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O racismo surge na Cultura Ocidental, ligado a certas
concepções sobre a Natureza Humana que justificaram a discriminação dos
seres humanos, tendo em vista a sua exploração. |
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Até ao fim da Idade Média (século XV), a
discriminação era feita com base em dois tipos de argumentos: os baseados na
cultura e os apoiados na condição social.
Os Gregos apoiaram-se sobretudo o primeiro tipo de argumentos. Sentiam-se
superiores em relação aos outros povos porque se achavam mais cultos.
Durante
o Império Romano e na Idade Média, preponderam as discriminações
baseadas na condição
social. Os nobres na Idade Média, por exemplo, eram reconhecidos como
superiores em relação aos outros grupos sociais, porque
gozavam de certos privilégios que haviam herdado ou lhes fora atribuído por um
Rei. Estes e outros privilégios estabeleciam uma hierarquia entre os seres
humanos, fazendo com que uns fossem reconhecidos como superiores aos
outros.
A Natureza da Escravatura
Hoje está
muito difundida a ligação entre racismo e escravatura, de tal forma que tendemos
a pensar que o racismo acabou por gerar a escravatura, que não
corresponde à verdade. Até ao século XVII, tanto um branco como um
negro podiam ser vendidos como escravos. Na Antiguidade Clássica houve grandes
debates sobre a Escravatura, nomeadamente se
escravos eram-nos por natureza
(tese racista) ou por condição social. No primeiro caso partia-se do
princípio que tinham
uma natureza diferente dos outros seres humanos; no segundo caso, a sua natureza
era idêntica, mas o que mudava era apenas a sua condição social, devido às
causas mais diversas (guerras, dividas, raptos, etc).
Na antiga Grécia, filósofos como Platão e Aristóteles
( séc.IV e III a.c.), procuraram fundamentar a escravatura em aspectos
particulares da natureza humana dos escravos. A sua argumentação racista
que estava contudo longe de ser
aceite. A escravatura era em geral entendida como um acto de violência do mais forte
sobre o mais fraco. Esta
era a concepção que predominou entre os romanos.
Uns, por nascimento, pertenciam
ao grupos dos poderosos, ou se haviam imposto pela força.
Outros, por nascimento ou
pelas circunstâncias haviam-se tornado escravos de outros (pela guerra, por
exemplo).
Apesar desta consciência que a
escravatura se fundava na violência, nem por isso deixava de ser aceite e
defendido.
A Bíblia, o livro de judeus
e cristãos, não a condena a escravatura. Quando ao racismo, as posições são
mais equivocas. O Cristianismo, por exemplo, defendia inicialmente que todos os homens
eram filhos de um mesmo Deus não se distinguindo quando à sua natureza, mas sim
quando à sua condição social.
Maomé, o profeta do Islamismo,
não condenou a escravatura, possuindo e comercializando inclusive escravos. Facto
que tendeu a favorecer a aceitação da escravatura entre os
muçulmanos. Em todo o caso estes não reconhecem distinções raciais, mas apenas
religiosas. Em resumo, podemos dizer que até
ao fim da Idade Média, admitia-se que todos os homens podiam ser
livres ou escravos, não estando esta condição inscrita na sua natureza. A
discriminações eram justificadas por diferenças culturais, e sobretudo por
diferentes condições sociais entre os indivíduos. Até ao século XIX
continua a achar-se NATURAL uns nascessem destinados a trabalhar (pela sua
condição social) e outros a viverem à sua custa. .
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Nascimento
do Racismo
As primeiras concepções
racistas modernas surgem em Espanha, em meados do século XV, em torno da questão
dos judeus e dos muçulmanos. Até então os teólogos católicos
limitavam-se aqui a exigir a conversão ao cristianismo dos crentes destas
religiões para que pudessem ser tolerados. Contudo, rapidamente colocam a
questão da "limpieza de sangre" (limpeza de sangue). Não basta
convertê-los, "limpando-lhes a alma", era necessário limpar-lhes
também o sangue. Só que acabam por chegar à conclusão que este uma vez
infectado por uma destas religiões, permaneceria impuro para sempre. A
religião determina a raça e vice-versa. No século XVI esta concepção é
estendida ao Indíos e Negros. Nenhuma conversão ou cruzamento destas
raças, afirma o espanhol Frei Prudêncio de Sandoval, é capaz de limpar a sua natureza
inferior e impura. A única cura possível, nestes casos, é o extermínio.
Entre Sandoval e Adolfo Hitler existe uma linha de continuidade de ideias e
práticas racistas (J.H.Jerushalmi).
