Sala da autoria de João Carvalho Dias. Folha de Sala

João Carvalho Dias - Iniciou a sua formação em História de Arte no Birkbeck College, University of London. É licenciado em História de Arte, FCSH, com pós-graduação em História da Arte Contemporânea, FSCH-UNL. Investigador ARTIS- Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na área do colecionismo (doutoramento). Conservador responsável pelos núcleos de livros e documentos gráficos ocidentais da Coleção Calouste Gulbenkian e Coodenador de Curadoria do Museu Calouste Gulbenkian. É responsável por várias comunicações e artigos dedicados a Calouste Gulbenkian e o seu colecionismo; foi curador de exposições versando este tema e editor de catálogos da Coleção Calouste Gulbenkian e das suas exposições, encontrando-se neste momento em preparação o volume dedicado à Coleção de Manuscritos Ocidentais.

Moralia in Job
Quinta-feira, 15 fevereiro, 17:00
Coleção do Fundador – Sala do Setor Educativo
Duração: 60 min

Os Moralia in Job de Gregório Magno foram dos comentários bíblicos mais copiados na Idade Média. Trata-se de uma obra exegética sobre o Livro de Job, oferecida a Leandro de Sevilha em 583. Os fragmentos M79A e M79B, conservados no Museu Calouste Gulbenkian, integravam um notável manuscrito iluminado da segunda metade do século XII, que teria sido produzido entre o nordeste de França e a Flandres. Neste seminário, pretendemos destacar a importância do texto, do programa iconográfico e da qualidade artística da iluminura, relacionando-os com outros manuscritos contemporâneos. Folha de Sala

Oradores: Adelaide Miranda, Luís Correia de Sousa

 

Apocalipse
Quinta-feira, 15 março, 17:00
Coleção do Fundador – Sala do Setor Educativo
Duração: 60 min

Na Inglaterra dos séculos XIII e XIV multiplicou-se a produção de apocalipses iluminados. Trata-se de um tipo de códice acompanhado de grandes ciclos de ilustrações, que supôs um salto qualitativo indubitável no que concerne às possibilidades estilísticas e iconográficas da imagética apocalíptica medieval. Hoje em dia, estes manuscritos encontram-se espalhados por bibliotecas e coleções de todos os cantos do mundo. Um deles, conhecido como «Apocalipse Gulbenkian», faz parte da coleção de manuscritos iluminados ocidentais de Calouste Sarkis Gulbenkian e será analisado nesta sessão. Folha de Sala

Oradora: Alicia Miguélez

Fólio, 66 v.

O Apocalipse da Gulbenkian (LA 139) foi copiado e iluminado por volta de 1265. Terá pertencido ao papa Clemente IX (1667-69). Estava na posse de César Battaglini de Rimini na segunda metade do século XIX. Foi adquirido por Henry Yates em 1899, que o vendeu em 1920 a Calouste Gulbenkian.

Alice Miguélez (na foto) começou por enquandrar a temática do "apocalipse" no cristianismo. Mostrou como os comentários que desde os século IV foram feitos ao Apocalipse, não podem ser desligados do contexto histórico em que ocorreu a sua produção. Centrando-se sobre o Apocalipse da Gulbenkian, fez um percurso histórico sobre os seus anteriores proprietários. Contextualizou a sua produção em Inglaterra, no século XIII, tendo-o inserido num conjunto de comentários ao Apocalipse da mesma época. Salientou a influência da iluminura francesa, mas não descartou tradições locais. De uma forma muito estruturada mostrou a sua organização codicológica, relação texto-imagem, terminando com uma abordagem a alguns aspectos relevantes da sua iconografia. No debate que se seguiu foram abordados aspectos problemáticos que este manuscrito iluminando suscita, nomeadamente a sua autoria, e a cor laranja que se destaca em muitas iluminuras.

