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Ordem de Cluny
Desde muito cedos os cristãos criaram várias formas de
vivência em comum com regras próprias.
Dada a multiplicidade destas vivências e regras de vida em
comunidade, Bento de Núrcia (c.480-547), elaborou uma regra onde a vida
dos monges, entre a oração e o trabalho eram minuciosamente
regulamentada. Esta regra serviu de inspiração a muitas outras, tendo sido
adoptada por alguns mosteiros, nomeadamente pela comunidade dos monges de Monte
Cassino.
Durante o período carolíngio (séculos VIII-IX)
a regra beneditina, devido à sua visão centralista e controladora conheceu uma
fase de expansão na Europa central.
A grande expansão da regra de São Bento ocorreu quando em
910, o abade Bernon de Baume (c.850-927) cria a Abadia de Cluny na
Borgonha, em terras doadas por Guilherme I da Aquitânia. Cluny adopta de
forma exclusiva a regra, reformada por Benoît d'Aniane
(c.750-821), e é colocada sob a autoridade
imediata do Papa Sergio III. O abade de cada mosteiro era eleito livremente pelos monges.
Planta da Abadia de Cluny. As construções de
Cluny influenciaram as práticas arquitetónicas na Europa ocidental desde o
século X ao XII
(estilo românico).
Novidades
Introduzidas por Cluny
1. A vida dos monges é minuciosamente determinada da
primeira à ultima hora. Na liturgia nada é deixado ao improviso. O
excesso de rituais não tardou a reduzir o tempo dedicado ao trabalho manual.
2. Obediência direta ao papa das
abadias de Cluny, libertava-as das interferências dos senhores locais,
fomentando um espíritos "transnacional", facilitado pelo cultivo do
latim.
3. As abadias de Cluny estavam submetidas à
abadia-mãe, a qual através de visitações inspecionava o cumprimento
da Regra. As relações
hierárquicas dominam dominam
todo o sistema.
4. As abadias da ordem tinham que
pagar uma "renda" à casa-mãe, o que contribuiu para
transformar esta ordem religiosa
numa poderosa organização europeia.
Os edifícios dos mosteiros de Cluny tornam-se cada vez
mais sumptuosos reflectindo o poder crescente da Ordem.
5. Para controlar e uniformizar os
procedimentos em todas as abadias, as funções administrativas adquirem
uma crescente autonomia na Ordem. A casa-mãe tinha que ter uma
biblioteca com os livros necessários à liturgia e cultura dos monges de
acordo com as orientações da Ordem. Era fundamental ter igualmente um
scriptorium capaz de copiar obras e documentos necessários ao seu
funcionamento. Estas
inovações embrionárias em Cluny, foram plenamente concretizadas na Ordem
de Cister. |
Este movimento monacal, que pretendia alcançar uma maior
unificação religiosa monástica, mas também eclesiástica, espalha-se pelo Reino da França
(Borgonha, Provença, Auvergne e Poitou), seguindo-se o Reino de Inglaterra e o
norte do atual Itália.
A Ordem de Cluny que se constitui com base neste
movimento rapidamente adquiriu um enorme poder em vários reinos e em particular
junto dos papas, os quais procuraram expandi-la por toda a Europa.
Os reinos da Península Ibérica acompanham à distância
este movimento. A regra de São Bento era conhecida, mas não era seguida de forma
exclusiva. O que predominavam era as regras mistas, com preceitos muito
sincréticos, marcados por tradições locais.
A introdução da Regra de São Bento nos reinos peninsulares,
incluindo o Condado Portucalense (Portugal) ocorreu apenas no
século XI, para o qual muito contribuiu o Caminho (francês) de Santiago de
Compostela.
Nos Reinos de Aragão, Navarra e Pamplona, sobretudo nas
terras situadas no Caminho de Santiago, surgiram os primeiros mosteiros
beneditinos, muitas vezes pela intervenção direta de monges cluniacenses.
Entre os primeiros contam-se Cuxa (965?), Albelda, Irache, Ripoll, Monserrat,
San Salvador de Leyre, San Juan de la Peña
(1071).
No reino de Leão e Castela, os primeiros a aderirem a Cluny foram os mosteiros de
San Salvador de Oña (1033), San Isidro de Dueñas (Palência, 1073),
San Zoilo en Carrión de los Condes (1076),
Santo Domingo de Silos, Santa María de Nájera (Rioja,1079) e San
Benito de Sahagún (1080), o mais poderoso dos mosteiros castelhanos.
Mosteiro de Tibães (Braga), casa-mãe da Ordem em
Portugal
No Condado de Portucalense (Reino de Portugal), os primeiros
foram os mosteiros de São Martinho de Tibães (Braga, 1077?), São João Baptista
de Alpendurada (1080), São Romão do Neiva (1087), São Tirso de Riba de Ave
(1080-92), Santa Maria do Carvoeiro (1080-1115), São Salvador de Travanca
(1080-1115), São Salvador de Passos de Sousa (c.1090), Santo André de Rendufe
(1090), São Pedro de Rates (1100), São Pedro de Pedroso (1115-1120), Pombeiro e
São Salvador de Vairão (1115/6).
Mosteiro de Pombeiro (Felgueiras)
Poderosa como nenhuma outra ordem religiosa, Cluny no final
do século XI e princípios do XII começa a perder grande parte da sua influência
devido à devassidão dos seus costumes. É neste contexto que irá surgir a
Ordem de Cister que pretende justamente retomar a pureza da Regra de São
Bento.
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