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Ainda
no século XVI, como refere Hannah
Arendet, surgirá na França uma outra concepção racista que será
retomada por outros ideólogos racistas mais recentes. François Hotman
sustenta então que existia na França duas raças diferentes: a dos nobres
e da do povo. A primeira, de origem germânica, era a raça dos fortes e
conquistadores. A segunda, a dos vencidos e antigos escravos. Trata-se de
uma argumentação que procura sustentar em termos rácicos o poder e a
supremacia da nobreza em toda a Europa.
A questão da violência em que
assentava a escravatura, será um dos principais argumentos utilizados
utilizados entre os séculos XVI e XVIII para a condenar.
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| Teorias
Racistas Contemporâneas
As teorias contemporâneas racistas surgem no século XVIII. Os cientistas do tempo
esforçaram-se por identificar e classificar as diferentes raças. Umas são
consideradas inferiores (em especial a raça negra) e apenas uma é assumida
como superior (a raça branca europeia). A escravatura é recusada entre brancos, mas
aceitável para os negros. Montesquieu, na sua célebre obra - O Espírito
das Leis-, tem dificuldade em aceitar que os negros possam ser
considerados seres humanos.
No século XIX, as teorias racistas conhecem um
enorme desenvolvimento.
Superioridade
da raça "ariana"
Em 1854, o diplomata francês Arthur de
Gobineau publicou um livro acerca da "Desigualdade das raças
Humanas", onde defendia que a raça "ariana" era superior a todas
as outras, embora contivesse algumas "impurezas" devido a misturas com
raças inferiores. Em 1899, o germano-inglês H.S.Chamberlain, publica um
livro onde defende que a raça "ariana", conduzida pelos povos
germânicos, haveria de salvar a civilização cristã europeia do seu inimigo,
o "judaismo".
Com base nesta ideia se desenvolverá na
Alemanha, as teorias racistas que
Adolfo Hitler (morto em
1945) será o principal executor e que levaram ao extermínio e a
escravização das raças que considerava "inferiores" (judeus,
árabes, negros, ciganos, etc) e outros seres humanos considerados degenerados
(homossexuais, deficientes,etc).
Darwinismo
Social
A teoria sobre a geração e evolução das espécies de Charles
Darwin, trouxe elementos novos para a fundamentação da desigualdade entre os
homens. Com base nestas ideias originou-se o chamado darwinismo social que
defendia o direito natural dos mais "fortes", governarem os mais
"fracos".
Desde finais do século XIX, baseados em supostas
teorias científicas procurou-se fundamentar a superioridade de uns povos sobre
os demais. As últimas descobertas
sobre o ADN foram concludentes sobre a falsidade deste tipo de argumentos.
Um dos últimos regimes políticos que se baseou nesta
distinção racial foi a África do Sul. O sistema do Apartheid, foi instituído
entre 1948 e 1991, envolvendo a separação entre as diferentes
"raças", no que respeitava à propriedade, residência, casamento,
trabalho, educação, religião e desporto.
Este sistema
tem origem nas práticas segregacionistas dos colonos holandeses seguidas
desde o século XVII nesta região de África. O sistema só terminou
oficialmente em 1994, quando nas eleições multipartidárias de Abril,
Nelson Mandela se tornou no primeiro presidente negro deste país e no chefe
de um governo multirracial.
Racismo e Direitos Humanos
Declaração dos
Direitos do Homem, elaborada no século XVIII, consagra a ideia da igualdade de
todos os seres humanos, independentemente da sua raça, religião,
nacionalidade, idade ou sexo. Diversos países desde então integraram estes
princípios nas suas constituições, mas a verdade é que não tardaram em
adoptar medidas restritivas à sua aplicação. A França, que simbolizou esta
mesma Declaração, não tardou logo em 1804, em decretar a re-introdução da
escravatura nas colónias e ao longo de todo o século XIX em proteger o
tráfico clandestino dos negreiros.
Embora teoricamente todos os
Homens fossem considerados iguais, desta igualdade foram excluídos os negros, os
índios e todos as "raças" consideradas "selvagens", "incivilizadas",
"primitivas", etc.
A razão que apresentavam
era a seguinte: Estes possuíam hábitos de vida e uma cultura que os
impossibilitava assumirem plenamente a condição de Homens (Cidadãos). Daí
que nas respectivas colónias a população fosse hierarquizada em função da
sua aproximação ao ideal de Homem (Cidadão) acima definido. O
melhor exemplo desta situação é dado pelo EUA: apenas nos anos 60 do século
XX, acabaram em todos os seus Estados as excepções legais à igualdade de direitos de entre
negros e brancos, o que não impediu que as desigualdades de tratamento tivessem
continuado. Carlos Fontes |
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