Bíblia, LA 211

19 de Abril de 2018

Orador: Luís Correia de Sousa

Não será exagero afirmar que nenhum livro teve tanto impacto na vida intelectual do Ocidente medieval como a Bíblia, tendo-se tornado, no século XIII, num verdadeiro best-seller. Novas comunidades de leitores, o patrocínio da aristocracia, novos recursos para a interpretação dos textos, são o fundamento para uma produção que se intensificou, abrindo caminho para importantes progressos na produção artística. O manuscrito LA 211, de inícios do século XIV, cujas iluminuras são atribuídas ao Maître de la Bible de Jean de Papeleu, é um exemplar de grande qualidade estética e testemunha-nos uma linha de evolução da arte da iluminura neste período. Folha de Sala

Luis de Sousa na Fundação Calouste Guklbenkian, Lisboa

Luis Correia de Sousa (na foto) iniciou a sua conferência com um enquadramento histórico sobre a bíblia, chamando à atenção para que até ao século XII, o acesso aos seus textos era feito essencialmente através de comentários. Raramente os mosteiros possuiam uma bíblia "completa". Nos séculos XII-XIII assistiu-se à criação das escolas catedralícias, universidades, surgiram novas ordens religiosas (Cister, Dominicanos, Franciscanos), mas também ocorreu o crescimento das cidades e da vida de corte. Um vasto conjunto de factores que provocaram uma revolução no acesso à Bíblia, na sua produção e organização. As grandes bíblias românicas deram lugar a biblias de pequenas dimensões, portáteis. As iluminuras que acompanham os textos bíblicos, começam a povoarem-se de cenas profanas, num discurso paralelo que não tardou a invadir as margens. Feito o enquadramento do manuscrito LA 211 da FCG, de forma metódica e esclarecedora Luis de Sousa explicou a sua estrutura, a sequência das iluminuras, mostrou imagens que reveladoras da emergência de uma nova mentalidade. Não deixou também de abordar problemas relacionados com a origem e circulação do manuscrito, autoria das iluminuras e suas influências, assim como questões do seu estado de conservação.

 

Livro de Horas de Holford, LA 210

17 de Maio de 2018

Oradora: Delmira Espada

As Horas de Holford, iluminadas na primeira metade do século XVI (1526), foram executadas na Flandres por Gerard Horenbout e Simão Bening. Inserem-se num conjunto de obras de grande aparato, caracterizadas pela colaboração entre artistas de igual mérito e pela crescente afirmação do desenvolvimento pictórico dos calendários e das margens. Nesta sessão pretendemos dar a conhecer o seu programa iconográfico, confrontando-o com os temas presentes noutros manuscritos coevos, as singularidades do texto e das composições introdutórias das principais secções que compõem o Livro de Horas. Folha de Sala

Delmira Espada, num tom de voz que reflecte uma atenta observação e profunda reflexão sobre o objecto da sua conferência, começou por explicar o modo como estruturou a apresentação, sublinhando que o trabalho de investigação não é fruto de uma única pessoa mas da boa vontade e da generosidade de muitas outras. Agradeceu a colaboração dos investigadores que a apoiaram, nomeadamente o Horácio Peixeiro e o João Carvalho Dias.

Fez de seguida uma breve explicação sobre o que é o Livro de Horas e um apontamento ligeiro sobre os aspectos materiais do códice e o modo como a iluminura também ajuda a hierarquizar a sua estrutura.

Percorreu em slides o manuscrito por duas vezes. Numa primeira volta centrou-se nos textos, isto é, nas secções que compõem o Livro de Horas e foi realçando as suas particularidades e significados.

Na segunda passagem pelo manuscrito, mais incisiva, centrou-se no programa iconográfico, comparando-o com exemplares análogos da iluminura flamenga do século XVI, com o objectivo de mostrar o Livro mas também o lugar e importância que este ocupa no contexto da época em que foi produzido e, na evolução da iluminura na passagem do século XV para o XVI.

À semelhança do que fizera com os textos, realçou as singularidades da iluminura que lhe ajudou a contar parte da história das Horas de Holford. Apresentou, em suma, tudo aquilo que o livro fez o favor de nos contar, com as perguntas que Delmira Espada, com argúcia, lhe soube colocar. 

Ao concluir a sua brilhante conferência apresentou um conjunto de hipóteses de estudo do LIvro de Horas que em breve iremos publicar.

 

Livro de Horas de Isabel da Bretanha, LA 237

21 de Junho de 2018

Oradora: Ragnhild M. Bo

O Livro de Horas LA 237 foi iluminado pelo chamado Mestre de Bedford para a Princesa Joana de França, por volta de 1415. O Livro contém 32 miniaturas de página inteira, cada uma delas rodeada por pequenos registos com episódios alusivos ao tema central, com excepção de duas. Estas duas são inspiradas nas imagens da compilação de Gautier de Coincy dos milagres marianos e é possível que aludam a dois incidentes históricos relacionados com os pais de Joana, Carlos VI e Isabel de Baviera. O Livro constitui-se, assim, como um manuscrito onde a política e a piedade convergem.

