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As grandes religiões sempre constituíram no seu
seio grupos restritos de seguidores, prontos a tudo, inclusive exterminarem
outros seres humanos, para defenderem os princípios da sua religião.
Durante a Idade Média quer o Islamismo quer o
Cristianismo criaram organizações constituídas por fanáticos dispostos a
tudo para defenderem os princípios da sua religião. O acesso a estas
organizações sempre foi muito reservado.
A sua forma de actuação assentava na
infiltração dos seus membros em outras organizações para aí
identificarem, perseguirem e matarem todos aqueles que se afastavam da norma
permitida. Estes "cães de Deus", como os dominicanos a si mesmos se
designavam, farejavam o mal, os hereges e os infiéis.
Há medida que o seu poder crescia estas
organizações passaram a actuar junto do poder, através de conspirações,
denúncias, influenciando secretamente as decisões que eram tomadas.
A Espanha foi sempre um viveiro destas
organizações na Igreja Católica. Foi aqui nasceram duas das organizações
que espelham o lado negro do cristianismo: a Inquisição com Torquemada
(século XV) e a Opus Dei com Josemaría Escrivá (século XX).
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Opus
Dei
O espanhol Josemaría Escrivá,
filho de um falido negociante de tecidos, após uma longa meditação sobre
a forma de obter a santidade através do trabalho, chegou à conclusão que
era possível ir mais longe e reconciliar a procura do lucro, a acumulação
do capital com os mais austeros princípios católicos. Banqueiros, gestores
e patrões católicos, após séculos a serem olhados com desconfiança,
viram-se finalmente abençoados por Deus e pela santa madre Igreja. A sua
obra de acumulação era sagrada. O Catolicismo prometia, neste campo, fazer
melhor do que o judaísmo banindo todos os preconceitos em relação ao
lucro e à usura.
Em plena ditadura militar de
Primo de Rivera (1923-1930), Escrivá teve uma inspiração divina e criou a
Opus Dei (1928).
Durante a ditadura franquista a
sua organização expandiu-se por toda a Espanha, gozando da protecção do
ditador espanhol, desfrutando os seus membros de largo poder no estado,
banca, empresas, nomeadamente nas editoras e empresas de comunicação
social.
Escrivá instala-se, em 1946, no
Vaticano, numa altura em que o papa PIO XII (1939-1958) era acusado de ter
mantido cumplicidades com o Fascismo e o Nazismo, fechando os olhos ao
Holocausto. A Opus Dei, adquire as características de uma organização
secreta, oferecendo ao Vaticano os seus preciosos serviços na gestão
dos seus recursos financeiros. A sua influência aumentará ainda mais
depois dos problemas ocorridos com o Banco Ambrosiano e a insolvência do
Instituto de Obras Religiosas (IOR), instituição financeira da Santa Sé
que mantinha negócios com o banco. A Opus Dei saiu em socorro da IOR
evitando a falência do Vaticano.
Durante a ditadura salazarista,
em 1946, a Opus Dei chega a Portugal, onde não pára de crescer junto dos
católicos pertencentes a círculos de extrema-direita de de tendências iberistas.
Os actuais 1,6 mil membros estão sobretudo ligados à politica, banca,
ensino e comunicação social.
Durante a Guerra Fria
(1949-1989), a Opus Dei expande-se pelo "mundo católico", com um
enorme sucesso junto de católicos que procuram uma orientação espiritual
para enriquecerem, mas que também não abdicam da defesa intransigente dos
valores católicos tradicionais e da defesa da Ordem Pública. Em muitos países,
apoiam ditaduras como a de Augusto Pinochet no Chile, pois as mesmas
constituem a melhor garantia da preservação dos valores cristãos perante
a ameaça comunista.
Opus Dei acabou por ser tornar
no final do século XX, no símbolo do lado negro do cristianismo, onde
imperam as influências obscuras de seitas para espalharem o seu poder nas
sociedades onde estão implantadas.
Carlos Fontes |