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Racismo Como Ameaça
É consensual a seguinte definição técnica de racismo: a representação
de um povo como inferior por razões naturais, independentemente da sua acção
e da sua vontade. Esta representação é feita, naturalmente, por todos aqueles
que se assumem a si próprios como superiores.
A questão essencial não está contudo na definição, mas em encontrar uma
explicação para a ocorrência de manifestações de racismo entre os povos.
Uma das ideias mais divulgadas actualmente é a seguinte: O RACISMO É SEMPRE
UMA REACÇÃO A UMA AMEAÇA. Explicando de outro modo, um povo pode julgar-se
superior a outro, mas tal facto pode não desencadear, por si só, manifestações
de racismo para com o mesmo.
As manifestações de racismo ocorrem, quando um povo ou um grupo
social expressivo, se sente ameaçado por outro, e considera que esta ameaça
pode colocar em causa o seu Poder (privilégios, território, etc) (1), Cultura
(2), Identidade Cultural (3), Religião (4); etc.
Estas manifestações de racismo, dependem obviamente no contexto em que
ocorrem:
a)Na Europa, estão hoje muito ligadas a reacções emocionais contra a ameaça
dos imigrantes e tudo aquilo que eles possam representar. O aumento do seu número
é visto como uma ameaça à Cultura, Identidade Cultural, Poder, etc dos
europeus. Estes temem que um dia possam vir a ser dominados pelos descendentes
de árabes, negros, asiáticos, etc,
b) Em África, está ainda ligada à ameaça que a permanência ou o regresso
dos brancos possa representar um retorno às antigas formas de colonialismo,
escravatura, trabalhos forçados, etc.Muitas países há dezenas de anos
Independentes, continuam a acenar com o fantasma de um hipotético regresso ao
antigo colonialismo dos brancos, etc.
Julgo que neste último caso, a ameaça é claramente mais virtual que real.
A África, sobretudo a subsariana, nesta Era de Globalização, deixou de ser um
local convidativo para um regresso em força das populações brancas, como
aconteceu no passado. A baixa taxa de natalidade dos países desenvolvidos, não
deixa muita mão-de-obra excendentária para a emigração (ex. Portugal). A
real ameaça não está no regresso dos brancos, mas no sistema económico
(capitalista) que os brancos simbolizam e que os países africanos tiveram que
seguir. Acontece é que estes não estão preparados para enfrentarem uma
economia agressiva de tipo capitalista. Falta-lhes praticamente tudo: 1.capital
humano; 2.Estuturas públicas capazes de conduzirem uma política económica
adequada; 3. estruturas empresariais competitivas.
Face a esta desproporção de meios recursos no mundo, na maioria dos países
africanos, o branco (o que ele simboliza) é naturalmente sentido como uma ameaça. As populações
africanas, mal preparadas, são empurradas para um sistema económico assente
numa feroz concorrência à escala global, no qual muitas vezes só conseguem
sobreviver, como pedintes dos países dominados por brancos.
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