João Carvalho Dias na apresentação do curriculo de Ragnhild M. Bo (na foto), aproveitou a ocasião para lhe lançar o desafio de abordar a questão política neste livro de horas. A conferencista, em português, aceitou o repto. Começou por salientar alguns aspectos codicológicos, tais como as dimensões deste livro de horas, 273 x 201 mm, para referir depois o que sabemos dos seus possuidores, mas também do iluminador. Mostrou algumas singularidades das representações deste belo manuscrito na obra do Mestre de Bedford.

Centrou-se então na sua interpretação politica, destacando a importância das margens, onde os iluminadores tinham maior liberdade, veiculando com frequência conteúdos históricos, profanos. Nas margens deste manuscrito duas cenas são de particular significado: a da "imperatriz de Roma" (fólio 185v) e a do "menino judeu de Bourges" (fólio 202 v). Ragnhild M. Bo associou-as a epísódios da vida da Rainha da Baviera e de Carlos VI de França, pais da princesa Joana de França para a qual o livro de horas terá sido produzido. Folha de Sala

Ragnhild M. B, norueguesa, iniciou os seus estudos sobre iluminura em Portugal sob a orientação da profª. Adelaide Miranda da FCSH da UNL, com a preparação de uma tese de doutoramento sobre o Livro de Horas de Lamoignon da FCG. Devido a circunstâncias várias, a tese foi defendida em Oslo. Entre os trabalhos publicados em Portugal, destaca-se em 2015: " The Iconography of the Lamoignon Hours, a Parisian Manuscript Illuminated by the Bedford Master, ca 1415, In Delmira Espada Custódio & Adelaide Miranda (ed.), Livros de Horas. O imaginário da devoção privada: manuscritos.  Editora Babel.  ISBN 978-972-565-561-0. pags. 279 - 292.

Livro de Horas, LA 147

11 de Julho de 2018

Oradoras: Ana Lemos e Conceição Casanova

Livro de Horas da 2ª metade do século XV, atribuído ao Mestre François, o LA 147 terá pertencido a René II de Lorraine, representado ajoelhado diante da Virgem e do Menino na iluminura que abre a oração Obsecro te. Pretendemos, com a nossa comunicação, prestar uma homenagem ao Professor François Avril apresentando os resultados do estudo que levou a cabo e que desvendou alguns dos mistérios que este manuscrito encerrava. Folha de Sala

Gradual de Admont LA 222

20 de Setembro

Orador: Horácio Peixeiro

O LA 222, conhecido por Gradual de Admont, é um códice complexo, executado para o mosteiro beneditino austríaco donde lhe vem o nome, cerca do terceiro quartel do séc. XIII, provavelmente por seguidor do mestre paduano Giovanni Gaibana. A primeira parte contém o gradual, seguindo-se o sacramentário que abre com o Cânon da missa. Esta obra, com muitos motivos de interesse, nomeadamente a notação musical do gradual, reveste-se dum extraordinário esplendor pela abundância e riqueza ornamental e iconográfica e pelo apuro técnico reflexo da escola veneziano-paduana. É especialmente significativo o conjunto de iluminuras a abrir o sacramentário que nos remetem para a tradição mais antiga de ornamentação do Cânon sobre que especialmente nos debruçaremos. Folha de Sala

Horácio Peixeiro e João Carvalho Dias momentos antes do início da conferência.

Breviário do Duque Hércules de Ferrara, LA150

18 de Outubro de 2018

Oradora: Paula Cardoso e Catarina Tibúrcio

Hércules I d’Este, duque de Ferrara e Módena entre 1471 e 1505, contribuiu decisivamente para a prosperidade de Ferrara. O patrocínio das artes, atividade que desenvolveu grandemente, constituía peça fundamental na sua estratégia de afirmação política e de reforço da identidade cultural.

Um dos luxuosos manuscritos que encomendou, concluído cerca de 1492, foi o Breviário do Duque Hércules I de Ferrara, que foi adquirido por Calouste Gulbenkian em 1920, fazendo atualmente parte do espólio da Coleção do Fundador. Nesta apresentação iremos debater questões relacionadas com o local e data de origem do códice, o estilo da iluminura, influências artísticas, testemunhos da tendência renascentista e da permanência de modelos medievais. Folha de Sala

Des Clères et Nobles Femmes LA 143

15 de Novembro de 2018

Oradora: Etelvina Fernández González


No contexto da Europa atual, em que a mulher ocupa, cada vez mais, um papel preponderante em diversos campos – como a ciência, a arte, as atividades literárias e políticas –, tendo vindo a alcançar uma progressiva independência a todos os níveis, o exemplo de Cristina de Pisano antecipa, em vários séculos, esta situação. Nesse sentido, será proveitoso analisar o passado para melhor compreender o presente. A sua figura é, sem dúvida, um exemplo extraordinariamente relevante do papel que a mulher assumiu e assume atualmente na sociedade.

