Estamos perante mais uma notável exposição sobre iluminura em Portugal, onde s
mostra um precioso conjunto de manuscritos bíblicos iluminados dos acervos
da BNP, da Biblioteca Pública de Évora e da Biblioteca da Ajuda.
A exposição está organizada em dois núcleos fundamentais: as bíblias românicas e
as góticas, permitido evidenciar as profundas transformações sociais e culturais
que lhes estão subjacentes.
Bíblias Românicas
São expostos exemplares das grandes Bíblias do Românico, com particular destaque
para as monumentais bíblias da Abadia de Santa Maria de Alcobaça, em vários
volumes.
Luis Correia de Sousa, na visita guiada que fez à exposição,
começou por salientar a figura incontornável de São Jerónimo (c.342-420), como
tradutor e organizador de uma versão única dos textos bíblicos, mais tarde
conhecida por Vulgata. Mostrou alguns aspectos das grandes bíblias
românicas (fins do séc.XI-séc.XII), nomeadamente a riqueza da paleta de cores,
as inicias de forte impacto visual, a profusão de seres que as povoam.
Tratam-se de bíblias produzidas em ambientes monásticos, destinadas à formação
dos monges e para as necessidades litúrgicas. As bíblias românicas estavam distribuídas
por vários volumes. O Saltério eram frequentemente copiado num volume separado.
Bíblias Góticas
Neste núcleo são expostas as chamadas Bíblias portáteis do século XIII, mostrando as
diferenças entre os seus distintos centros de produção.
Assumem primazia os manuscritos de produção francesa, sobretudo dos
ateliers de Paris, mas podemos observar também códices de origem inglesa, catalã
ou italiana, e dois manuscritos que terão sido copiados no scriptorium de
Alcobaça.
Destaca-se ainda a «Bíblia de bolso» que terá pertencido à rainha D. Mafalda (ca
1195/1196-1256), filha de D. Sancho I, um códice que poderá ser a primeira
tradução da Bíblia para francês e, ainda, um manuscrito produzido nos ateliers
de Bolonha em finais de 1200.
A exposição coloca em destaque a relevância da produção e circulação da Bíblia,
não apenas como livro sagrado mas também como objeto de cultura associado à
nossa matriz civilizacional.
Luis Correia de Sousa, sobre este núcleo, referiu que no século XIII ocorreu uma verdadeira revolução na produção dos
manuscritos bíblicos, a qual saiu da exclusiva esfera monástica para serem
também produzidos em ateliers laicos e oficinas de livreiros.
Esta mudança
deveu-se ao aumento de leitores, estimulada pelo desenvolvimento das grandes
universidades europeias, como Paris, Oxford e Bolonha, mas também pelo
aparecimento de novas ordens religiosas, como os mendicantes.
As bíblias, como referiu, passaram então a serem num único
volume, de reduzidas dimensões para poder ser facilmente transportado e lidas em
privada. Esta alteração obrigou a obterem pergaminhos mais finos, letras de
reduzidas dimensões, mas também a definirem a sequência dos livros bíblicos, a
sua divisão em capítulos, a padronizarem o local e a sequências das iluminuras,
etc.
Ilda David
Em paralelo com estes códices medievais são expostas um grupo significativo de obras da
pintora Ilda David, produzidas, precisamente, para uma recente edição da Bíblia.
Desta forma o visitante tem a oportunidade de estabelecer um diálogo entre a
arte medieval e a criação contemporânea, numa renovada reflexão em torno
das relações texto/imagem.
Ponto de Encontro
A exposição constituiu também um ponto de encontro dos vários investigadores que
se debruçam, em várias perspectivas, sobre a iluminura de manuscritos medievais.
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