Cristina de Pisano nasceu em Veneza, em 1364, e morreu em Poissy, nos arredores de Paris, em 1430. Cresceu no seio de uma família culta e foi educada no ambiente intelectual e refinado da corte dos Valois. Aprendeu italiano e francês e conhecia o latim. Dedicou-se à vida intelectual, à escrita, tendo sido a primeira mulher que, em França, viveu desta atividade. Foram precisamente os seus escritos que a tornaram célebre.

Redigiu A Cidade das Damas entre dezembro de 1404 e abril do ano seguinte. Trata-se de uma «história de mulheres» complexa, destinada à defesa do género feminino, sendo a obra mais conhecida da escritora, talvez pelo seu conteúdo e pela época em que viu a luz do dia. Da sua análise, fica claro que a obra pode ser entendida como um argumento a favor das mulheres e contra a misoginia que prevalecia nos ambientes intelectuais do final da Idade Média. É ainda essencial ter em conta que esta obra recebeu influências de fontes antigas e de escritos contemporâneos, transmitindo, tanto no texto escrito como nas iluminuras dos seus manuscritos, uma imagem da sua criadora como uma mulher culta e inteligente que deu grande valor ao mundo das artes. Folha de Sala

João Carvalho Dias faz uma breve apresentação do extenso curriculum de Etelvina Fernández González

Sonetos e Triunfos de Petrarca, LA129

13 de Dezembro de 2018 . Oradores: Rosário Paixão e Luís Correia de Sousa

Nos séculos XII e XIII, com a poesia trovadoresca e o modelo cortês de origem provençal, desenvolve-se em França um imaginário de contornos sentimentais e intimistas, em torno da temática do Amor, que terá continuidade em outros contextos europeus, concretamente em Itália. A obra poética de Petrarca (1304-1374), rececionando de forma inovadora um imaginário clássico e medieval marcado pelo lirismo sentimental, viria a ter grande influência em gerações posteriores. É disso testemunho o Canzoniere e Triumphi, manuscrito LA129 conservado no Museu Calouste Gulbenkian, um livro iluminado produzido em Florença no século XVI. Neste seminário pretendemos destacar a relevância literária desta obra, bem como as iluminuras que neste códice a acompanham, como testemunhos de uma época em que texto e imagem estavam ligados a temáticas e também imagens alegóricas interpretativas de uma visão do mundo que aqui observaremosFolha de Sala

Fol. 11r: Apolo e Dafne. «Sonetos e Triunfos de Petrarca». Coleção do Fundador, Inv. LA129

Rosário Paixão durante a sua brilhante conferência sobre a vida e a obra de Petrarca. A intervenção de Luis Correia de Sousa centrou-se sobre os aspectos codicológicos, iluminura e iconografia deste códice.

Carlos Moura recitando três poemas (em italiano) de Petrarca

Digeste, LA 212, e dois fragmentos do Decreto de Graciano

17 de Janeiro de 2019. Oradora: Alessandra Bilotta

O Museu Calouste Gulbenkian guarda dois fragmentos iluminados e um códice medieval de Ius commune (Direito comum). O Direito comum – composto pelo Corpus Iuris Civilis (Corpo de Direito Civil), pelo Corpus Iuris Canonici (Corpo de Direito Canónico) e respetiva literatura jurídica – constitui uma das mais importantes fontes de Direito vigentes em Portugal, desde a Idade Média até à Lei da Boa Razão de 1769.

1. De acordo com a sistematização medieval o Corpus Iuris Civilis– compilação de Direito romano mandada elaborar pelo Imperador Justiniano, no século VI – estava dividido em cinco partes: o Digesto velho, o Digesto novo, o Digesto esforçado, o Código e o Volume Pequeno. O ms LA212 é um Digesto velho, que teria sido copiado e iluminado no sul da França, no curso do século XIV.

2. O Corpus Iuris Canoniciestava sistematizado em seis partes: Decreto de Graciano, Decretais de Gregório IX, Livro Sexto, Clementinas, Extravagantes de João XXII e Extravagantes Comuns. Os fragmentos M36A e M36B faziam parte de um Decreto de Graciano, a mais importante fonte de Direito canónico medieval, que foi composto por Graciano na primeira metade do século XII. As suas iluminuras são atribuídas ao ateliê do Maître du Missel de Augier de Cogeux (ou Cogenx), realizadas durante a primeira metade do século XIV, provavelmente em Toulouse.

Neste seminário pretendemos destacar o aparato decorativo e ilustrativo destes fragmentos jurídicos, relacionando-os com outros manuscritos seus contemporâneos, e explicar a importância prática que esses monumentos de Direito atingiram durante o período da Idade Média portuguesa. Folha de Sala


Missal Acciaiolli, LA236

21 de Fevereiro de 2019. Orador: Manuel Pedro Ferreira

Fol. 159v: Calvário; nas margens, cenas da Paixão de Cristo. Museu Calouste Gulbenkian - Coleção do Fundador. Inv LA 236

O manuscrito LA236 do Museu Calouste Gulbenkian, também conhecido como «Missal Acciaiuoli», é um códice complexo, abrangendo as leituras e orações próprias para a Missa ao longo do ano litúrgico. Foi encomendado por um membro da poderosa família florentina dos Acciaiuoli, cerca do primeiro quartel do século XVI, para o mosteiro cartuxo del Galluzo de Florença, fundado pela família, que manteve ligações ao mosteiro ao longo de gerações. A obra encontra-se profusamente iluminada, ao estilo da escola florentina, revelando uma notável riqueza ornamental e iconográfica, que será analisada nesta sessão. Folha de Sala

De Consolatione Philosophiae, LA 136

21 de Março de 2019. Orador: José Meirinhos

Fol. 31v: A Roda da Fortuna. «De Consolatione Philosophiae». Museu Calouste Gulbenkian - Coleção do Fundador, Inv. LA 136

Principalmente através da Consolatio Philosophiae, lida em latim ou nas numerosas traduções realizadas a partir do século X, Boécio (c. 480-c. 524) exerceu uma impressiva influência cultural, espiritual e filosófica ao logo de toda a Idade Média. O manuscrito LA136 do Museu Calouste Gulbenkian testemunha essa influência, a vários níveis. O texto em tradução francesa é introduzido por cinco iluminuras em moldura filigranada, de escola flamenga, que abrem e interpretam passos de cada um dos livros. Os elementos materiais, iconográficos e textuais deste códice, que aqui serão analisados, permitem compreender o lugar de destaque que a Consolação da Filosofia ocupava entre as leituras de corte nos séculos XIV e XV. As glosas marginais inseridas em pontos precisos do texto têm uma particular relevância para entendermos a influência doutrinal da obra e os modelos clássicos de virtude, de felicidade e de realização humana que transmite. Folha de Sala

Sessão sobre o restauro dos manuscritos

Esqueletos no armário?

A conservação e restauro de manuscritos na encruzilhada do século XXI

11 de Abril de 2019 . Oradores: Maria João Melo com Maria Adelaide Miranda, Luís Correia de Sousa, Graça Videira Lopes, Paula Nabais e Rita Araújo.

A última sessão deste ciclo de seminários centra-se na preservação e no restauro da iluminura medieval, tendo como base as investigações coordenadas por Maria João Melo e Adelaide Miranda e, mais recentemente, Graça Videira Lopes.

Património histórico, artístico e literário de valor inigualável, o manuscrito iluminado é uma das mais originais expressões artísticas e culturais da Idade Média ocidental. A investigação levada a cabo tem mostrado que as obras enfrentam grandes desafios no que diz respeito à preservação. Se por um lado temos as cores originais, por outro os fenómenos de degradação requerem que se tomem medidas para que a iluminura medieval não desapareça. Será fundamental que as decisões tomadas resultem de uma reflexão aprofundada e de caráter interdisciplinar. Para tal, será necessário colocar, à partida, algumas questões: É imperioso restaurar as iluminuras? Como estabilizar as camadas pictóricas e as tintas de escrita? Qual o impacto dos tratamentos que propomos na nossa perceção das cores e na sua preservação futura?

Esta sessão parte dos exemplos do Pergaminho Sharrer – cuja intervenção de restauro se tornou polémica – e de alguns dos manuscritos iluminados da coleção de Calouste Sarkis Gulbenkian (Bíblia, LA211; Livro de Horas de Lamoignon, LA237 e Missal Acciaiuoli, LA236). Folha de Sala

 

 

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